AS PRAIAS DESERTAS – Coqueirais e canaviais. Essa é a paisagem que se vislumbra nas redondezas do município de Ipojuca, no caminho que leva a paradisíaca praia de Porto de Galinhas. São incríveis as praias do estreito litoral pernambucano. Porto de Galinhas é uma das mais belas, mas é difícil determinar qual de todas é a mais incrível. Porto de Galinhas é um lugar mais jet-set, já que é voltada para o turismo internacional, com seus resorts cinco estrelas e suas mansões cinematográficas debruçadas sobre um mar encantador. Junto a Porto de Galinhas tem as não menos belas Praia dos Carneiros e Praia do Cupe, de um lado. Do outro lado a deslumbrante beleza do Pontal de Maracaípe, onde o pôr-do-sol é um acontecimento especial a cada dia.
Bem ao lado de Porto de Galinhas tem uma praia chamada Serrambi, que pertence a um povoado de mesmo nome. Ao contrário da Vila de Porto, que é um lugar bonito, bem produzido, com restaurantes chiques e lojas sofisticadas, o povoado de Serrambi é um lugar simples, um vilarejo mesmo, uma vila de pescadores e operários esquecida pelo turismo internacional. E é isso que torna o lugar particularmente charmoso. Há algo de selvagem e bruto nas praias da região.
Bem depois de Serrambi tem uma praia que é um pedaço do paraíso na terra: Tamandaré. Para ir até lá, saindo de Serrambi, é preciso pegar a estrada margeada por imensos canaviais. Depois, ao dobrar no caminho que vai direto a Tamandaré, a estrada fica ainda mais bonita, já que atravessa um trecho de mata atlântica nativa. As árvores frondosas se encontram lá no alto e formam um túnel de vegetação que vai desembocar numa praia misteriosa, elegante e sensual. “No carnaval isso aqui pega fogo”, me disse um nativo quanto comentei sobre o astral calmo do lugar.
Foram dias muito felizes. Num momento eu estava nadando nas águas mornas de Tamandaré, desfrutando os prazeres hedonistas daquela praia misteriosa. Noutro instante eu andava de jangada no Pontal de Maracaípe, chocado com o sol mergulhando no horizonte no final da tarde. “Esse aqui é o pôr-do-sol mais bonito do mundo”, me disse o jangadeiro, quando notou minha expressão de perplexidade. É muito bom caminhar solitário na praia deserta, numa noite estrelada, com uma lua expressiva iluminando o mar, escutando apenas a música das ondas fazendo eco ao som dos coqueirais reagindo leso à brisa do mar. Melhor que isso só se, das sombras dos coqueirais, aparecesse um bofe inesquecível disposto a vivenciar uma noite de amor. Como eu sempre tive muita sorte na vida (obrigado meu Deus!), foi isso mesmo que aconteceu. Numa dessas noites mágicas no litoral de Pernambuco um bofe inesquecível surgiu das sombras dos coqueirais e tornou aquela uma das noites mais felizes da minha vida. Seus olhos esverdeados refletiam de um modo envolvente a luz da lua. E seu semblante exalava bondade pureza. E havia também o charme irresistível no sotaque pernambucano do rapaz magro e depilado. Mais tarde, quando a gente tava se divertindo de um modo mais íntimo, eu me lembro de seu sotaque carregado me dizendo: “Faz assim que tá gostoso que só a porra!”.
“...que só a porra”, é uma expressão que faz parte do linguajar pernambucano. É um modo de falar muito usado. Diz-se assim, por exemplo: Essa cerveja está gelada que só a porra! Hoje o dia está quente que só a porra! A mulher melancia é gostosa que só a porra. “Que só a porra”, significa muito, bastante, demasiado.
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A lembrança dessa noite sob o luar de Porto de Galinhas vai sempre ficar na minha memória. Mas, o litoral de Pernambuco é tão cheio de surpresas que logo depois uma nova praia ia me deixar estupefato. Agora estou falando da Enseada dos Golfinhos, uma miragem em forma de paisagem, que fica na Ilha de Itamaracá. Minha temporada naquele lugar foram dias de muita felicidade. Minha irmã tem uma casa de veraneio na Ilha, na Praia do Jaguaribe, bem perto da Ciranda de Lia de Itamaracá. Para ir até a Enseada dos Golfinhos eu atravessa de barco o encontro do rio com o oceano. Ali eu desembarcava direto numa praia que tinha o singelo nome de Praia do Sossego. Então eu atravessava toda a Praia do Sossego e ficava mergulhando nas águas mágicas da Enseada dos Golfinhos. Depois, no final da tarde, eu ia ver o pôr do sol no pontal, tomando cerveja na barraca da Marilene e degustando fartas dose de caldo de sururu, caldo de ostras e outras iguarias da culinária nordestina. Caldeirada de frutos do mar, macaxeira com carne de xarque, agulha frita, sarapatel... A vida é bela!
As praias desertas (Tom Jobim)
As praias desertas continuam
Esperando por nós dois
A este encontro eu não devo faltar
O mar que brinca na areia
Está sempre a chamar
Agora eu sei que não posso faltar
O vento que venta lá fora
O mato onde não vai ninguém
Tudo me diz
Não podes mais fingir
Porque tudo na vida há de ser sempre assim
Se eu gosto de você
E você gosta de mim
As praias desertas continuam
Esperando por nós dois