11.12.02




Christ at the column, de Antonello de Messina (Para Tati Motta)

Hoje fui à missa na Igreja da Ressurreição, no Arpoador. Na entrada da Igreja fizeram um presépio enorme, cenográfico, representando a manjedoura onde Jesus Cristo nasceu. Eu fiquei um tempo lá, olhando a bonita instalação. Adoro essa época do ano, quando a cidade adquire uma inspiração natalina. O clima de festa se espalha por todos os lugares. Tudo é motivo para confraternização.


Durante o sermão o padre falou sobre a figura da ovelha negra. Disse que em todos os grupos havia uma ovelha negra. E mandou-nos refletir porque a tal ovelha negra era sempre tão rejeitada pelo grupo, quando na verdade os princípios cristãos preconizam que a ovelha negra deve ser perdoada. Ele pregava, através de uma parábola, que era de responsabilidade do grupo a recuperação dos desgarrados.


Adoro os rituais da igreja católica. E toda a literatura a respeito das parábolas bíblicas. Desde criança sempre gostei de ir à missa. Foi muito legal a época em que estudei em colégio de padre. Eles foram muito bacanas comigo, apesar de eu ter sido um aluno por demais irrequieto e rebelde. E uma coisa que me marcou muito é que, foram os padres do colégio, através de suas palavras e sermãos, que me abriram a cabeça para assuntos ligados a política. Foram os padres que me disseram que havia uma ditadura no Brasil.


Certa vez, eu era garoto, o padre-diretor chegou na minha sala e num jeito diferente, excessivamente formal, disse que naquele dia a aula seria substituída por uma palestra de um padre que tinha vindo de fora. Havia um clima diferente no ar. Eu não lembro o nome do padre, só me lembro que era um dos homens mais bonitos que eu tinha visto até então. Por conta disso, eu prestei muita atenção no que ele falava. E o homem lindo dizia que nós devíamos ser mais atentos com o mundo a nossa volta. Que as coisas não eram exatamente o que pareciam ser. Falou de ditadura. E da necessidade de encontrarmos a verdadeira democracia.


Eu fiquei todo o tempo ligado no discurso daquele homem tão belo. Falando coisas significativas, que eram tão novas para mim. Da pureza dos meus onze anos eu o olhava embevecido, encantado com a sua figura mágica e viril. Só anos depois é que eu saquei que aquele padre era do movimento de esquerda e que tinha ido ali fazer a cabeça daqueles jovens com relação à ditadura militar. E quando eu descobri isso, que ele era o que os militares chamariam de “terrorista”, eu o amei mais ainda. E ainda hoje, tantos anos depois, quando fecho os olhos e me concentro, posso ver sua imagem de bofe gostoso tentando me vender idéias de revolução. LIFE IS BEAUTIFUL!

Madonna vem aí...

 

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