BROADWAY DANNY ROSE * Acabei de ler, com grande prazer, os originais do livro do empresário Paulinho Lima. Ainda sem título, o livro é uma autobiografia deste, que é um dos mais bem sucedidos empresários brasileiros da área do show business. Paulinho Lima foi produtor de shows e discos de Gal Costa nos anos 70. Foi empresário de Ângela Ro Ro e Zizi Possi, naquela época em que elas eram namoradas. Ele apartou muitas brigas das duas. Paulinho produziu shows de Moraes Moreira e Nana Caymmi. Foi empresário de Lulu Santos, Leo Jaime, Kid Abelha e Ritchie, naquela fase áurea de Menina Veneno. Ou seja, o que não falta ao Paulinho Lima são estórias para contar.
No seu livro Paulinho conta sua infância em Itabuna, interior da Bahia, nos anos 50. Num estilo que lembra José Lins do Rego, o empresário narra sua vida de menino numa época em que o cacau tornava milionários os fazendeiros da região. Suas descrições da vida rural são comoventes. Ele lembra lugares, fatos e pessoas com muita ternura. Em seguida conta a adolescência em Salvador onde conviveu com gente como Glauber Rocha, Luis Carlos Maciel, Gal Costa e Calcida Becker, já que estudava na famosa Escola de Teatro da Bahia. Depois tem a mudança para o Rio de Janeiro, no final dos anos 60, junto com os artistas baianos. No livro Paulinho nos mostra uma visão terna e bem humorada dos bastidores da MPB numa época de muita efervescência. O livro tem tudo para fazer o mesmo sucesso de Chega de Saudade, o livro de Ruy Castro sobre Bossa Nova. Só que o livro do Paulinho mostra o ponto de vista de quem viu e viveu aquelas histórias.
TRECHOS DO LIVRO
Quando a companhia da atriz Cacilda Becker passou pela Bahia em 59, a caminho de Portugal, Glauber Rocha dirigia o segundo caderno do Diário de Noticias. Sabendo que tinha me metido nos bastidores do cine Guarani e já era conhecido de todo o elenco me encarregou de fazer uma entrevista com ela. Cacilda tinha propagado que não daria entrevistas. Por outro lado, quando Glauber me deu tal encargo amarelei e lhe disse que não era jornalista e que não sabia o que perguntar a grande Cacilda, que ele é que deveria fazer a matéria. Com aquele seu ar de tédio, enfado, me disse que não tinha saco para aturar estrelas e que em poucas palavras ia me dar uma aula completa de jornalismo.
Sempre tivera atração por outros meninos, mas o pavor de ser considerado veado me bloqueava. Por outro lado tinha o discurso repressor de Glauber Rocha, que vivia me alertando que eu estava andando demais com bichas e que meu nome já estava na praça. Também tinha medo que minha família tomasse conhecimento. Quando tinha uns dez anos mamãe resolveu me levar a um médico em Itabuna, cansada de ouvir de parentes e amigas que eu era muito delicado, sensível, criado com vó, como se dizia. E principalmente, tinha pouco interesse em brincadeiras mais masculinas, como futebol. Fui levado para ser examinado pelo Dr. Seixas, um homem muito bonito, achavam-no a cara de Clark Gable...
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