DESTINO INSÓLITO, o filme de Guy Ritchie, estrelado por Madonna, é uma deliciosa viagem ao cinema europeu dos anos setenta. A narrativa. As locações. O ritmo. As referências. Tudo nos remete a Dino Risi, Antonioni, Brigite Bardot, O sol por testemunha e Candelabro Italiano. A própria escolha do tema, um remake de um antigo filme de Lina Wertmuller, dá a dica sobre os anseios cinematográficos do diretor. Ao refazer o filme italiano Guy Ritchie não se preocupou em atualizar a história. Ao contrário, ele tratou de viajar com seus atores para o universo cinematográfico que pretendia retratar. O resultado é sensacional.
Madonna interpreta uma dondoca mimada e temperamental que, durante as férias, vai fazer junto com o marido e amigos um cruzeiro pelo mar mediterrâneo. Na viagem ela conhece Pepe, um marinheiro italiano simplório e comunista. Durante a viagem ela o maltrata o tempo inteiro, pois não suporta as maneiras rudes do rapaz. Um conflito se instala entre os dois. Em seguida, depois de um acidente, o casal vai parar numa ilha deserta.
Na ilha deserta o marinheiro decide se vingar da granfina e resolve maltratá-la na mesma moeda. Deixa-a faminta e a submete a várias humilhações. Quando a mulher reage o italiano bate nela. Aliás, Madonna apanha muito nesse filme. O casal fica um mês numa ilha árida, comendo apenas os peixes que o homem captura no mar. Aos poucos a dondoca fresca vai se apaixonando por aquele homem rude, que a xinga o dia inteiro. Ao mesmo tempo a brutalidade dele vai se transformado numa descontrolada paixão. Quando finalmente o casal é resgatado o amor que os une será posto à prova pelo mundo que os espera muito além daquela ilha.
Madonna está ótima num personagem que é quase uma caricatura dela mesma. Seu ar entediado durante o cruzeiro é impagável. Assim como os climas entre ela e o ator Adriano Giannini. As brigas entre os dois são incríveis, principalmente por causa dos tabefes que ele dá nela. Numa seqüência sensacional, que retrata uma alucinação do marinheiro, Madonna aparece dançando em frente a uma orquestra, dublando uma musica cantada por outra cantora. Ela está gloriosa nesse momento.
Guy Ritchie se revelou um diretor muito inteligente com esse filme. Ele foi beber na fonte mais sagrada da cinematografia internacional. Os neo-realistas do inicio dos 70. Só isso já é uma razão mais do que justa para prestar atenção no seu filme. As citações a esse universo aparecem em toda parte, inclusive na escolha do ator principal, filho de Giancarlo Giannini, um ator-símbolo daquela época. Antes de tudo, Guy e Madonna, revelam ter cultura cinematográfica, ao escolherem realizar esse projeto. Infelizmente o filme não fez uma grande carreira no cinema. Mas tem tudo para emplacar em DVD.
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