19.9.03

NOS EMBALOS DE COPACABANA – A Copa Arnaldo César Coelho de Futebol de Praia, que mobilizou as areias de Copacabana, desde junho, teve a sua grande final sábado, realizada entre dois times da pesada: Copacabana versus Embalo. São dois times tradicionais desse tipo de esporte. Verdadeiros ícones do futebol carioca. A vitória do Embalo, na decisão por pênaltis, não traduziu a verdade da partida, onde o Copacabana teve uma melhor atuação.


O Copacabana é originário da rua Duvivier, de onde surgiram jogadores como Batata, Marcio e Denílson. Mas, o núcleo do time que jogou o campeonato é formado pelas estrelas do tradicional Lá Vai Bola, equipe do Posto Seis, que se absteve de participar do torneio, preferindo se unir ao Copacabana. O resultado é que o time se tornou imbatível e chegou à final como grande favorito.


A idade média dos jogadores do Copacabana é trinta e cinco anos. Ou seja, é um time de veteranos. Homens que jogam na praia desde criança. Alguns afirmam ter trinta anos de praia. Jorge Costa, também conhecido como Jorge Zen, vice-presidente da FEPERJ, federação que organiza o torneio, acredita que não está havendo renovação no futebol de praia, por isso os jogadores do Copacabana de hoje são os mesmos de quinze ou vinte anos atrás. Batata, Denílson, Binho, PC, Fabiola, Marcio, Júlio, Jamaica, Rogério e André, que é considerado pelos jogadores como uma “lenda viva do futebol de praia.”


Os jogadores contestam. Acreditam sim que existe renovação e citam, como exemplo, Bernardo, do Copagalo, além de Iury e Miguel, atletas do Força & Saúde, time derrotado pelo Copacabana na disputa pela vaga na final. Para André, do Copacabana, o fato de mais uma vez o time veterano estar na final, significa apenas que eles são de uma geração de campeões, predestinada a fazer história nas areias da praia. O jogador Paulo César, o PC, aponta o adversário, Embalo, como um exemplo de renovação no futebol de praia. O time é originário do Morro do Leme e é formado por rapazes cuja idade média é vinte anos.


Iury, do Força & Saúde, um dos nomes mais talentosos da nova geração lembra com nostalgia da infância. “Quando eu era criança ia para o Maracanã com André. Nos dias de jogo eu chegava no posto seis com a camisa do fluminense ele então me pegava pela mão e me levava ao estádio. Eu ia amarradão porque sabia que ali estava entre amigos.” No último torneio de futebol de praia Iury e André se desentenderam em campo e quase saem na porrada. Mas o estresse ficou apenas na areia. “O André é um ídolo para mim. Sempre admirei o futebol dele. Nunca esqueci que quando eu era pequeno ele me levava para o Maracanã.” O veterano André, a lenda viva, também joga confete. “Conheço o Iury desde pequeno. Esse garoto poderia ser meu filho”.


A LENDA VIVA – André, a lenda viva do futebol de praia, é um personagem do Posto Seis. Sua identificação com o futebol é visceral. Torcedor do Fluminense, ele sabe tudo sobre o seu time. Coleciona revistas de futebol e, certa vez, quando garoto, invadiu o gramado do Maracanã para dar porrada num juiz, que estava apitando o jogo contra o seu time. Até hoje ele guarda o caderno esportivo que publicou sua foto, correndo atrás do juiz.


Sua paixão pelo futebol fez dele um grande conhecedor do esporte. Ele sabe tudo. O nome de todos os estádios do Brasil. Quais os times que disputaram as finais dos campeonatos estaduais de qualquer ano. A escalação da seleção brasileira em qualquer disputa. Também é um profundo conhecedor dos bastidores do futebol brasileiro. Muito antes de estourar o escândalo envolvendo o então técnico da seleção Wanderley Luxemburgo, ele já comentava sobre aquela lama com seus parceiros da praia.


Seu temperamento alegre e cheio de energia faz dele um sujeito muito popular no posto seis e nas rodas de boêmia de Copacabana. Pois André, antes de mais nada, é um boêmio. Ele poderia ter se tornado um grande jogador profissional. Mas a vida boêmia e a paixão pela bebida, pelas drogas e pelas mulheres impediram que ele tivesse disciplina suficiente para fazer carreira no futebol profissional.


André é dependente químico. Mas isso nunca foi problema para ele. O cara convive bem com a sua dependência química. Aliás, ele gosta de ser dependente químico. Consumir drogas é algo absolutamente natural para ele. Não que isso nunca tenha lhe causado problemas. Pelo contrário. Consumir drogas ilegais sempre é um mergulho no escuro, mas no seu caso, ele sempre conseguiu submergir do inferno, sem ter que abrir mão do seu infinito prazer em consumir drogas.


Durante o torneio do ano passado, havia sido decretado o fim do André. Todo mundo na praia acreditava que a lenda viva tinha acabado para o futebol de praia. Ele estava com o joelho machucado e por isso ficou sem poder fazer exercícios físicos. Perdeu a forma física e engordou. Ficou balofo. Por isso jogou o campeonato na posição de goleiro. Mesmo assim, foi o melhor goleiro do campeonato e o seu time, Lá Vai Bola, acabou como vice-campeão.


Além de decadência física, André teve sérios problemas pessoais no ano passado. Perdeu um ótimo emprego numa empresa de informática, por causa de dívidas contraídas com traficantes. Ao mesmo tempo entrou em cana durante uma batida policial, pois estava portando drogas. Teve que responder processo. Os amigos começaram a se afastar dele, pois ficaram indignados com os rumos que ele estava dando a sua própria vida. Todo mundo no Posto Seis começou a apostar que o final do André seria trágico.


Deus escreve certo por linhas tortas, como diz um ditado popular. Quando parecia que André estava num beco sem saída, a vida lhe deu mais uma oportunidade. Em dezembro do ano passado André recebeu uma herança que, apesar de não ser milionária, vai deixa-lo bem pelo resto da vida. João Molina, um coroa super gente boa, muito querido nas rodas de boêmia do posto seis morreu num acidente. Ele escorregou ao descer de um táxi e bateu com a cabeça no meio fio. Pois João Molina deixou André como beneficiário da sua herança.


André sempre foi um rapaz bonito. Alto, de gestos másculos, olhos verdes e umas pernas que, na fase áurea, foram as mais belas de Copacabana. Com esse físico e com o seu temperamento simpático e gentil, André vivia provocando paixões. Nos bastidores do futebol de praia sempre se comentou que ele tinha um caso com João Molina. Mas ninguém nunca teve certeza. Apenas se comentava o assunto como fofoca. Afinal, André era um típico machão carioca, craque no futebol e comedor de mulheres. Há dois meses atrás nasceu seu primeiro filho, fruto de sua relação com Camila uma moça de vinte e um anos. É um garoto bonito que o pai fez questão de batizar com o nome daquele que o protegeu: João.


A herança provocou uma reviravolta na vida de André. Mudou para um apartamento maior, onde mora com a mãe. Cuidou do joelho. Voltou a malhar, permitindo que o seu físico voltasse à sua fase áurea. E ressurgiu no atual campeonato como o velho André dos bons tempos. Belo e talentoso, mostrando na areia toda a sua arte, seu talento e sua paixão pelo futebol. A final da Copa Arnaldo César Coelho de futebol de praia foi, acima de tudo, a celebração de um ídolo da areia. Um mito da praia de Copacabana. Uma personalidade que, mais do que nunca, merece ser visto e reconhecido como a lenda viva do futebol de Copacabana.

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