CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO RISCO-BRASIL - Essa semana o programa Espaço Aberto da Miriam Leitão, na Globonews, apresentou um especial sobre a questão do risco na economia, a partir dos critérios do índice de avaliação econômica conhecido como RISCO-BRASIL. Admiro muito Miriam Leitão. Acho-a uma jornalista séria e competente. Sempre que posso assisto o seu programa, pois a considero a nossa mais importante jornalista de economia. Mas peço licença para fazer uma crítica a postura do jornalismo econômico que celebra o RISCO-BRASIL como um importante critério de avaliação de nossa economia.
O RISCO-BRASIL é um índice criado pelo banco J P Morgan, para avaliar a situação econômica dos países do terceiro mundo, de acordo com os interesses dos especuladores do mercado financeiro, que eles chamam de investidores. Ora, pois. Pela sua própria natureza, pelo seu próprio princípio, o RISCO-BRASIL é um índice que vai de encontro aos interesses da nação. É um critério de avaliação econômica perverso, que ofende os princípios culturais, sociais e econômicos daquilo que ousamos chamar de Brasil.
É inadmissível, portanto, que os analistas da economia brasileira fiquem citando o RISCO-BRASIL, sem nenhum senso crítico. O noticiário econômico enche a boca para falar do RISCO-BRASIL, como se esse critério de avaliação representasse algum tipo de espelho da economia do país. O RISCO-BRASIL não tem nada a ver com a realidade econômica brasileira. Não tem nada a ver com a produção industrial. Não tem nada a ver com o comércio. Não tem nada a ver com a força de trabalho. O RISCO-BRASIL é um índice que só diz respeito aos especuladores da economia. Aos jogadores de pôquer do mercado financeiro internacional. Aos aventureiros sem pátria que olham os países do terceiro mundo como se fossem prostitutas de cem reais.
Assim, quando eu vejo Miriam Leitão tomando o RISCO-BRASIL como referência para suas análises econômicas eu me pergunto: De que lado ela está? Do lado do Brasil é que não é. Fico com a desconfortável sensação de que a nobre jornalista está ali para defender os interesses dos especuladores. Dos aventureiros do mercado financeiro. É bizarro assistir a imprensa brasileira fazendo o jogo do neoliberalismo de algibeira, deslumbrada com o noticiário econômico do Wall Street Journal e do Financial Times, tentando copiar as análises daqueles para quem, a economia brasileira, é apenas uma aventura financeira.
E não é só o noticiário econômico que se curvou, definitivamente ao RISCO-BRASIL. Algumas das maiores autoridades da política brasileira também costumam citar o RISCO-BRASIL quando fazem análises sobre a economia do país. Recentemente, o Ministro da Fazenda Antonio Palocci apareceu na TV, num programa em rede nacional, para tentar promover o sucesso do seu programa econômico. No seu patético discurso o ministro falou diversas vezes que o RISCO-BRASIL tinha caído, como se isso fosse uma prova da sua competência como gestor da economia brasileira. O RISCO-BRASIL caiu porque o governo Lula é um lulu da especulação financeira internacional. Aliás, o Presidente Lula é outro que adora falar sobre a queda do RISCO-BRASIL no seu governo. O operário padrão adora brincar de executivo de Wall Street e fazer análises econômicas bizarras onde ele sempre encontra espaço para dizer que o RISCO-BRASIL caiu e por isso o seu programa econômico é um sucesso.
Pelos cargos que exercem, o Presidente Lula e o Ministro Palocci não deviam jamais permitir que a palavra RISCO pudesse estar associada à palavra BRASIL. Mas eles não têm a menor consciência disso. Vendo-os na TV, defendendo seu programa econômico com o argumento de que o RISCO-BRASIL caiu, eu me pergunto: De que lado eles estão? Do lado do Brasil é que não é. A sensação que tenho é que Lula e Palocci não têm a menor idéia da responsabilidade que têm na mão. O presidente e o ministro estão empurrando o Brasil com a barriga, fazendo coro ao governo FHC que permitiu que jogadores de pôquer tomassem de assalto a economia brasileira. Bizarro, bizarro, bizarro...
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