SONATA DE INVERNO – Chove sobre o Rio. E tudo parece tão triste visto a partir de um sábado chuvoso. Sopra um vento frio. O horizonte é cinza no céu de Ipanema. O mar revolto parece açoitar a água da chuva. Parece que Ipanema chora e soluça de tristeza e desgosto. E eu sei porque chora Ipanema.
Quarta-feira uma moça foi atacada na praia, perto do posto oito. Em frente ao Barril 1800. No Castelinho, um dos pontos mais tradicionais de Ipanema. Ao mergulhar na praia, a mulher foi agarrada por um homem. Ao reagir à tentativa de estupro foi esfaqueada pelo maníaco. Foi salva por um turista, que pediu ajuda aos salva-vidas. Ela está no hospital, em estado de choque, cuidando dos ferimentos. O criminoso foi preso.
O Castelinho é um templo da cultura de praia do Rio de Janeiro. Desde os anos sessenta é um reduto da juventude dourada da zona sul. Point de algumas das mais belas garotas de Ipanema. Olhando a chuva caindo eu imagino o perigo a que ficaram expostas todas aquelas meninas que enchem de beleza e graça a praia do Castelinho. Algumas delas eu vi crescer e desabrochar para a vida.
Inverno. Dias e dias de céu nublado. Saudade da vida na praia, viajando sob o sol, que parece ter esquecido de mim.
Lá fora uma guerra civil. Rebeliões em presídios. Tiroteios nas favelas. Garotos pobres fazendo gestos obscenos para a polícia. Os bandidos fazem greves como se fossem funcionários públicos. Reivindicam o direito de matar e roubar, como qualquer presidente dos EUA. Querem fazer ouvir a opinião deles, mas não sabem como. E eu sei o que eles estão querendo dizer. Os bandidos dizem que não são muito diferentes da quadrilha que se instalou na Casa Branca. Se o presidente americano pode, eles também podem. E por isso querem um tratamento vip por parte da sociedade.
Enquanto isso, no Vaticano, o Papa recebe George W. Bush, que teve a cara de pau de presentear o líder da igreja católica, com uma porra qualquer do Congresso. O Papa deveria ter se recusado a falar com o anti-Cristo, que depois foi se encontrar com o fascista Silvio Berluscone, grande colaborador da máfia americana, na invasão do Iraque. Bush insiste na lenga-lenga da guerra ao terrorismo, mas o sujeito não engana mais ninguém. Todo mundo já sabe que o maior terrorista do planeta terra é o presidente dos EUA.
Quem salva o mundo, como sempre, é Madonna, com sua música e alegria. André Ramos e Bruno Chateaubriand mandam noticias de Las Vegas, onde foram assistir ao Re-Invention-Tour. Os meninos viajaram apenas para assistir aos shows da garota material. Embaixo de minhas cobertas eu revejo Drowned World Tour, o DVD do sensacional show de 2001. E a conclusão que chego é a mesma de sempre. Ela sabe tudo sobre o mundo dos espetáculos.
Seu grande momento como cantora é quando canta Gone, apenas com a banda. Mas, o resto do espetáculo é todo acompanhado de efeitos especiais e números de dança com um afiado grupo de bailarinos. A música Paradise é outro grande momento, quando surgem quatro bailarinos pendurados de cabeça para baixo, enquanto um telão exibe um vídeo com elementos da cultura japonesa. Então Madonna surge, vestida de gueixa, para cantar Frozen. É um dos trechos mais bonitos do show, com uma coreografia que imita golpes de artes marciais. Em seguida, durante a música Sky Fits Heaven, a coreografia é toda inspirada nas cenas de luta do filme O Tigre e o Dragão, com os bailarinos flutuando no ar. É muito bacana.
Mas isso não é tudo. A versão acústica de La Isla Bonita, que ela canta logo após Lo Que Siente La Mujer, é simplesmente mágica. Ela entra em cena tocando um violão, enquanto músicos e bailarinos “improvisam” uma percussão e um bailado de dança flamenca. É o máximo. No The Girlie Show, que eu tive a oportunidade de assistir no Maracanã, La Isla Bonita também era o melhor número do espetáculo. Mas, daquela vez, foi completamente diferente. Um estilo mais Broadway, com uma coreografia maravilhosa e a banda arrebentando nos metais e na percussão.
Ao telefone, falo com minha amiga Rita Lima, a locomotiva baiana que acabou de chegar da Austrália, onde vive com o marido inglês, para visitar a família em Itabuna. Ela veio matar as saudades da família, principalmente da mãe, dona Marília e dar uma olhada na sua imensa plantação de cacau. Falando ao telefone eu imaginava seus belos olhos verdes muito vivos e seus cabelos louros sendo jogados para trás, no melhor estilo perua.
Adoro Ritinha. Ela me contou que está super feliz com o marido, David, um empresário inglês que conheceu há dez anos, numa viagem à Espanha. Disse que está adorando o lugar em que vive, uma praia perto de Sidney. Você tem que ir me visitar na Austrália. Lá tem cada bofe.... Ela me dizia dando uma gargalhada. Uma gargalhada gostosa, que é uma marca da sua personalidade. Uma gargalhada que deve ser parecida com a risada de Irene. (Lembra da canção: Eu quero ir minha gente, eu não sou daqui, eu não tenho nada, quero ver Irene dar sua risada... )
A última vez que nos vimos foi uma noite muito feliz. Ela e David estavam dando uma volta ao mundo de barco e ficaram alguns dias no Brasil, curtindo o Litoral. Búzios, Cabo Frio, Angra e Parati. Quando estiveram no Rio ela me ligou e ficamos uma noite inteira bebendo champanhe, dando gargalhadas e admirando a vista da cidade, do alto da suite do Copacabana Palace.
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