22.7.04

UM LIVRO INESQUECÍVEL - A Record está lançando uma nova edição do livro Pedro Páramo , de Juan Rulfo. Passado o tempo, Rulfo continua sendo uma das poucas, quase únicas, unanimidades na literatura da América latina: é um dos autores mais estudados e reverenciados, um dos menos imitados. Rulfo é uma espécie de ícone para escritores de linhas, tendências, épocas e estilos completamente diferentes, como Carlos Fuentes e Gabriel García Márquez. São poucos os autores que, como ele, dividiram o cenário das letras em um antes e um depois. Foi dono de técnicas de escrita especialmente audazes e modernas em seu tempo, e com elas tornou universal uma realidade local. Escreveu e revelou o mundo de seus fantasmas e esperanças, e, assim, nos revelou o mundo de todos nós.


Seus contos esparsos, publicados em revistas e suplementos a partir de 1945, chamaram a atenção em alguns círculos literários. Ao reuni-los em um único volume, CÉU EM CHAMAS, seu prestígio aumentou bastante. Passou a ser considerado um novo expoente da literatura regionalista mexicana, mas essa visão durou quase que nada. Ficou claro que seus contos rompiam qualquer classificação, negavam-se a ser reduzidos a rótulos. A linguagem de seus personagens é sempre a mais próxima possível da fala do campo. O cenário é descrito com exatidão: nada sobra, nada falta. Há sempre expressões populares, porque o narrador é sempre, ou quase, um homem do campo.


Em 1953, passou a escrever um romance cujo o título inicial era Los murmullos. Seria publicado em 1955 com outro título: PEDRO PÁRAMO . O livro move-se entre diferentes tempos, em distintos planos narrativos, e em suas páginas rompem-se todas as fronteiras entre vivos e mortos. Há vários livros dentro desse romance conciso e contido. Uma história de amor desmesurado, desesperado e belo; também uma história da injustiça; outra, de vingança; e mais um painel depurado e amargo da realidade social nos campos do México de uma época imprecisa e, por isso mesmo, permanente; e também a história de um filho à procura do pai; e a de um povoado habitado por mortos e fantasmas.


Juan Rulfo (1917-1986) nasceu em Sayula, no estado de Jalisco, no México. Seu nome completo era Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcaíno. Estabelecido na Cidade do México, começou a publicar seus contos em revistas a partir de 1945. Deixou também um legado como fotógrafo, tendo publicado o livro de fotografias, Inframundo, em 1981. Recebeu o prêmio nacional de Literatura do México em 1970 e o Prêmio Príncipe Astúrias na Espanha em 1983. Grandes nomes da literatura latino-americana são agraciados com Prêmio Juan Rulfo, criado em 1991.




A seguir, trecho de Pedro Páramo. Quem quiser ler o livro no original é só clicar AQUI!

Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo. Minha mãe me disse. E eu prometi que viria vê-lo assim que ela morresse. Apertei suas mãos em sinal de que faria isso; pois ela estava morrendo, e eu decidido a prometer tudo. “Não deixe de ir visitá-lo”, recomendou ela. “O nome dele é assim e assado. Tenho certeza que ele vai gostar de conhecer você.” Então não tive outro jeito a não ser dizer a ela que faria isso, e de tanto dizer continuei dizendo mesmo depois que minhas mãos tiveram trabalho para se safarem de suas mãos mortas.

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