CINEMA É MELHOR DIVERSÃO - Um prazer diferente assistir ao dvd do filme O Leopardo, de Luchino Visconti. Um tipo de filme duma época em que o cinema era essencialmente uma forma de manifestação artística. Há algo de erudito e operístico em cada cena, em cada diálogo, em cada movimento. O requinte e a sofisticação brota de cada sequência. E o requinte não é apenas visual. É, principalmente, intelectual. Depois das três horas e meia de filme, o espectador fica com a sensação de ter lido uma enciclopédia inteira sobre as contradições da condição humana. O Leopardo é uma adaptação do único romance do pensador italiano Tomaso di Lampedusa, que narra os últimos dias de vida do aristocrata Fabrizio Salina, um príncipe que recusa-se a ver a decadência de sua classe, anunciada pelas convulções sociais em pleno século 19, lideradas por Garibaldi, numa Sicília dominada por clãs familiares, que acabam levando a Italia à unificação.
O livro foi publicado em 1958 (o filme é de 1963) e tornou-se celebre por causa da filosofia política do seu protagonista que defendia a tese de que Tudo deve mudar para que as coisas continuem do mesmo jeito. Esse pensamento político vem refletindo a história de várias nações ao longo dos anos. Inclusive do Brasil onde essa máxima nunca esteve tão presente. Tudo deve mudar para que as coisas continuem do mesmo jeito, parece ser o princípio político que norteia o governo do PT, assim como aconteceu com o governo FHC. E O Leopardo, independente de sua extraordinária beleza é também uma obra que nos leva a reflexão.
Luchino Visconti é um aristocrata do cinema. Seus filmes se caracterizam por um refinamento estético e intelectual. Quem já teve a oportunidade de assistir clássicos como Morte em Veneza, O Inocente, Os Deuses Malditos e Rocco e Seus Irmãos sabe muito bem disso. E as principais caracteristicas de Visconti se revelam com toda a força em O Leopardo. Exímio diretor de atores, ele consegue performances consagradoras em sua obra-prima. Burt Lancaster está fantástico como o príncipe Fabrizio. Claudia Cardinali encanta com seu carisma e delicadeza. E Alain Delon ilumina a tela com sua beleza perturbadora. Vale destacar ainda a participação de Pierre Clementi, ainda adolescente, que interpreta um pequeno papel como um dos filhos do protagonista. Seis anos depois ele iria ser o astro de Teorema, do polêmico Pasolini, outro grande do cinema italiano.
Giuliano Gemma , que se tornou uma espécie de ator-simbolo dos faroestes italianos, também faz uma pequena participação no filme, interpretando o revolucionário Garibaldi. É uma participação pequena. Apenas três sequências. Mas, o suficiente para injetar beleza e sensualidade na história. Numa das sequências Giuliano aparece cantando uma ária de verdi, vestindo um uniforme militar vermelho. Belíssimo, belíssimo, belíssimo... Foi sua terceira atuação no cinema. Dois anos depois ele seria o protagonista do faroeste Um dólar furado e se tornaria um simbolo do cinema dos anos 60 atuando em vários filmes vivendo o personagem Ringo.
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