19.8.04

NOS TATAMES DA VIDA - Vibrei muito com a medalha de bronze que o atleta Flavio Canto conquistou em Atenas. É que, dois meses antes de começar a Olimpiada, eu tive a oportunidade de entrevistá-lo para uma reportagem que foi publicada no Caderno H, suplemento dominical do Jornal do Brasil. Consegui seu telefone com o Marcelo Alonso, editor da revista Tatame. Quando liguei o Flavio foi super simpático e combinamos de fazer a entrevista no pier da Barra da Tijuca. Conversamos durante uma hora aproximadamente, no intervalo entre os treinos. Depois fomos fotografar no Pier e as fotos ficaram bem bacanas. Durante a entrevista ele me disse que estava apreensivo pois, na semana seguinte, iria viajar para a França, com a equipe de judô e o seu pai iria fazer uma operação no coração.


A editora do Caderno H, Hildegard Angel, gostou das fotos e da reportagem e decidiu colocar a matéria na capa. De todas as matérias que eu fiz para o jornal foi a que fez mais sucesso. As mulheres adoraram. Ficaram todas loucas por aquele rapaz bonito de porte tão elegante, que tinha saído na capa do suplemento. Logo em seguida eu encontrei com o Ezequiel Neves, em Ipanema e ele foi logo dizendo: "Que bofe é aquele que você entrevistou? Aquilo é um homem para duzentos talheres." Depois ele me disse que tinha colocado a foto da capa na entrada da sua cozinha. "Agora toda vez que vou beber água eu olho para ele."


Flavio Canto viu a reportagem em Paris, na sala vip do aeroporto, quando estava voltando para o Brasil. Quando chegou ele me ligou para comentar o resultado da entrevista. Contou que incialmente tinha ficado envergonhado quando viu a foto enorme na capa do jornal mas, depois, acostumou e disse humilde: "Eu não sou aquilo tudo que você falou não." Então eu perguntei como estava o pai dele. Então ele contou que estava me ligando do hospital, que o pai tinha sido operado naquela manhã e tudo tinha corrido bem. Tres dias depois ele novamente viajou para Tóquio e eu só vim saber novamente dele assistindo suas lutas na TV. Foram lutas muito dignas e ele esteve bem todo o tempo. Fiquei muito orgulhoso com a sua vitória e feliz por tido a oportunidade de entrevistá-lo antes de Atenas. Leia a seguir o texto da entrevista.









O SAMURAI VAI A ATENAS - Há pouco considerado por uma comissão internacional de escritores como o melhor livro de todos os tempos, Dom Quixote, de Miguel Cervantes, é o livro favorito do atleta Flavio Canto. É a literatura que ajuda o campeão de judô a relaxar da tensão, nesses dias que antecedem a sua participação nas Olimpíadas de Atenas. Disciplinado, ele treina todos os dias e cuida da sua preparação física. Mas, para ele, a preparação fisica não é suficiente. Ele não esquece do preparo espiritual.
- O judô, como toda arte marcial, prega o equilibrio e a harmonia. Ao mesmo tempo em que eu procuro me aprimorar tecnicamente, eu busco me aperfeiçoar como pessoa. De tudo que o judô me ensinou, o mais importante é que eu aprendi a cair. A maneira como o atleta cai é muito importante para quem pratica judô. E esse aprendizado eu trouxe para minha vida pessoal. Hoje em dia, quando a vida me derruba, eu procuro saber cair para poder conseguir me levantar.


Flavio Vianna de Ulhôa Canto nasceu em 16 de abril de 1975, em Oxford, na Inglaterra, onde seu pai fazia mestrado. O judô só entrou na sua vida aos 14 anos, por influência do irmão que já praticava o esporte. Quando ganhou sua primeira medalha num campeonato amador, o professor lhe disse que um dia ele iria participar de uma olimpíada.
- O judô exercita a coordenação motora, os músculos do peito, costas e pernas. E também a parte cardiovascular. Além disso é muito importante para o equilíbrio da mente, pois estimula a disciplina e o respeito pelo adversário.


Uma das grandes paixões do atleta é o mar. Foi essa paixão que acabou fazendo dele um surfista, esporte que pratica até hoje.
- Através do surfe eu encontrei a harmonia entre a minha mente, meu corpo e meu espírito. O surfe é um esporte que é praticado junto com a natureza e as manifestações da natureza são manifestações divinas. Então surfar, para mim, é estar ao lado de Deus. Fico o tempo inteiro sonhando com meus momentos dentro d'água, numa praia paradisíaca, com ondas perfeitas. As ondas do mar me dão tranquilidade e paz.


Apesar de não ser católico praticante, Flavio Canto tem Jesus Cristo como seu maior ídolo, pois acredita na filosofia crista de "amar o próximo como a si mesmo". Foi isso que o levou a participar do REAÇÃO, um projeto social que desenvolve na favela da Rocinha, onde ele dá aulas de judô para 120 alunos. Além disso, existe uma unidade do projeto em Jacarepaguá, com a participação de 500 garotos. Flavio Canto é advogado, formado pela Universidade Gama Filho, namorado da jornalista Bianca Rothier e um veterano das olimpíadas. Em Atlanta, ficou em sétimo lugar. Em Sydney participou como reserva. A experiência é sua aliada na competição, junto com o preparo fisico e técnico e a meditação transcendental.
- A meditação é uma prática diária na qual consigo me elevar espiritualmente, busco compreender os aspectos duros da vida e me concentro nos meus objetivos. Além disso a meditação faz com que eu possa execitar a concentração e isso é fundamental na hora do combate.


O atleta tem um temperamento calmo e tranquilo e um espirito zen que transparece na beleza do seu rosto, na elegância do seu porte e na sua atitude diante da vida. Tem orgulho da sua família, da cidade em que vive e do seu País.
- O Brasil está numa situação muito ruim. Basta andar na rua para vermos que os problemas sociais se acumulam. Eu gosto muito do Lula, tenho admiração por ele mas acho que está faltando ousadia ao seu governo. Precisamos urgentemente de uma melhor distribuição de renda.


Antes de viajar para Athenas, Flavio vai participar de torneios na França, em Portugal e na China.
- O que eu mais gosto na minha profissão é a possibilidade viajar. Recentemente estive nas Ilhas Margaridas, na Venezuela e em lugares como a Rússia, Japão, Espanha e Austrália.
Flavio Canto pede ao povo brasileiro que faça pensamento positivo para que o Brasil possa trazer muitas medalhas da Grécia. E recomenda aos jovens de sua geração que leiam bastante.
- Acho que a juventude brasileira fica muito em frente a TV assistindo programas que nada lhes acrescenta. Leiam um bom livro. Leiam Machado de Assis, Cervantes, Vargas Lhosa, Fernando Moraes, Marcio de Souza. O livro é o melhor amigo do homem. Falou o Samurai!

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