UMA NOITE COM SONIA BRAGA – O artista plástico Hélio Braga está expondo seus quadros no Galeria Café, em Ipanema. Na quarta-feira, dia do vernissage ele precisou viajar a trabalho. Sua irmã, a atriz Sonia Braga, se incumbiu de representa-lo no evento e ficou ela mesma recebendo as pessoas e mostrando os quadros do irmão. Sonia estava linda. Toda de preto com o cabelo amarrado num imenso rabo de cavalo. Bem humorada e divertida, ela contava histórias sobre os trabalhos do irmão e contava casos engraçados sobre sua família. Como se estivesse recebendo as pessoas em sua própria casa ela oferecia um drinque para um, fazia um carinho no outro, posava para os fotógrafos, soltava os cabelos, ensaiava uns passos de dança e dava muitas gargalhadas.
Eu tenho dois quadros do Helio Braga. Os trabalhos são muito bonitos e originais. Figuras masculinas com conotações eróticas. Em geral seus quadros são pequenos. Mas nessa exposição ele surpreendeu a todos fazendo quadros imensos. O seu universo continua lá. Um homo-erotismo carregado de pureza. Uma mesma figura aparece em vários quadros: um sujeito que é metade homem, metade peixe. Sonia Braga contava que uma mulher havia dito para o pintor que não existem homens-sereia. Às gargalhadas ela afirmava que também não existem sereias.
Quando o designer Gilson Martins contou que estava fazendo meditação Sonia disse que não conseguia meditar. “Eu não consigo me concentrar. Você consegue?”, ela me perguntou e depois continuou. “Eu também não consigo fazer yoga. Acho que é porque no fundo eu não quero entrar no nirvana. Eu gosto daqui. Desse mundo em que vivo”. Depois Sonia contou que encontrou com Woody Allen numa festa e quando as pessoas começaram a falar de massagem ele virou para ela e disse: “eu não posso fazer massagem porque sou muito tenso”.
O novelista Manoel Carlos fez questão de ir prestigiar a estrela. Quando posava para fotos ao lado dela alguém disse que gostaria de ver Sonia Braga numa novela dele. Manoel Carlos respondeu que ela ia fazer a novela do Silvio de Abreu. A noite de queijos e vinhos também teve a presença de Mario Canivello, Sergio Fonta, o joalheiro Antonio Bernardo e o psicanalista Paulo Próspero, além de um monte de gente que eu não conhecia.
O DIABO A QUATRO – A exibição do filme de Alice de Andrade no Festival de Cinema do Rio foi bem animada. O cinema Odeon estava lotado. E eu encontrei um monte de gente bacana. Para começar a própria Alice, que conheço há muitos anos. Ela estava feliz e eu consigo imaginar o que significava para ela estar lançando aquele filme. Desde adolescente ela sonhava em dirigir seu próprio filme.
O Diabo a Quatro é uma comédia de costumes ambientada na zona sul do Rio que lembra um pouco as comédias de praia de Pedro Carlos Rovai como Ainda Agarro Essa Vizinha e A Viúva Virgem, estreladas por Adriana Prieto e Nos Embalos de Ipanema, dirigido por Antônio Calmon. O principal cenário do filme é o Posto Seis e seus personagens típicos: a babá gostosa, o surfista rico, o surfista pobre, o menor abandonado, a granfina ninfomaníaca, o político corrupto e o cafetão. Esses personagens se entrelaçam durante o verão em que latas de maconha surgiram nas praias do Rio. Lembram dessa história? O filme diverte, tem ritmo e conseguiu arrancar boas risadas da platéia.
Marcelo Faria, o inesquecível bombeiro Vladimir da novela Celebridade, é o protagonista do filme. No dia da estréia ele estava ainda mais bonito com a barba por fazer, o cabelo desgrenhado e um agasalho esportivo azul. Estava lindo. Quando me viu ele me deu um abraço super apertado. “Quanto tempo cara?“, ele dizia, amoroso. Depois perguntou: “E o Calmon? Como é que está? Tá bem?” Eu respondi: “Está ótimo Marcelo. Melhor do que nunca”.
Também estava lá todo elenco do filme: Jonathan Haagensen, Evandro Mesquita (ele está ótimo fazendo um caminhoneiro gay), Ney Latorraca, Maria Flor, Maria Silvia e mais os atores do grupo Nós no Morro. Reginaldo Farias, Carlos Orchades, Zezé Motta, Roberto Berliner, Também estavam lá alguns dos melhores amigos da diretora como a cantora Kátia B, a atriz Conceição Rios, o ator Sergio Maciel, eterno namorado de Cazuza, e a jornalista Patrícia Terra, que participa do filme. Depois do cinema ligamos para Bebel Gilberto, em Londres, para contar o que tínhamos achado do filme da Alice, mas atendeu secretária eletrônica e nós deixamos um monte de recados carinhosos.
O final da noite foi na casa do gentleman Carlos Orcades. Na sala da casa dele, cercada de aquários ficamos tomando chá, fumando um e contando casos: eu, o anfitrião, Sergio Maciel e Conceição Rios. Fazia tempo que eu não via o Serginho então perguntei como é que tinha sido para ele a realização do filme sobre Cazuza. Afinal, é uma história que também dizia respeito à vida dele. Serginho respirou fundo, arqueou as sobrancelhas e me respondeu: “Foi um saco. Um aluguel. As pessoas me ligavam o tempo inteiro para me perguntar coisas sobre o Caju (é assim que ele se refere ao seu grande amor) e eu ficava tendo que relembrar tudo aquilo que nós passamos. Foi um sofrimento. Ao mesmo tempo eu achava legal que o filme estivesse sendo feito”. Eu comentei que a melhor coisa do filme é o ator e Sergio nos contou que foi ele quem indicou Daniel Oliveira para o papel depois de vê-lo atuando numa peça.
A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR - Merece um estudo especial de sociologia política o resultado das eleições no Rio de Janeiro. O que é que faz a população de uma cidade reeleger um incompetente desastrado como César Maia para a prefeitura? Nos últimos quatro anos o Rio foi uma cidade sem adminsitração. Quem anda pela cidade tem a impressão que aqui não existe prefeito. As ruas estão sujas e cheias de mendigos. O trânsito é caótico. O espaço público é de quem chegar primeiro. As calçadas estão invadidas por camelôs. As vias públicas totalmente loteadas por motoristas de táxi. Os cartões postais transformados em ciladas para turistas. Olhando para a cidade têm-se a impressão que aqui não existe prefeitura. Então, porque o César Maia foi reeleito? Talvez por isso mesmo. Talvez por ele ter entregue a cidade àquele que for mais esperto. Talvez pelo fato dos candidatos concorrentes serem fracos. O fato é que, nos próximos quatros anos, o Rio continuará sendo uma cidade sem prefeitura. Uma cidade entregue à própria sorte.
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