22.11.04

O REI DO ROCK - Ezequiel Neves, lenda viva da cultura brasileira completa 70 anos no próximo 29 de novembro, sem perder a energia, o bom humor ou a irreverência.
- Eu cheguei aos 70 porque sou profundamente superficial – diz ele, às gargalhadas.
Ezequiel, ou Zeca como o chamam os íntimos, nasceu numa Belo Horizonte bucólica, cujas maiores lembranças da infância são os quintais espaçosos, cheio de árvores frutíferas. Na família classe média a avó parteira teve 13 filhos e o pai foi um cientista louco, que mantinha contato com cientistas do mundo inteiro.
- Meu pai tinha uma língua ferina. Ele falava mal de todo mundo na cidade.


No início da adolescência foi expulso do tradicional Colégio Arnaldo, de padres jesuítas. Mas foi nesse colégio que conheceu a primeira pessoa que fez sua cabeça, um padre alemão chamado Geraldo, de quem lembra com carinho.
- Eu sempre tive a sorte de encontrar pessoas que me orientavam e me desorientavam no momento certo. E o padre Geraldo foi uma dessas pessoas.
Certa vez, durante a confissão, contou ao padre Geraldo que tinha se masturbado e o reverendo o tranqüilizou dizendo que aquilo não era pecado. Noutra ocasião ficou aflito porque havia tido uma ereção durante a missa. Ao contar ao Padre ele falou: “Deus vai adorar isso”.


Um outro momento marcante da sua vida foi quando, aos doze anos começou a freqüentar o casarão da família de Oscar Neto. uma tradicional família mineira, muito badalada na época, que recebia em casa gente importante como JK, Di Cavalcanti, Murilo Rubião e Zuzu Angel que era prima de Oscar.
- Na casa de Oscar Neto eu ouvi conversas absurdas que não vou confessar nunca.
Foi na casa de Oscar Neto que conheceu uma pessoa que marcou sua adolescência e foi muito importante na sua formação: Vanessa Neto, irmã do anfitrião. Logo ficaram amigos e, por ser culta e avançada Ezequiel pediu que ela o orientasse, mas a moça respondeu: “Eu quero é te desorientar”. Vanessa, que era sobrinha do escritor Lúcio Cardoso, o apresentou a livros de Dostoievski, Eça de Queiroz e o recomendou a ler “O morro dos ventos uivantes”.


Com 17 anos Ezequiel começou a trabalhar na biblioteca da Faculdade de Medicina. Também começou a fazer teatro, freqüentar um grupo de intelectuais mineiros e a escrever artigos no Diário de Minas. Ouvia muito Dalva de Oliveuira, Aracy de Almeida cantando Noel, além de Frank Sinatra e Billie Holiday. Um dia Vanessa veio passar uma temporada no Rio e quando voltou para Minas levou de presente para Ezequiel o disco de Bill Halley “Rock around the clock”.
- Eu pirei quando ouvi Bill Haley. Logo depois descobri Elvis Presley. Foi então que eu pirei mais ainda.
Foi Maria Bonomi quem o incentivou a sair de Minas. Em 1965 foi para São Paulo fazer teatro onde montou espetáculos de Shakespeare e Edward Albee. Circulando no meio teatral conheceu Tõnia Carrero, Paulo Autran e Adolfo Celi.
- A Tônia Carrero só me chamava de “O abominável Ezequiel Neves”.


Apesar de trabalhar no teatro, a cabeça de Ezequiel só pensava no rock e numa nova paixão: o conjunto Rolling Stones. Em 68 começou a escrever artigos sobre rock no Estadão, onde se dedicava a esmiuçar os trabalhos de Janis Joplin, Simon e Garfunkel e The Doors. Em 69 foi conhecer Nova York e essa viagem foi uma revolução na sua cabeça. Tinha acabado de acontecer Woodstock e a cidade estava fervendo. Assistiu shows de Hendrix e Crosby, Still e Nash.
- Em 1970 fui para Londres, pois Gil, Caetano & Cia já estavam exilados na cidade. Lá o Guilherme Araújo nos proporcionou coisas incríveis. O “ácido” era da melhor qualidade. Vi e ouvi tudo o que tinha direito: The Who, Alvin Lee e Eric Clapton.
Uma das melhores lembranças de Londres em 70 foi o show do jovem Elton John que, em início de carreira, abriu o concerto do The Who.
- Foram quarenta minutos inesquecíveis de Elton tocando piano. Nessa época ele tinha até cabelo.


Quando voltou de Londres abandonou o teatro imediatamente. Foi então que Luis Carlos Maciel o convidou para editar com ele a versão brasileira da revista Rolling Stone. Assim Ezequiel mudou para o Rio de Janeiro, indo morar em Ipanema, num apartamento na rua Farme de Amoedo, num prédio que ficava em frente ao Bofetada. Passou a freqüentar a praia na Montenegro, reduto da contracultura de então e a puxar fumo nas dunas da Gal.
- Foi nessa época que eu descobri que as únicas perfeições da vida são a alegria e o rock´n roll.
Como jornalista escreveu para as revistas Realidade, Playboy, Som Três e a revista Geração Pop, publicação para jovens da editora Abril, cuja publicidade era feita por adolescentes que diziam “é a primeira revista da nossa idade”. Ao mesmo tempo produziu o grupo de rock Made in Brazil, onde, nos shows, fazia backing vocal com o microfone desligado. Era só atitude.
- Era a época em que todo mundo tomava Mandrix, um anestésico para dormir, que nos provocava uma sensação epidérmica e coisas estranhas. A gente tomava Mandrix e acordava ao lado das pessoas mais deliciosas do Rio de Janeiro. Foram verões inesquecíveis. Tudo isso acabou quando as pessoas descobriram a cocaína, uma droga careta e do mal.


Em 1978 Guto Graça Melo o convidou para trabalhar na Som Livre onde produziram artistas como Cauby Peixoto e Elizeth Cardoso, que Zeca adorava pois a ouvia muito na adolescência.
- Nesse período fiquei 10 anos sem sair do Brasil porque o governo cobrava uma taxa caríssima para quem quisesse viajar. Essa taxa foi um dos maiores absurdos da história do Brasil. Onde já se viu uma coisa dessas? Pagar imposto para poder sair do país?
Em 1980 Ezequiel Neves viveu um momento marcante: foi a Nova York especialmente assistir aos Rolling Stones, sua banda favorita, no show Let´s spend the night together.
- No show dos Stones eu estava com todas as drogas em cima. Mas quando eles começaram a tocar eu não precisei de droga nenhuma. Pirei apenas com o som dos caras.
Na volta ao Brasil, depois de assistir ao show dos Stones, começou a achar tudo muito chato. Ficou dois anos no maior bode, achando a vida sem sentido, até que em 1982 descobriu o Barão Vermelho.
- Foi paixão à primeira vista. Com o Barão me deu novamente um “calor na bacurinha”. A chama do rock estava acesa no Brasil. O Cazuza me encantou como poeta e, de cara, vi que o Frejat era um guitarrista do caralho.


Agora, às véspera de completar sete décadas de vida, Ezequiel Neves faz uma reflexão e vê que seguiu o conselho de Vanessa Neto, sua musa da adolescência, e ficou desorientado.
- Vanessa foi a mulher mais importante da minha vida. E a minha grande paixão foi mesmo o Cazuza.
Ao longo de sua vida viveu muitas paixões e muitos amores, mas não gosta de falar sobre eles.
- Já casei um milhão de vezes. Só não moro junto porque o cotidiano é o túmulo do amor.
De presente de aniversário quer apenas saúde. Cheio de energia e animação, o velho roqueiro nem pensa em se aposentar. Está se preparando para cair na estrada com o Barão Vermelho, que vai fazer uma turnê por todo o Brasil na trilha do sucesso do disco que acabou lançar.
- Eu já devia estar quieto. Mas o Frejat, que é como um filho para mim, me disse: “Esse teu calor na bacurinha só vai acabar quando você sentar no iceberg que destruiu o Titanic.
Gargalhadas gerais.





FAZ PARTE DO MEU SHOW - Um novo livro sobre o cantor Cazuza promete causar polêmica. Faz parte do meu show é uma autobiografia do cantor, psicografada por Robson Pinheiro. Segundo a Casa dos Espíritos, editora responsável, especializada em livros espíritas, é um romance sobre a vida de um grande astro da MPB, que desencarnou vitima da Aids. O Livro retrata sua descoberta da realidade espiritual e o reencontro com a imortalidade. Ele relata também, seu encontro com outros artistas desencarnados e outras personalidades que fizeram parte da sua trajetória marcante, polêmica e rebelde somada a sexo, drogas e muito Rock and Roll. O que será que Lucinha Araújo vai achar desse livro?

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