LA VIE EN ROSE – Esta semana recebi uma visita inesperada. Um amigo que eu não via há mais de quinze anos. Entre os quinze e os dezoito anos nós convivemos bem de perto, ainda na época em que eu morava em Recife. Aprontamos muito em festinhas. Zoamos muito nos carnavais de Olinda. Foi uma época bacana, que vivemos juntos, pois éramos da mesma turma. Depois eu mudei para o Rio, ele foi morar na França e nós perdemos o contato. Num daqueles carnavais inesquecíveis, dançando frevo nas ladeiras de Olinda, conheceu uma francesa, tiveram um romance e ele acabou indo morar na França onde casou, teve um filho, separou, casou de novo, etc. Zeca sempre fez muito sucesso com as mulheres, que o achavam lindo e ficavam loucas por ele. Agora ele veio passar férias no Brasil e conseguiu meu telefone com uma amiga comum que encontrou num teatro em Recife.
Nosso encontro foi muito divertido. Rimos muito lembrando de histórias e personagens daquela época. As noitadas. As farras. A convivência com a turma do curso que fazíamos juntos. Ele também contou da sua vida na França e sua relação com Marselha, a cidade onde mora. Dos cursos de gastronomia que havia feito e da sua vontade de abrir um restaurante de comida brasileira. Falou muito de Marselha. Descreveu a cidade, seus habitantes, sua história.
Falamos muito dos amigos daquela época. De Marluce, uma garota bonitona que hoje é artista plástica: de Ana Maria, que era quase uma irmã para; de Luis Carlos, um sujeito boa pinta e esnobe; de André, um cara que era machão, depois virou gay e depois ficou doido a ponto de ser internado. Falamos de Ivson, nosso colega que morreu num acidente de automóvel logo depois de seu irmão ter sido comido por tubarões na praia de Boa Viagem. E também falamos de Marcos, Kleber, Osvaldo, Iury, Josefina e mais um bando de gente. Pessoas que foram importantes e nos marcaram naquele período da nossa vida.
Zeca contou que ficou chocado quando soube da morte da nossa amiga e musa Wilma Lessa. Nós adorávamos ela. Eu lembro como se fosse hoje. Um dia nós nos encontramos num bar em Olinda, numa fervilhante noite de sexta-feira. Ela andava sempre bem vestida e maquiada, cheia de pulseiras, falando com trejeitos. Nesse dia Wilma estava numa mesa, com um grupo de pessoas, quando chegamos eu e Zeca. Wilma segurou no queixo dele e falou para toda a mesa: “Vejam como é lindo esse rapaz. Que homem lindo. Que pele. Que sorriso... Se eu gostasse de homem eu namorava ele”.
Nós admirávamos a maneira que ela tinha de chocar as pessoas sem, no entanto, magoá-las. Certa vez, depois de uma noitada, fomos deixar o Zeca em casa. Wilma tinha bebido dezenas de cervejas, mas dirigia serena. Era tarde da noite e a mãe dele levantou para abrir a porta. Afinal, nós ainda éramos menores de idade. Ela então cumprimentou a mãe do rapaz e a mulher gentilmente nos convidou para tomar um café. Entramos na casa e, quando chegou lá dentro as duas começaram a conversar como se fossem velhas amigas. E Wilma contando para a mãe do Zeca que estava sofrendo porque tinha se separado da namorada, que era uma mulher maravilhosa, que não sabia como viver sem ela.
Zeca me contou, com a voz triste, que a mãe dele ficou arrasada quando soube da morte dela. “A Wilma foi uma guerreira”, foi o comentário que ela fez quando ouviu a notícia no rádio. Zeca então me disse que em várias oportunidades já tinha pensado em se matar, mas nunca chegou a tentar. E que agora se sente mais maduro emocionalmente e só pensa em viver. Fiquei feliz de ouvir isso.
Zeca me trouxe um vinho de Marselha e disse que eu deveria bebê-lo numa ocasião especial.
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