8.3.05

LEITURA OBRIGATÓRIA - Publicado originalmente em 1934, o livro MALEITA deu início à brilhante carreira literária de Lúcio Cardoso. Escrito quando o autor tinha entre 17 e 19 anos, a estréia avassaladora já indicava que a obra do escritor mineiro marcaria profundamente a literatura brasileira. Considerado por vários críticos seu melhor romance, MALEITA era uma raridade restrita a sebos e boas bibliotecas — desde 1970 o leitor não tem o privilégio de uma nova edição da obra. Agora a editora Civilização Brasileira está lançando uma bela edição do livro.


O romance surpreende pela estrutura vigorosa, pelo frescor da linguagem e temática. A vida levada por um forasteiro andarilho, fundador de cidades e de espírito aventureiro — inspirado no pai do escritor, Joaquim Cardoso —, conduz a trama, que se debruça sobre a paisagem às margens do rio São Francisco, nas imediações da cidade mineira de Pirapora. A fundação da cidade atrai imigrantes de toda a parte, e, aos poucos, chega também a tragédia. A malária torna-se personagem central do romance, instigando o leitor a refletir sobre a ganância e a miséria do homem.


Ao lado de escritores como Clarice Lispector, Cornélio Penna, Octavio de Faria e Jorge de Lima, Lúcio Cardoso fazia parte do seleto grupo de escritores intimistas. Chamado pela crítica de o Dostoievski mineiro, era um atormentado. Um autor capaz, até mesmo, de contratar um assassino de aluguel para persegui-lo e, assim, mergulhar de forma mais completa no inferno de um personagem. Em outras ocasiões, chegou a convidar vagabundos que se odiavam para uma mesma festa, a fim de observar o resultado. Num meio literário acostumado à leveza e à simplicidade, Lúcio Cardoso seguiu na contramão, construindo uma literatura densa, obscura e reflexiva.
A partir de MALEITA, progressivamente, a obra do autor será conduzida pela investigação psicológica.


Lúcio Cardoso nasceu em Minas Gerais, em 1913. Mais tarde, fixou residência no Rio de Janeiro, onde começou as suas primeiras experiências literárias. Além de editar duas revistas, A bruxa e Sua revista, Lúcio escrevia poesias, peças de teatro e contos. Seu primeiro romance, Maleita, foi publicado em 1934. Incentivado pela crítica, investiu em uma prolífica carreira de escritor, que resultou em romances como Luz no subsolo, Histórias de Lagoa Grande, Dias perdidos, O anfiteatro, O enfeitiçado, além de sua obra-prima Crônica da casa assassinada — que teve, em comemoração aos 40 anos de sua publicação, uma belíssima edição comemorativa lançada pela Editora Record. Em 1962, em pleno vigor criativo, Lúcio sofreu um derrame que o deixou incapaz de escrever. Morreu em 1968, após um segundo derrame.

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