4.4.05

QUEM NÃO CHORA NÃO MAMA - O Cordão da Bola Preta vai se transformar num arco-íris. É que o tradicional reduto da alma carioca será transformado no dia 9 de abril numa festa sem preconceitos, que poderá reviver os tempos da extinta boate Sótão, o ponto de encontro dos gays cariocas na virada dos anos 70, que fazia ferver Copacabana. O DJ Amândio, que marcou época na boate, é quem comandará as pick ups na festa nostálgica.


O Sótão ficava na Galeria Alasca, no Posto Seis, na época em que o lugar era o mais famoso reduto gay do Rio e tinha o apelido de Galeria do Amor. Na época ser gay ainda era sinônimo de discrição. Mas lá na galeria era um dos poucos lugares do Rio que se podia soltar a franga mais à vontade. A Galeria vivia cheia de michês, que iam faturar algum com as bichas que frequentavam o lugar. Eram tempos mais romanticos e ainda se podia levar um bofe para casa, sem correr o risco de levar um "boa noite cinderela". Os michês eram mais profissionais e singelos.


Na Galeria Alasca ainda havia o Teatro Alasca, que apresentava shows de travestis, no melhor estilo dos cabarés. E uma boate de lésbicas. Além dos bares e botequins em torno da Galeria que ficavam cheios de homossexuais. A Galeria era um verdadeiro Shopping gay.


O Sótão era a mais bem equipada casa noturna da cidade. As caixas de som ficavam no teto e o piso era todo iluminado por baixo. Em termos de som e luz era um arraso. Além disso era um lugar elegante, sofisticado. E tinha um atrativo a mais para o seu público alvo: os garçons, que eram todos rapazes muito bonitos. A boate adquiriu tanta fama que virou um programa para heterossexuais descolados: artistas, gente da sociedade, o beautiful people, como eram chamados na época. Até Mick Jagger e Cat Stevens foram dançar na boate, quando estiveram no Brasil.


Na época ainda não havia Madonna. Quem reinava nas pistas era Donna Summer, Roberta Kelly, Santa Esmeralda e Anita Ward, entre outras. Não existiam drogas sintéticas. As drogas quentes da época eram a boa e velha cocaína e o Mandrix. A pista de dança fervia quando o DJ tocava: MacArtur Park, com Donna Summer; Zodiac, com Roberta Kelly; Don´t Let me be Misunderstood, na versão do grupo Santa Esmeralda. Além disso as bichas adoravam dar pinta ao som de Anita Ward cantando Ring my Bell.


Foi a AIDS quem acabou com o Sótão e a Galeria Alasca. Quando a doença surgiu, os lugares gays passaram a ser vistos como lugares malditos. A paranóia e o medo foi esvaziando esses lugares. Foi um periodo muito difícil para os homossexuais, que foram quase que obrigados a saírem de cena. Mas foi apenas uma retirada estratétiga. Porque algum tempo depois, eles voltaram com força total, cada vez mais descolados, atrevidos, politizados e cada vez mais gays. Só que nesse processo, perdeu-se o romantismo daqueles tempos. Como diria Gal Costa, que pena...




O SOM E O ÊXTASE - No mesmo dia da festa do Sótão, no Bola Preta, o Cine Ideal, na rua da Carioca, promove uma rave de arromba que promete reunir os gays moderninhos, que não estão nem aí para a nostalgia dos tempos do Sótão. Rapazes sarados, viciados em música eletrônica e ecstase, prometem sacudir seus bíceps e panturrilhas ao som dos DJ´s Fernando Braga, Rafael Calvente e da onipresente Ana Paula. Para quem aguentar, de cinco às dez da manhã, tem o After, aquela festa depois da festa, onde a pegação come solta. No terraço do cinema, a galera vai poder curtir o sol de domingo em pleno centro do Rio.




JUDAS DE PERNAMBUCO - O deputado federal Severino Cavalcanti foi malhado como judas no último sábado de aleluia pelo grupo gay pernambucano Leão do Norte. As bichas, conterrâneas do presidente da Câmara, estão furiosas com Severino. E não é só por causa de sua postura preconceituosa. O Judas de Pernambuco foi malhado, principalmente, pelo golpe que deu no bolso do contribuinte, aumentando a verba de gabinete dos marajás, provocando mais um rombo nas contas públicas. Aliás, o pretinho básico foi o uniforme de gays e lésbicas na última terça-feira em protesto contra os gansgters que tomaram de assalto a Câmara Federal. Acuado com a reação do povo brasileiro, o deputado exclamou: "Só tenho levado cacete!" Como observou Sebastião Maciel, essa é uma bela frase para um homófobo assumido.

Nenhum comentário:

Madonna vem aí...

 

Postagens mais vistas