A partida foi uma Odisséia. Para ser campeão o Fluminense tinha que vencer o Volta Redonda com uma diferença de dois goals. E o time começou a partida perdendo de 1x0, só chegando ao empate, no final do primeiro tempo. E o empate ainda daria a vitória ao adversário. O clima no estádio era de pura ansiedade. Uma multidão desesperada clamava aos céus por redenção. Bofes à beira de um ataque de nervos.
No céu que cobria o estádio, uma intensa movimentação de nuvens. Às vezes parecia que ia chover. Às vezes o céu ficava claro. Começa o segundo tempo e um grupo de rapazes começa a rezar. Era comovente a fé estampada naqueles semblantes. Um jogador do Fluminense recebe um cartão vermelho e aquilo foi como um punhal cravado nas costas da torcida. "Vai tudo dar certo", gritava um marmanjo quando a bola novamente começou a rolar no gramado. De repente, como se o céu tivesse atendido a prece tricolor, a bola invadiu a rede adversária. Gol!
Foi como se tivessem explodido uma bomba atômica. A energia, a vibração, a alegria, a paixão. Uma mistura de vários tipos de nergia positiva se desencandeou por todo o Maracanã. Gritos, berros, choros. E beijos. Muitos e muitos beijos. Como beija a torcida tricolor. E beija bem, sem economia ou contenção. E abraços apertados, com músculos retesados. Um sentimento vibrante, vindo do fundo do coração. E mais beijos, beijos e beijos...
O segundo gol apenas leva o Fluminense aos pênaltis. A torcida, que sofreu tanto desde à partida anterior, não parava de torcer mas, de certa forma, se conformou com aquele resultado. Contava com a sorte na hora dos pênaltis. Depois do segundo gol, todos torciam para que o Volta Redonda não fizesse mais um. Por isso, foi inacreditável o que aconteceu no Maracanã quando Antonio Carlos fez o gol redentor, que deu a vitória ao Flu. Os torcedores choravam como crianças, quase sem acreditar no que tinha acontecido. Aos 47 do segundo tempo! A vitória só chegou no último minuto. Um verdadeiro orgasmo coletivo se espalhou por todo o Maracanã e, a partir daquele instante, a felicidade passou a ter as três cores que traduzem tradição, como não se cansava de cantar a multidão tricolor que invadiu as ruas do Rio de Janeiro.
Sou tricolor de coração / Sou do clube tantas vezes campeão / Fascina pela sua disciplina / O Fluminense me domina / Eu tenho amor ao tricolor / Salve o querido pavilhão / Das três cores que traduzem tradição / A paz, a esperança e o vigor
Unido e forte pelo esporte / Eu sou é tricolor
A partir daí tudo foi comemoração. Nem a tempestade que desabou sobre o Rio depois da partida, desanimou os tricolores. Parecia que o céu mandava aquela chuva para lavar a alma da torcida. No Leblon, em frente ao bar Clipper, a comemoração foi de muita animação. Tricolores de várias gerações se confraternizavam pela trigésima vitória no Campeonato carioca. O empresário Mauricio De jong, com a mulher Andréa e o filho Gabriel, soltava fogos. E Toni Platão, meu cantor favorito, um tricolor de corpo e alma, exibia sem pudor a felicidade estampada em seu semblante.
Antes de chegar no Clipper parei numa lanchonete para comer algo, pois estava faminto. Lá chegando, pedi um lanche igual ao de um rapaz que comia no balcão, um sanduiche de filé com uma porção de batata fritas. Ele sorriu para mim e disse que eu devia me alimentar porque a comemoração iria durar a noite inteira. Era um rapaz alto, bonitão e com um sorriso impressionante. Trocamos algumas palavras sobre o Fluminense, a vitória, a felicidade e a glória de ser campeão. Ele acabou de comer, foi embora enquanto eu devorava meu sanduiche. Depois, quando voltei para o Clipper, vi esse mesmo rapaz sendo carregado por uma horda de torcedores, que gritavam "filho de Abel, filho de Abel". Foi assim que descobri que aquele rapaz bonitão com quem eu conversara na lanchonete era Rafael, o filho de Abel Braga, o técnico do Fluminense.
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