30.5.05

LIBERTAS QUAE SERA TAMEN - A juventude dourada de Belo Horizonte se esbaldou neste fim de semana com o OI POP, um festival de música com bandas nacionais, produzido por Marcus Buaiz. Foram dois dias de shows, num estádio chamado Chevrolet Hall, onde tocaram além de bandas locais, grupos consagrados como Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Jota Quest e O Rappa. Vibrei muito com o show do Capital, banda que, há muito tempo eu não via se apresentando.


Da janela do hotel onde fiquei hospedado, num bairro chamado Belvedere, eu podia ver uma paisagem bonita, que implicava em várias sequencias de montanhas. O verde das montanhas parecia emoldurado pelo azul do céu. Foi olhando aquela vasta imensidão que eu descobri porque o nome da cidade é Belo Horizonte.


Circulando pelas ruas arborizadas eu lembrava da primeira vez que havia estado na cidade, com apenas oito anos. Meu avô, que tinha ido participar de um congresso, resolveu me levar junto. Eu lembro com muita clareza da nossa felicidade quando visitamos o Mineirão, o magnífico estádio de futebol, que estava completamente vazio.


O fim de semana em Belo Horizonte foi muito divertido. Na área vip do Chevrolet Hall me diverti muito com o clima de festa. Muita cerveja, gente bonita, alto astral. Tudo bem no estilo do Marvus Buaiz. A atriz Taís Araújo, que estava na cidade em turnê com a peça Liberdade para as borboletas apareceu por lá, para se divertir ao som do rock. Taís se divertia com o povo que só a chamava de Xica da Silva, personagem que ela interpretou na novela que está sendo reprisada no SBT. A jogadora Virna e o ator português Ricardo Pereira também estavam por lá.


Quem também se divertiu bastante no Chevrolet Hall foi Sebastião Maciel, um amigo que eu só conhecia pela internet e tive o prazer de conhecer pessoalmente em Belo Horizonte. Depois de tê-lo visto "ao vivo" eu diria que ele parece um personagem de um livro do Rubem Fonseca.






O LIVRO É O MELHOR AMIGO DO HOMEM - Em tempos de fundamentalismo religioso, um livro segue o caminho oposto e nos conta uma admirável fábula sobre a tolerância religiosa. O filho de Noé, de Eric-Emmanuel Schmitt, narra a história de Joseph, um garoto judeu que se encanta com a doutrina do cristianismo quando é obrigado a fingir que é católico para poder escapar da caça aos judeus promovida pelo nazismo. "Eles começaram com os judeus depois será a nossa vez", dia ao menino padre Poms, o religioso bonachão que o acolhe num internato para orfãos católicos.


Todas as semanas as crianças são levadas para uma espécie de feira, onde desfilam para casais sem filhos e pessoas solitárias interessadas em adotar os pequenos orfãos. Enquanto os pequenos andam num tablado, as pessoas ficam apontando e escolhendo os que querem levar para suas casas, como se estivessem num leilão. Joseph nunca é escolhido e essa rejeição faz nascer uma amizade mais consistente entre ele e o padre, que critica o garoto quando ele começa a se entusiasmar muito pelo cristianismo. Um dia os meninos orfãos descobrem que o padre tem um segredo. Ao seguir o religioso até uma velha igreja, Joseph descobre que, através de uma passagem secreta, se esconde uma sinagoga. E que, assim como ele, o padre também é um judeu disfarçado tentando sobreviver numa Bélgica dominada pela tirania de Adolf Hitler.


Escrita num ritmo ágil e envolvente, essa fábula comove e encanta ao mostrar a guerra através dos sentimentos e descobertas de uma criança. Mas, assim como os seus personagens, o livro também se disfarça para o leitor. Oculto pelo formato de um romance sobre a segunda guerra, O filho de Noé é um tratado filosófico sobre como pode ser civilizada a convivência entre diferentes religiões.


O filho de Noé é o quarto volume do Ciclo do Invisível, uma série de narrativas sobre os fundamentos de grandes religiões, escritos pelo mesmo autor. O primeiro volume, Milarepa, é dedicado ao budismo. O segundo, Seu Ibrahim e as flores do corão, é dedicado ao islamismo e já foi adaptado para o cinema, lançado no Brasil com o titulo de Uma amizade sem fronteiras, estrelado por Omar Sharif e o garoto Pierre Boulanger. O terceiro volume, Oscar e a senhora rosa é dedicado ao cristianismo.


Eric-Emmanuel Schmitt é um dos nomes mais celebrados da literatura francesa contemporânea. Também ensaísta e dramaturgo, ele tem 15 livros publicados em 25 países. É um escritor de prosa contundente e com uma visão muito peculiar dos sentimentos humanos. Seu texto mais conhecido chama-se Variações Enigmáticas, uma peça de teatro que fez muito sucesso na França, na montagem protagonizada por Alain Delon. Conta a história de um escritor, ganhador do prêmio Nobel, que vive isolado do mundo, e sua paixão por uma mulher com quem se comunica apenas por cartas. Um dia ele recebe a visita de um jornalista que, a pretexto de entrevistá-lo, acaba lhe revelando que é o marido da mulher a quem o escritor devota toda sua paixão. A partir daí, num clima de suspense, os personagens discutem os mistérios do amor e das relações amorosas. Variações Enigmáticas é uma peça envolvente e cheia de reviravoltas que reúne em seu texto uma visão requintada do que é literatura e dramaturgia. No ano passado o texto foi lançado em livro pela editora Francisco Alves. A peça, que já foi sucesso em Tokio, Los Angeles, Berlim, Moscou e em Londres, teve no Brasil uma bela montagem dirigida por José Possi Neto e estrelada por Paulo Autran e Cecil Thiré.

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