VINICIUS, UMA COMÉDIA ROMÂNTICA - O filme
Vinicius , de Miguel Faria Jr, pode ser classificado como uma comédia romântica.
Comédia porque o filme é muito engraçado e faz o espectador tanto sorrir como gargalhar.
Romântica porque o personagem retratado foi um homem que viveu do amor.
Amor pela vida, pelos amigos, pelas mulheres, pela arte. E o diretor conseguiu, com muito talento, traduzir no filme a personalidade do homem, do diplomata e do poeta
Vinicius de Moraes. Intercalando com muita propriedade imagens do artista com depoimentos de pessoas que conviveram com ele, clipes de algumas de suas mais famosas canções, e poemas recitados pelos atores Ricardo Blat e Camila Morgado, o filme constrói um painel informativo e inteligente deste que foi um dos grandes artistas brasileiros e
um filósofo do estilo brasileiro de viver.
"O Vinicius ajudou o povo brasileiro a ser feliz", diz
Ferreira Gullar no seu depoimento. E o filme mostra isso de forma bem clara: com sua música, sua poesia e o seu jeito de viver,
Vinicius fez o Brasil se divertir, sonhar e amar. O depoimento das pessoas que conviveram com ele comovem pela sinceridade. O diretor, que já foi casado com Suzana de Moraes, filha de Vinicius e conviveu com ele e com alguns de seus entrevistados, se aproveitou dessa intimidade para extrair depoimentos muito sinceros dos seus entrevistados, todos amigos ou parceiros do poeta. A diva do teatro brasileiro
Tonia Carrero dá um depoimento magnífico. "O Vinicius era capaz de fazer qualquer baixaria para conquistar uma mulher" diz ela, ao descrever o sofrimento e o ardor do artista quando envolvido em suas conquistas amorosas.
Aliás,
os amores de Vinicius têm a função de dividir o filme em capítulos. A cada novo amor, novas histórias, novas músicas, novas aventuras. A cantora
Maria Bethânia provoca gargalhadas ao contar como Vinícius conheceu sua amiga
Gesse, no bar
Pizzaiolo, em Ipanema.
Suzana de Moraes também diverte o público ao contar seu drama quando descobriu que seu pai tinha uma filha, Luciana, com outra mulher. Os depoimentos são todos recheados de histórias deliciosas.
Caetano Veloso diverte a platéia ao contar como, quando adolescente, confundiu Vinicius de Moraes com a ator
Haroldo Costa, protagonista da peça Orfeu da Conceição.
Edu Lobo emociona quando descreve um dos seus últimos encontros com o poetinha.
Entretanto, quem rouba o filme, é o
Chico Buarque. Totalmente à vontade, relaxado, de um jeito que o público nunca viu, Chico conta várias histórias de sua convivência com o Vinícius, desde os tempos de garoto até a época em que trabalharam juntos. Com
humor e carinho, é dele o maior depoimento que, praticamente, conduz o filme, como se Chico fosse um mestre de cerimônias. Se não bastasse a qualidade do seu depoimento, que dá vontade de aplaudir, Chico ainda dá um show de charme e beleza.
Ele está lindo. Deslumbrante. Parecendo ter menos que a metade dos seus sessenta anos. Vê-lo falando de Vinicius já é uma razão para assistir a esse filme. Mas existem outros motivos relevantes como, por exemplo, a beleza das imagens de época, fruto de um atento trabalho de pesquisa, assim como o material do arquivo da família que registram cenas preciosas como o Vincius cantando, cercado de amigos, numa festa na sua casa.
Mas nada se compara as cenas de
Vinicius de Moraes e Tom Jobim bêbados. A platéia vai ao delírio com as bobagens divertidas que eles falam. É nesse momento que o público sente, com mais verdade, como
eles foram loucos maravilhosos, que mergulharam na vida de peito aberto e por isso fizeram com que sua arte tocassem o coração das pessoas. Se existe uma crítica a ser feita a esse filme, é a de que ele acaba muito rápido. Não que seja um filme curto. Ele tem as duas horas usuais de um espetáculos cinematográfico. Mas o filme é tão envolvente, gentil e delicado com a platéia que acaba deixando no espectador um adorável gosto de quero mais.
SAMBA PARA VINICIUS (Chico e Toquinho)
Poeta
Meu poeta camarada
Poeta da pesada
Do pagode e do perdão
Perdoa essa canção improvisada
Em tua inspiração
De todo o coração
Da moça e do violão
Do fundo
Poeta
Poetinha vagabundo
Quem dera todo mundo
Fosse assim feito você
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinicius, velho, saravá