Nós somos as jóias de um mesmo enfeite. Cada homem é um dia de festa para o Grande Espírito da natureza.
25.11.05
CONTROLE REMOTO – Surge um novo astro na TV brasileira. Trata-se de Thiago Martins, o ator que interpreta Tadeu, o irmão da Cláudia Abreu na novela Belíssima. A semana passada ele recebeu nota 10 da jornalista Patrícia Kogut e, todo orgulhoso, recortou a coluna e mostrou aos colegas de trabalho, no Projac. Thiago é bom ator. Ele é cria do Nós do Morro, o grupo de teatro da favela do Vidigal de onde saíram os magníficos atores do filme Cidade de Deus.
Enquanto faz sucesso na TV o ator aguarda o lançamento do filme Show de Bola, que o diretor alemão Alexander Pickel rodou no Brasil para ser lançado na Europa um mês antes da Copa do Mundo. Thiago Martins é o protagonista do filme em que atua ao lado de Lui Mendes, Sandra Pêra, Gabriel Mattar e outros jovens atores do seu grupo de teatro.
Em Show de Bola Thiago Martins dá um show de bola. Seu personagem é um garoto da favela que sonha em se tornar jogador de futebol profissional. Ele é talentoso, bate um bolão, mas a vida vive lhe pregando peças. Sua carreira só começa a engrenar quando o traficante da sua área, papel do ator Lui Mendes, resolve ajuda-lo e lhe consegue uma chance no Fluminense.
A atuação de Thiago Martins vai surpreender o público. Ele está muito bem nas cenas dramáticas, já que a personagem vive muitos conflitos familiares. A mãe, Sandra Pêra, sofreu um derrame e ele é obrigado a cuidar dela, que tem uma forte crise no dia em que ele precisa fazer um teste no Fluminense. Thiago também impressiona nas cenas de humor e ação. E nos momentos em que aparece jogando bola o garoto mostra que é craque e arrasa nos dribles, passes e chutes.
Mas isso não é tudo. O diretor tira o máximo de proveito da beleza do ator. Afinal, ele é irresistível dentro do seu estilo “gostosão da favela”. Numa das mais belas seqüências do filme, Thiago Martins aparece tomando banho de mangueira no quintal da sua casa no alto do morro. O diretor não economiza película para mostrar o corpo fantástico do menino pobre que sonha se tornar um craque famoso. É linda a cena em que o garoto aparece se banhando na favela, com a água saindo de uma mangueira e deslizando sobre o seu rosto, peito, pernas. O corpo todo. É uma cena belíssima.
O diretor alemão Alexander Pickel está no Rio, trabalhando na finalização de Show de Bola. Essa semana ele se reuniu informalmente com os atores e a equipe do filme no bar Belmonte, do Jardim Botânico. Ele contou que o filme foi muito bem recebido pelos produtores europeus, que elogiaram a atuação do elenco e enviaram uma cópia do filme para os organizadores do Festival de Cannes. Mr. Pickel também disse que mostrou seu filme para os craques da seleção brasileira Kaká e Adriano, que já se comprometeram a comparecer a estréia do filme em Berlim, um mês antes da Copa do Mundo.
Apaixonado pelo Brasil, o diretor quer comprar um apartamento no Rio, para ficar mais tempo na cidade. E, antes mesmo de estrear seu filme sobre futebol, o sujeito já quer começar a rodar outro filme no Brasil. Dessa vez será um filme sobre artes-marciais, inspirado no sucesso dos grandes lutadores brasileiros.
24.11.05
AMIZADE QUANDO QUEBRA É COMO PERNA DE CAVALO. NÃO CONSERTA NUNCA MAIS. - Essa frase maravilhosa consta do livro Seja feliz e faça os outros felizes, uma coletânea de crônicas do jornalista Antônio Maria, selecionadas por Joaquim Ferreira dos Santos. O livro é um primor. O humor predomina em todas as crônicas. E o último capítulo é dedicado a frases e afins do homem que compôs Ninguém me ama, um clássico da música dor-de-cotovelo. O que mais me impressionou no livro, entretanto, foi essa frase sobre a amizade. Eu nunca tinha parado para pensar nisso, mas é uma grande verdade. Fiquei o dia inteiro com essa frase na cabeça. Acho que foi uma das coisas mais tristes que já li em minha vida. Fiquei tão impressionado que faço questão de repeti-la como uma espécie de momento de sabedoria.
AMIZADE QUANDO QUEBRA É COMO PERNA DE CAVALO. NÃO CONSERTA NUNCA MAIS.
CONTROLE REMOTO – Assisti aos primeiros capítulos de BELÍSSIMA apenas para ver o show de Fernanda Montenegro e acabei totalmente envolvido pela novela. Estou adorando a história e a maneira como ela é contada pelo autor. A direção entende as intenções de Silvio de Abreu e traduz isso muito bem para o espectador. O elenco ajuda muito apresentando um show à parte. Mas é a grande dama Fernanda Montenegro quem dá um sabor especial à novela. Sua personagem, Bia Falcão, está fazendo tanto sucesso com o público que já teve o seu destino alterado. Inicialmente a malvada Bia iria ser assassinada no meio da novela. Mas a Globo já decidiu que ela fica até o final. Até porque Fernanda Montenegro está adorando atuar numa novela onde tudo gira em torno do carisma e dos interesses de sua personagem.
Além de BELÍSSIMA estou curtindo muito a reprise da minissérie SEX-APPEAL todos os domingos no canal Multishow. É no mesmo horário do Manhattan Connection, mas eu tenho optado por assistir SEX-APPEAL já que tenho achado o Manhattan muito chato. Definitivamente, Diogo Mainardi não dá! Ele está destruindo o programa. Ainda bem que o horário está oferecendo a fantástica opção de acompanhar essa deliciosa minissérie de Antônio Calmon.
Curiosamente BELÍSSIMA e SEX-APPEAL são histórias policiais que tem o fervilhante mundo da moda como pano de fundo. Evidentemente, as tramas são completamente diferentes. Mas ambas representam excelente diversão. Grandes atores, um belo texto e a direção colocada. Em comum entre as duas produções as presenças no elenco dos atores Lui Mendes e Camila Pitanga.
Foi em SEX-APPEAL que Lui e Camila foram lançados, junto com outros estreantes que acabaram fazendo carreira de sucesso na TV: Luana Piovani, Daniele Winnits e Carolina Dieckmann. Está sendo divertido rever o programa em capítulos semanais e perceber que, passados doze anos, ele continua instigante e atual. Outro nome comum entre as duas produções? Vinicius Vianna! O maravilhoso autor do livro Dedé Mamata, também conhecido como o maior pau da TV Globo.
Assistir SEX-APPEAL é uma oportunidade de matar as saudades do Rômulo Arantes, o belo Rômulo, que tão jovem morreu num acidente de avião. Ele esteve incrível no papel de Mauricinho, um playboy vaidoso que seduzia várias modelos. Sua personagem foi muito prejudicada na montagem final. É que, como Mauricinho era um narcisita do mundo da moda, suas falas eram recheadas de citações e referências a grifes estrangeiras. Então, depois que toda a minissérie tinha sido gravada, o departamento comercial da Globo reclamou, alegando que o programa estaria fazendo propaganda gratuita de marcas estrangeiras. Assim, cenas maravilhosas do Rômulo, em que ele elogiava seu jeans Banana Republic ou sua jaqueta Versace tiveram que ser cortadas. Sugestão: A Globo deveria lançar uma versão em DVD e incluir nos extras as cenas picotadas de Rômulo Arantes. O belo e saudoso Rômulo! Que saudade daquele sorriso!
Betty Lago fez cenas maravilhosas como a incrível Vic, uma produtora de moda afetada que tem um caso amoroso com Edgar, o Walmor Chagas. Aliás, os personagens do Walmor e da Cleyde Yáconis, um casal, dono de uma produtora de moda, foram inspirados em Luiz Carlos e Lucy Barreto. Uma homenagem do Calmon que os adora. Iara Jamra esteve muito divertida como a secretária trapalhona. Aliás, onde anda Iara Jamra?
Otávio Augusto arrasou como Caio, o fotógrafo gay que protegia Angel, a modelo adolescente que era perseguida pelo pai pedófilo. No início da minissérie havia uma cena em que aparecia um homem brincando com uma garotinha dentro da piscina. Mas essa cena foi cortada depois que saiu no jornal que a minissérie contava a história de uma modelo que tinha sido vítima de abuso sexual na infância. Abuso esse praticado pelo próprio pai. Nada a ver com a Xuxa!
Esse foi o ponto de partida da minissérie. Uma mãe flagra seu marido abusando sexualmente da própria filha, uma menina de seis, sete anos. Chocada com aquilo, depois de uma briga, ela acaba esfaqueando o marido. Julgando-o morto, pede ajuda a um amigo gay para se livrar do corpo e foge com a filha para fora do país. Quando volta ao Brasil, muitos anos depois, a menina já se tornou uma modelo famosa, muito jovem, que passa a ser perseguida pelo pai tarado. No texto original do programa o pai, Denis Carvalho, ligava para a filha, Luana Piovanni e dizia coisas tipo: eu quero te comer todinha. Mas esse pedaço também teve que ser cortado e o psicopata ficou apenas observando a filha adolescente pelo binóculo. Uma pena porque a minissérie abordava a pedofilia de uma forma contundente e adulta, mas o tema foi considerado muito polêmico e teve que ser suavizado. Mas isso não chegou a alterar o conteúdo do programa.
AMIZADE QUANDO QUEBRA É COMO PERNA DE CAVALO. NÃO CONSERTA NUNCA MAIS.
CONTROLE REMOTO – Assisti aos primeiros capítulos de BELÍSSIMA apenas para ver o show de Fernanda Montenegro e acabei totalmente envolvido pela novela. Estou adorando a história e a maneira como ela é contada pelo autor. A direção entende as intenções de Silvio de Abreu e traduz isso muito bem para o espectador. O elenco ajuda muito apresentando um show à parte. Mas é a grande dama Fernanda Montenegro quem dá um sabor especial à novela. Sua personagem, Bia Falcão, está fazendo tanto sucesso com o público que já teve o seu destino alterado. Inicialmente a malvada Bia iria ser assassinada no meio da novela. Mas a Globo já decidiu que ela fica até o final. Até porque Fernanda Montenegro está adorando atuar numa novela onde tudo gira em torno do carisma e dos interesses de sua personagem.
Além de BELÍSSIMA estou curtindo muito a reprise da minissérie SEX-APPEAL todos os domingos no canal Multishow. É no mesmo horário do Manhattan Connection, mas eu tenho optado por assistir SEX-APPEAL já que tenho achado o Manhattan muito chato. Definitivamente, Diogo Mainardi não dá! Ele está destruindo o programa. Ainda bem que o horário está oferecendo a fantástica opção de acompanhar essa deliciosa minissérie de Antônio Calmon.
Curiosamente BELÍSSIMA e SEX-APPEAL são histórias policiais que tem o fervilhante mundo da moda como pano de fundo. Evidentemente, as tramas são completamente diferentes. Mas ambas representam excelente diversão. Grandes atores, um belo texto e a direção colocada. Em comum entre as duas produções as presenças no elenco dos atores Lui Mendes e Camila Pitanga.
Foi em SEX-APPEAL que Lui e Camila foram lançados, junto com outros estreantes que acabaram fazendo carreira de sucesso na TV: Luana Piovani, Daniele Winnits e Carolina Dieckmann. Está sendo divertido rever o programa em capítulos semanais e perceber que, passados doze anos, ele continua instigante e atual. Outro nome comum entre as duas produções? Vinicius Vianna! O maravilhoso autor do livro Dedé Mamata, também conhecido como o maior pau da TV Globo.
Assistir SEX-APPEAL é uma oportunidade de matar as saudades do Rômulo Arantes, o belo Rômulo, que tão jovem morreu num acidente de avião. Ele esteve incrível no papel de Mauricinho, um playboy vaidoso que seduzia várias modelos. Sua personagem foi muito prejudicada na montagem final. É que, como Mauricinho era um narcisita do mundo da moda, suas falas eram recheadas de citações e referências a grifes estrangeiras. Então, depois que toda a minissérie tinha sido gravada, o departamento comercial da Globo reclamou, alegando que o programa estaria fazendo propaganda gratuita de marcas estrangeiras. Assim, cenas maravilhosas do Rômulo, em que ele elogiava seu jeans Banana Republic ou sua jaqueta Versace tiveram que ser cortadas. Sugestão: A Globo deveria lançar uma versão em DVD e incluir nos extras as cenas picotadas de Rômulo Arantes. O belo e saudoso Rômulo! Que saudade daquele sorriso!
Betty Lago fez cenas maravilhosas como a incrível Vic, uma produtora de moda afetada que tem um caso amoroso com Edgar, o Walmor Chagas. Aliás, os personagens do Walmor e da Cleyde Yáconis, um casal, dono de uma produtora de moda, foram inspirados em Luiz Carlos e Lucy Barreto. Uma homenagem do Calmon que os adora. Iara Jamra esteve muito divertida como a secretária trapalhona. Aliás, onde anda Iara Jamra?
Otávio Augusto arrasou como Caio, o fotógrafo gay que protegia Angel, a modelo adolescente que era perseguida pelo pai pedófilo. No início da minissérie havia uma cena em que aparecia um homem brincando com uma garotinha dentro da piscina. Mas essa cena foi cortada depois que saiu no jornal que a minissérie contava a história de uma modelo que tinha sido vítima de abuso sexual na infância. Abuso esse praticado pelo próprio pai. Nada a ver com a Xuxa!
Esse foi o ponto de partida da minissérie. Uma mãe flagra seu marido abusando sexualmente da própria filha, uma menina de seis, sete anos. Chocada com aquilo, depois de uma briga, ela acaba esfaqueando o marido. Julgando-o morto, pede ajuda a um amigo gay para se livrar do corpo e foge com a filha para fora do país. Quando volta ao Brasil, muitos anos depois, a menina já se tornou uma modelo famosa, muito jovem, que passa a ser perseguida pelo pai tarado. No texto original do programa o pai, Denis Carvalho, ligava para a filha, Luana Piovanni e dizia coisas tipo: eu quero te comer todinha. Mas esse pedaço também teve que ser cortado e o psicopata ficou apenas observando a filha adolescente pelo binóculo. Uma pena porque a minissérie abordava a pedofilia de uma forma contundente e adulta, mas o tema foi considerado muito polêmico e teve que ser suavizado. Mas isso não chegou a alterar o conteúdo do programa.
22.11.05
O POETA ILUMINADO - Cada vez que leio os poemas de Eucanãa Ferraz descubro novos significados nas palavras, nas rimas e nas intenções. Gosto de ler seus poemas em voz alta, ouvindo o som das palavras.
CONTO
para Eugénio de Andrade
Ainda não era menino
ou menina.
Tudo o que sabia
era o nome das cores.
Tudo o que sentia era
sede e fome.
Mas houve o verão em que
os barcos não regressaram. Foi quando,
apontando a linha do horizonte, a mãe
disse ao seu ouvido:
- és um homem.
MORTE NO MAR
a T. S. Elliot
Lembro do rapaz que vi morrer na praia.
Os olhos abertos
- uma luz tão fria -
conchas espantadas que eram.
As mãos nada diziam de
anêmonas e navios.
Eu era um menino e
o azul verde da água.
Alto e belo, o afogado,
um capitão.
SÃO SEBASTIÃO
Assim: como se,
sob o peixe, um brasido.
Ou: seda
em pleno fogo.
Como se brotassem de
seu peito e coxas
as flexas que
lhe comem a carne.
Arde, como um homem arde
(carne em jejum),
como um bicho morre.
Pede - e Deus lhe beija a boca.
MAR MÍNIMO
Grandes são os marinheiros e os poetas
que fazem caber em seus versos
a glória de horizontes
inventados ou vividos e que,
em grandíloquo e corrente estilo,
erguem cidades magníficas,
domam línguas, contam-nos pélagos e obeliscos.
Mas que fazer da escama
que sobrasse após os mares,
agarrada à roupa mais que
Veneza ou Viena à memória?
Escutai: é nessa minúscula opalina
que muitos sabem o poema
- mais duas ou três palavras
e o martelo certo de fazê-lo.
Rotas magníficas, não mais,
nem quantas as maravilhas
(e cessem com elas os iluminados que contam
de terras por si mesmas lavradias).
O mar pode ser isto: o ar
dentro da concha. Dentro:
o sargaço, o barco, o sargo,
a enseada. Onde poderá ser mais belo
e largo? A onda bravia
sobre um grão de mostarda.
CONTO
para Eugénio de Andrade
Ainda não era menino
ou menina.
Tudo o que sabia
era o nome das cores.
Tudo o que sentia era
sede e fome.
Mas houve o verão em que
os barcos não regressaram. Foi quando,
apontando a linha do horizonte, a mãe
disse ao seu ouvido:
- és um homem.
MORTE NO MAR
a T. S. Elliot
Lembro do rapaz que vi morrer na praia.
Os olhos abertos
- uma luz tão fria -
conchas espantadas que eram.
As mãos nada diziam de
anêmonas e navios.
Eu era um menino e
o azul verde da água.
Alto e belo, o afogado,
um capitão.
SÃO SEBASTIÃO
Assim: como se,
sob o peixe, um brasido.
Ou: seda
em pleno fogo.
Como se brotassem de
seu peito e coxas
as flexas que
lhe comem a carne.
Arde, como um homem arde
(carne em jejum),
como um bicho morre.
Pede - e Deus lhe beija a boca.
MAR MÍNIMO
Grandes são os marinheiros e os poetas
que fazem caber em seus versos
a glória de horizontes
inventados ou vividos e que,
em grandíloquo e corrente estilo,
erguem cidades magníficas,
domam línguas, contam-nos pélagos e obeliscos.
Mas que fazer da escama
que sobrasse após os mares,
agarrada à roupa mais que
Veneza ou Viena à memória?
Escutai: é nessa minúscula opalina
que muitos sabem o poema
- mais duas ou três palavras
e o martelo certo de fazê-lo.
Rotas magníficas, não mais,
nem quantas as maravilhas
(e cessem com elas os iluminados que contam
de terras por si mesmas lavradias).
O mar pode ser isto: o ar
dentro da concha. Dentro:
o sargaço, o barco, o sargo,
a enseada. Onde poderá ser mais belo
e largo? A onda bravia
sobre um grão de mostarda.
20.11.05
FOLIA NA FLORESTA – A temperatura em Manaus vai subir ainda mais no próximo fim de semana com a realização da quinta edição do JUNGLE FIGHT, um campeonato de VALE TUDO em plena selva amazônica. O torneio é uma produção do amazonense Wallid Ismail, um ex-lutador que hoje é empresário de eventos de artes marciais.
CONTRA O VENTO – Esse blog merece uma visita.
O amor não dura mais que um dia, mas esse dia não tem fim.
A CORRIDA PARA O ABISMO – O italiano Michelangelo Merisi, também conhecido pelo nome de Caravaggio, uma referência ao pequeno vilarejo onde nasceu, foi um dos mais influentes pintores de todos os tempos. Suas polêmicas e realistas obras-primas revolucionaram as artes plásticas, mas sua vida pessoal é até hoje um enigma para os historiadores. O artista, nascido em 1573 e desaparecido em 1610, não deixou qualquer tipo de diário ou anotação que pudesse iluminar um único momento de sua existência cotidiana.
Dessa forma, o escritor Dominique Fernandez decidiu utilizar o silêncio de Caravaggio como ponto de partida do livro A corrida para o abismo. Ao observar e analisar detalhadamente as telas do pintor, Fernandez, tragado pela imaginação febril, constrói um romance que não deixa de ser, também, o relato de uma existência possível de Michelangelo Merisi, na qual não existem fronteiras entre realidade e ficção. Dominique Fernandez é um escritor brilhante que gosta de escrever biografias de artistas homossexuais como Tchaikovski e Pasolini. A corrida para o abismo é leitura obrigatória para os amantes da boa literatura.
LIGIA (Canção de Tom Jobim)
Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba não vou a Ipanema
Não gosto de chuva nem gosto de sol
E quando eu lhe telefonei, desliguei foi engano
O seu nome não sei
Esquecí no piano as bobagens de amor
Que eu iria dizer, não ... Lígia Lígia
Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana
Um chopp gelado em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon
E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão, o seu nome rasguei
Fiz um samba canção das mentiras de amor
Que aprendí com você
É ... Lígia Lígia
E quando você me envolver
Nos seus braços serenos eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo que um raio de sol
CONSELHO
É sempre bom dizer a verdade. Não tenhas medo de chocar, de provocar, se tua palavra vem do teu interior, sem constrangimento.
FRASE
"Não supooooorrrto o governo Lula". - Danuza Leão
REFREXÃO
Eu também não supoooorrto o governo Lula. É muita incompetência. Muita jequice. Muita roubalheira. Muita pobreza de espírito. Os quatro anos de governo já estão acabando e o pilantra safado até hoje não começou a governar.
15.11.05
A DONA DO BASEADO – É o melhor programa de TV do ano, depois de La Noche del 10, naturalmente. Estou falando da série WEEDS, que conta a história de uma dona de casa de uma cidadezinha do interior dos EUA que vende maconha. WEEDS é uma fábula sobre o tráfico soft e uma divertida série sobre condutas sociais no século 21. Além disso, o programa revela um retrato fantástico de pessoas que lidam com as drogas de uma forma civilizada.
Muita gente, hoje em dia, vive como Nancy Botwin, a protagonista do seriado, personaagem da atriz Mary-Louise Parker: ganha dinheiro vendendo maconha. O comércio de drogas é uma atividade muito lucrativa. Mas também muito arriscada. Muitas vezes, andando na praia, eu encontro um monte de gente que fica me oferecendo maconha. “Chegou um fumo que é um veneno”, costuma dizer um garotão do Arpoador querendo valorizar seu produto. “Minha maconha é a melhor da cidade”, avisa um rapaz que mora num prédio perto do meu. É muito engraçado.
Eu conheço um surfista que vendeu fumo durante muitos anos na zona sul do Rio. Depois ele se mudou, foi morar em outra cidade, e hoje em dia quem vende o fumo é o filho dele que cresceu e já está com quase vinte anos. Uma atividade que passa de pai para filho.
Como é uma atividade ilegal, muitas vezes as pessoas que trabalham nesse comércio correm riscos. Na maioria das vezes o risco é a própria polícia.
Em meados de outubro um garotão de Copacabana, que vendia maconha para uma galera da Zona Sul, levou um bote da polícia. Os caras chegaram em cima dele e fizeram o maior terrorismo. Disseram que iam levá-lo para a Polinter, que a cara dele ia aparecer algemado na televisão e que ele ia ser preso como traficante, etc. E que a única maneira dele se livrar disso tudo era pagando dez mil reais para os pilantras. Apesar de não ter sido encontrado flagrante, o garotão ficou apavorado e entregou todas as suas economias para os canalhas. O chato dessa história é que a vítima dos policiais é um sujeito super gente boa, alto astral, querido pelos amigos, um cavalheiro com as mulheres, bonito, físico de atleta, um doce de pessoa.
Muita gente, hoje em dia, vive como Nancy Botwin, a protagonista do seriado, personaagem da atriz Mary-Louise Parker: ganha dinheiro vendendo maconha. O comércio de drogas é uma atividade muito lucrativa. Mas também muito arriscada. Muitas vezes, andando na praia, eu encontro um monte de gente que fica me oferecendo maconha. “Chegou um fumo que é um veneno”, costuma dizer um garotão do Arpoador querendo valorizar seu produto. “Minha maconha é a melhor da cidade”, avisa um rapaz que mora num prédio perto do meu. É muito engraçado.
Eu conheço um surfista que vendeu fumo durante muitos anos na zona sul do Rio. Depois ele se mudou, foi morar em outra cidade, e hoje em dia quem vende o fumo é o filho dele que cresceu e já está com quase vinte anos. Uma atividade que passa de pai para filho.
Como é uma atividade ilegal, muitas vezes as pessoas que trabalham nesse comércio correm riscos. Na maioria das vezes o risco é a própria polícia.
Em meados de outubro um garotão de Copacabana, que vendia maconha para uma galera da Zona Sul, levou um bote da polícia. Os caras chegaram em cima dele e fizeram o maior terrorismo. Disseram que iam levá-lo para a Polinter, que a cara dele ia aparecer algemado na televisão e que ele ia ser preso como traficante, etc. E que a única maneira dele se livrar disso tudo era pagando dez mil reais para os pilantras. Apesar de não ter sido encontrado flagrante, o garotão ficou apavorado e entregou todas as suas economias para os canalhas. O chato dessa história é que a vítima dos policiais é um sujeito super gente boa, alto astral, querido pelos amigos, um cavalheiro com as mulheres, bonito, físico de atleta, um doce de pessoa.
14.11.05
A LINHA DA BELEZA – Foi com grande prazer que li as quase quinhentas páginas do aclamado livro do escritor inglês Alan Hollinghurst, A linha da beleza, que chega às livrarias de todo Brasil esta semana. O que eu poderia dizer do livro? Encantador? Mágico? Belo? Surpreendente? Eu não saberia exatamente como defini-lo. Mas diria que foram muito especiais os momentos que passei debruçado sobre cada uma de suas páginas.
A linha da beleza se passa nos anos 80. Conta a história de Nick Guest, um garoto do subúrbio de Londres, que estudou em Oxford onde ficou amigo de Toby, um garoto rico, de família influente nos meios políticos da Inglaterra, já que o pai, Gerald Fedden, é membro do Parlamento. A história começa em 1983 quando, aos 20 anos, Nick sai do subúrbio e vai morar na mansão da família Fedden, em Notting Hill, a pretexto de ficar mais perto da universidade.
Nick é homossexual. Quando se muda para Londres, aproveitando que está longe da família, o jovem se envolve com Leo, um rapaz negro que conhece através de uma revista de encontros. É com Leo que Nick tem a sua primeira relação homossexual de fato. Em Oxford, Nick havia se apaixonado por Toby, mas desistira do rapaz ao perceber que ele era heterossexual. Isso não impediu que eles ficassem amigos e que Toby o convidasse para ir morar com sua família, que trata Nick como se fosse um filho.
O livro acompanha os quatro anos em que Nick foi hóspede da família Fedden e mostra como o garoto do subúrbio acabou freqüentando as altas rodas da aristocracia política, social e econômica da Inglaterra. Com o requinte de um Oscar Wilde Alan Hollinghurst descreve as festas, os climas, os jantares, as modas, a cultura, os hábitos e os valores de uma Inglaterra que, sob a égide da primeira-ministra Margareth Thatcher, acabara de sair vitoriosa de uma guerra contra a Argentina nas ilhas Falklands. E o pano de fundo desse universo é o devastador surgimento da AIDS.
A narrativa culta e elegante reforça o comportamento do mundo que o romance se propõe a descrever. Num dos grandes momentos do livro Gerald Fedden oferece um jantar na sua casa para a primeira-ministra Margareth Tatcher. O autor descreve a excitação dos personagens com a visita da Dama de Ferro, assim como os preparativos para a chegada da poderosa. Durante a festa Nick é apresentado a mais importante autoridade política da Inglaterra. Num ato de coragem, a convida para dançar e, para surpresa de todos, ela aceita. O rapaz tem um grande momento de glória social.
Quando a Dama de Ferro começa a conversar com o anfitrião e outras autoridades, Nick sobe as escadas da mansão e vai cheirar cocaína com Wani, um descendente de libanês milionário e bonitão, filho de uma familia de amigos dos Fedden, com quem ele acaba tendo um caso. Juntos com eles está um garçom que haviam seduzido numa outra festa, num castelo que a família possui no campo. Depois de várias fileiras de pó, Nick, Wani e o garçom fazem uma suruba no banheiro do seu quarto, enquanto lá embaixo a primeira-ministra é recepcionada pela família Fedden.
Na primeira metade do livro tudo parece correr bem para Nick e seus amigos ricos. Seu caso secreto com Wani o deixa muito satisfeito já que o rapaz é muito bonito e esportista, um tipo que lhe atrai muito. Wani namora uma garota, mas é só fachada para satisfazer sua tradicional família libanesa. A carreira política de Gerald Fedden vai de vento em popa e todos parecem muito felizes. Um belo dia a família está passando férias num castelo na França quando a mulher de Gerald recebe um telefonema de Londres, avisando que o tio dela havia morrido de pneumonia. Fica um clima estranho com a notícia até que a filha rebelde explode: “Ora bolas, mamãe. Ele morreu de AIDS!”. É o primeiro sinal de que as coisas estão começando a mudar.
Um ano depois Nick está esperando por Wani num restaurante chique, acompanhado de dois americanos, com quem o jovem milionário está negociando a produção de um filme. Quando Wani chega os americanos tomam um susto com a figura do rapaz. Ele está magro, esquelético, com dificuldade para andar. O jovem e belo Wani de um ano atrás se transformou naquilo que o livro descreve como “um mau ator imitando um velho”. O namorado de Nick foi contaminado pela doença. Nesse trecho o livro descreve o físico debilitado de Wani e a reação das pessoas à sua figura e ao seu estado de saúde. É amargo o momento em que Fabio, o dono do restaurante se mostra incomodado com a presença de Wani, deixando claro que isso não seria bom para o seu estabelecimento. Logo ele que, um ano antes, tratava Wani e seus amigos com tanta receptividade.
Algumas páginas depois Nick recebe a visita da irmã lésbica de Leo, o rapaz negro com quem teve seu primeiro caso amoroso. O namoro já havia acabado há muito tempo e eles não se viam mais. A irmã de Leo foi avisar a Nick que o rapaz tinha acabado de morrer. E ela estava procurando todos os ex-namorados do irmão para que soubessem a causa da sua morte.
Enquanto isso Gerald Fedden se vê envolvido num escândalo político. Ele é acusado de desvio de dinheiro público que parece ter sido misturado com o dinheiro de suas empresas. A imprensa começa a investigar a vida de Fedden e chega até Nick. Descobre que o rapaz é homossexual e faz um escândalo com o fato. Pederastia na casa de um membro do Parlamento, é a manchete de um dos tablóides sensacionalistas daqueles anos 80.
O escândalo provoca uma crise no governo. E a família Fedden, que nunca deu importância ao comportamento sexual de Nick, acaba expulsando-o de sua mansão. “Eu quero que você saia da minha casa agora mesmo”, diz Gerald Fedden, que sempre o tratara como um filho. Nick fica arrasado por ter perdido o carinho da família. Quando sai da casa dos Fedden, o livro descreve a angústia de Nick que, antes de ir para sua nova residência, com apenas 24 anos, precisa passar numa clínica e pegar o resultado do seu exame de HIV.
Lágrimas...
A linha da beleza se utiliza de acontecimentos sociais e políticos dos anos 80 para descrever o impacto da AIDS nas relações humanas. E faz isso com muita classe e profundidade, mesmo que muitas vezes pareça ser uma história sobre um mundo fútil e superficial. O autor revela-se um grande observador, já que o livro demonstra nos diálogos, ou em pequenas observações, ou nas reações e comportamento dos seus diversos personagens, como a AIDS foi cruel com toda uma geração. Ao mesmo tempo, deixa bem claro para os seus leitores que aqueles tempos terríveis e cruéis não destruíram os homossexuais. Ao contrário. Os deixaram mais fortes.
A linha da beleza é um livro belíssimo, ganhador do Booker Prize, o mais importante prêmio literário da Inglaterra.
A LINHA DA BELEZA (Trecho do livro)
Wani estava de joelhos, tentando desajeitadamente fazer justiça à coisa que sempre queria. Suas calças estavam arriadas, mas o pênis pequeno, diminuído pelo efeito devastador da cocaína, continuava enrugado, quase escondido. Ele se sentia perdido, mais que humilhado – e tinha pago por isso. Fungava enquanto lambia e chupava o pau, e o muco brilhante, salpicado de sangue e pó não dissolvido escorreu do seu famoso nariz para o colo do garçom. Obviamente o garçom nunca tinha ficado assim, aprendeu o perigo pelo exemplo de Wani. Passou a tagarelar, como se estivesse no meio de amigos. Baixou a cabeça e disse para Wani:
- Foi quando eu vi esse cara pela primeira vez. Na festa do sr. Toby. Ele me deu cocaína e eu comi o rabo dele.
- O rabo dele? – Nick sorriu com um misto de frieza e hilaridade, um certo respeito pela travessura, ainda que dolorosa. Viu Tristão passar as mãos no cabelo ondulado do seu amante, de uma forma cuidadosa, paciente, familiar, quase como se Wani não o estivesse chupando, como se ele fosse uma criança linda e mimada entre adultos, ansiosa por elogios. Tristão mexeu no cabelo dele, sorriu e o elogiou.
- Ele sempre paga melhor que os outros.
- Tenho certeza que sim! – disse Nick, tirando o preservativo do bolso.
- Lá vamos nós – disse Tristão.
No andar de baixo a primeira-ministra estava indo embora. Gerald havia dançado com ela durante quase dez minutos. Tinha o brilho da intimidade e a iluminação do sucesso ao acompanhá-la até o carro, apesar da chuva. Os últimos fogos ainda pipocavam como bombas e tiros de espingardas, e todos olharam para cima. Rachel ficou no portal, Penny atrás dela, enquanto Gerald assumindo o lugar do policial do Serviço Secreto, inclinou-se para frente e bateu a porta do carro com uma reverência involuntária e feliz.
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
(Capitulo 12)
O que você sabe a respeito do caso? O Rei perguntou a Alice.
- Nada – respondeu Alice.
- Nada de nada? – Persistiu o Rei.
- Nada de nada – disse Alice.
- Isso é muito importante – disse o Rei, voltando-se para o júri. Os jurados começavam a escrever isso nas lousas quando o Coelho Branco os interrompeu
- Desimportante foi o que Vossa Majestade quis dizer, é claro – falou em tom respeitoso, mas franzindo as sobrancelhas e fazendo careta para o rei enquanto falava.
- Desimportante, é claro, foi o que eu quis dizer – retomou o Rei, e falando consigo mesmo baixinho – importante, desimportante, importante, desimportante – como se estivesse tentando ver qual seria a melhor palavra.
A linha da beleza se passa nos anos 80. Conta a história de Nick Guest, um garoto do subúrbio de Londres, que estudou em Oxford onde ficou amigo de Toby, um garoto rico, de família influente nos meios políticos da Inglaterra, já que o pai, Gerald Fedden, é membro do Parlamento. A história começa em 1983 quando, aos 20 anos, Nick sai do subúrbio e vai morar na mansão da família Fedden, em Notting Hill, a pretexto de ficar mais perto da universidade.
Nick é homossexual. Quando se muda para Londres, aproveitando que está longe da família, o jovem se envolve com Leo, um rapaz negro que conhece através de uma revista de encontros. É com Leo que Nick tem a sua primeira relação homossexual de fato. Em Oxford, Nick havia se apaixonado por Toby, mas desistira do rapaz ao perceber que ele era heterossexual. Isso não impediu que eles ficassem amigos e que Toby o convidasse para ir morar com sua família, que trata Nick como se fosse um filho.
O livro acompanha os quatro anos em que Nick foi hóspede da família Fedden e mostra como o garoto do subúrbio acabou freqüentando as altas rodas da aristocracia política, social e econômica da Inglaterra. Com o requinte de um Oscar Wilde Alan Hollinghurst descreve as festas, os climas, os jantares, as modas, a cultura, os hábitos e os valores de uma Inglaterra que, sob a égide da primeira-ministra Margareth Thatcher, acabara de sair vitoriosa de uma guerra contra a Argentina nas ilhas Falklands. E o pano de fundo desse universo é o devastador surgimento da AIDS.
A narrativa culta e elegante reforça o comportamento do mundo que o romance se propõe a descrever. Num dos grandes momentos do livro Gerald Fedden oferece um jantar na sua casa para a primeira-ministra Margareth Tatcher. O autor descreve a excitação dos personagens com a visita da Dama de Ferro, assim como os preparativos para a chegada da poderosa. Durante a festa Nick é apresentado a mais importante autoridade política da Inglaterra. Num ato de coragem, a convida para dançar e, para surpresa de todos, ela aceita. O rapaz tem um grande momento de glória social.
Quando a Dama de Ferro começa a conversar com o anfitrião e outras autoridades, Nick sobe as escadas da mansão e vai cheirar cocaína com Wani, um descendente de libanês milionário e bonitão, filho de uma familia de amigos dos Fedden, com quem ele acaba tendo um caso. Juntos com eles está um garçom que haviam seduzido numa outra festa, num castelo que a família possui no campo. Depois de várias fileiras de pó, Nick, Wani e o garçom fazem uma suruba no banheiro do seu quarto, enquanto lá embaixo a primeira-ministra é recepcionada pela família Fedden.
Na primeira metade do livro tudo parece correr bem para Nick e seus amigos ricos. Seu caso secreto com Wani o deixa muito satisfeito já que o rapaz é muito bonito e esportista, um tipo que lhe atrai muito. Wani namora uma garota, mas é só fachada para satisfazer sua tradicional família libanesa. A carreira política de Gerald Fedden vai de vento em popa e todos parecem muito felizes. Um belo dia a família está passando férias num castelo na França quando a mulher de Gerald recebe um telefonema de Londres, avisando que o tio dela havia morrido de pneumonia. Fica um clima estranho com a notícia até que a filha rebelde explode: “Ora bolas, mamãe. Ele morreu de AIDS!”. É o primeiro sinal de que as coisas estão começando a mudar.
Um ano depois Nick está esperando por Wani num restaurante chique, acompanhado de dois americanos, com quem o jovem milionário está negociando a produção de um filme. Quando Wani chega os americanos tomam um susto com a figura do rapaz. Ele está magro, esquelético, com dificuldade para andar. O jovem e belo Wani de um ano atrás se transformou naquilo que o livro descreve como “um mau ator imitando um velho”. O namorado de Nick foi contaminado pela doença. Nesse trecho o livro descreve o físico debilitado de Wani e a reação das pessoas à sua figura e ao seu estado de saúde. É amargo o momento em que Fabio, o dono do restaurante se mostra incomodado com a presença de Wani, deixando claro que isso não seria bom para o seu estabelecimento. Logo ele que, um ano antes, tratava Wani e seus amigos com tanta receptividade.
Algumas páginas depois Nick recebe a visita da irmã lésbica de Leo, o rapaz negro com quem teve seu primeiro caso amoroso. O namoro já havia acabado há muito tempo e eles não se viam mais. A irmã de Leo foi avisar a Nick que o rapaz tinha acabado de morrer. E ela estava procurando todos os ex-namorados do irmão para que soubessem a causa da sua morte.
Enquanto isso Gerald Fedden se vê envolvido num escândalo político. Ele é acusado de desvio de dinheiro público que parece ter sido misturado com o dinheiro de suas empresas. A imprensa começa a investigar a vida de Fedden e chega até Nick. Descobre que o rapaz é homossexual e faz um escândalo com o fato. Pederastia na casa de um membro do Parlamento, é a manchete de um dos tablóides sensacionalistas daqueles anos 80.
O escândalo provoca uma crise no governo. E a família Fedden, que nunca deu importância ao comportamento sexual de Nick, acaba expulsando-o de sua mansão. “Eu quero que você saia da minha casa agora mesmo”, diz Gerald Fedden, que sempre o tratara como um filho. Nick fica arrasado por ter perdido o carinho da família. Quando sai da casa dos Fedden, o livro descreve a angústia de Nick que, antes de ir para sua nova residência, com apenas 24 anos, precisa passar numa clínica e pegar o resultado do seu exame de HIV.
Lágrimas...
A linha da beleza se utiliza de acontecimentos sociais e políticos dos anos 80 para descrever o impacto da AIDS nas relações humanas. E faz isso com muita classe e profundidade, mesmo que muitas vezes pareça ser uma história sobre um mundo fútil e superficial. O autor revela-se um grande observador, já que o livro demonstra nos diálogos, ou em pequenas observações, ou nas reações e comportamento dos seus diversos personagens, como a AIDS foi cruel com toda uma geração. Ao mesmo tempo, deixa bem claro para os seus leitores que aqueles tempos terríveis e cruéis não destruíram os homossexuais. Ao contrário. Os deixaram mais fortes.
A linha da beleza é um livro belíssimo, ganhador do Booker Prize, o mais importante prêmio literário da Inglaterra.
A LINHA DA BELEZA (Trecho do livro)
Wani estava de joelhos, tentando desajeitadamente fazer justiça à coisa que sempre queria. Suas calças estavam arriadas, mas o pênis pequeno, diminuído pelo efeito devastador da cocaína, continuava enrugado, quase escondido. Ele se sentia perdido, mais que humilhado – e tinha pago por isso. Fungava enquanto lambia e chupava o pau, e o muco brilhante, salpicado de sangue e pó não dissolvido escorreu do seu famoso nariz para o colo do garçom. Obviamente o garçom nunca tinha ficado assim, aprendeu o perigo pelo exemplo de Wani. Passou a tagarelar, como se estivesse no meio de amigos. Baixou a cabeça e disse para Wani:
- Foi quando eu vi esse cara pela primeira vez. Na festa do sr. Toby. Ele me deu cocaína e eu comi o rabo dele.
- O rabo dele? – Nick sorriu com um misto de frieza e hilaridade, um certo respeito pela travessura, ainda que dolorosa. Viu Tristão passar as mãos no cabelo ondulado do seu amante, de uma forma cuidadosa, paciente, familiar, quase como se Wani não o estivesse chupando, como se ele fosse uma criança linda e mimada entre adultos, ansiosa por elogios. Tristão mexeu no cabelo dele, sorriu e o elogiou.
- Ele sempre paga melhor que os outros.
- Tenho certeza que sim! – disse Nick, tirando o preservativo do bolso.
- Lá vamos nós – disse Tristão.
No andar de baixo a primeira-ministra estava indo embora. Gerald havia dançado com ela durante quase dez minutos. Tinha o brilho da intimidade e a iluminação do sucesso ao acompanhá-la até o carro, apesar da chuva. Os últimos fogos ainda pipocavam como bombas e tiros de espingardas, e todos olharam para cima. Rachel ficou no portal, Penny atrás dela, enquanto Gerald assumindo o lugar do policial do Serviço Secreto, inclinou-se para frente e bateu a porta do carro com uma reverência involuntária e feliz.
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
(Capitulo 12)
O que você sabe a respeito do caso? O Rei perguntou a Alice.
- Nada – respondeu Alice.
- Nada de nada? – Persistiu o Rei.
- Nada de nada – disse Alice.
- Isso é muito importante – disse o Rei, voltando-se para o júri. Os jurados começavam a escrever isso nas lousas quando o Coelho Branco os interrompeu
- Desimportante foi o que Vossa Majestade quis dizer, é claro – falou em tom respeitoso, mas franzindo as sobrancelhas e fazendo careta para o rei enquanto falava.
- Desimportante, é claro, foi o que eu quis dizer – retomou o Rei, e falando consigo mesmo baixinho – importante, desimportante, importante, desimportante – como se estivesse tentando ver qual seria a melhor palavra.
8.11.05
A POBREZA COMO NEGÓCIO - Seriam os pobres os atores principais do governo Lula? Pergunta o JORNAL DO BRASIL numa pesquisa com os leitores. É que o Presidente Lula anda repetindo essa frase que parece ter sido criada por algum publicitário da agencia do Duda Mendonça: Os pobres são os atores principais do meu governo. E são mesmo, diria eu subindo nas tamancas de rico coadjuvante. É perfeitamente compreensível que Lula se dedique aos pobres. Afinal, foi graças aos pobres que Lula chegou ao poder. E para se manter lá, ele precisa que o Brasil continue pobre. Por que é que ele vai querer mudar essa situação se foi graças a ela que ele chegou ao poder? Essa é a grande tragédia do governo Lula. Aliás, é a tragédia de todo o sistema político brasileiro. Todos os partidos brasileiros se desenvolveram apostando na pobreza do povo como forma de ascensão ao poder. Isso transformou a extrema pobreza do Brasil num grande negócio para políticos trambiqueiros e seus partidos-máfias; ONGs que servem para acobertar negociatas espúrias; e aventureiros do sistema financeiro. Tem muita gente no Brasil ganhando dinheiro com a miséria. Por isso que ela só tende a aumentar.
A miséria no Brasil se tornou um negócio mais rentável do que o tráfico de drogas.
CENAS DE UM CASAMENTO – Eu sempre fico emocionado em festas de casamento. E assim foi durante o casamento da espevitada Andréa Lago com o empresário João Maia, conhecido nas areias de Copacabana como Binho. Eu já era amigo dos dois antes deles se conhecerem. Fiquei surpreso quando soube que estavam namorando. E mais surpreso ainda quando me disseram que iam casar. Foi então que eu percebi: Andréa e Binho foram feitos um para o outro.
Andréa é neta de Mario Lago, o compositor de Amélia. Torce pelo Flamengo, gosta de ir ao Maracanã, vai à praia na Vinícius, em Ipanema e adora samba, pagode e um chopinho. Ela tem jeito e espírito de carioca. Binho é a mesma coisa, só que torce pelo Fluminense. Nascido e criado em Copa, é um dos maiores jogadores de futebol de praia de sua geração.
O casamento dos pombinhos foi no Clube dos Marimbás, templo da carioquice. A cerimônia foi comovente e a festa um exemplo de animação. Os amigos do noivo, como a turma de machões do Posto Seis e a galera do futebol de praia, estavam todos presentes, tomando todas e animando a festa com alto astral e brincadeiras. As amigas da noiva não fizeram por menos e marcaram presença exibindo beleza e elegância.
A bebida farta deixou os convidados animados logo cedo. Como a maioria das pessoas se conhecia, não faltaram brincadeiras, piadas, gozações, flertes e climas. A noite chuvosa deu um tom mais intimista à festa e o clima frio deixou mais confortável o uso de vestidos longos e paletós. Além disso, a deslumbrante vista da praia de Copacabana, observada da varanda do clube, concedeu à festa um clima ainda mais carioca. Ao mesmo tempo, na pista de dança, o DJ botava todo mundo para dançar tocando um pouco de tudo.
Um dos grandes personagens da festa foi Alexandre, conhecido jogador de futebol de praia, amigo do noivo. Alexandre é uma grande figura. Um típico machão carioca, cheio de marra, craque disputado pelos times da areia, sujeito de temperamento explosivo e inquieto. Dono de um grande coração é um rapaz de boa índole, garanhão sedutor que pega todas as mulheres. Ele ficou muito bonito de terno e gravata e, bebendo uísque sem parar, logo ficou bêbado.
Alexandre estava meio chateado por ter brigado com a namorada, mas tentava disfarçar fazendo piada com todo mundo. Os outros rapazes ficavam mexendo na bunda dele que reagia falando bem alto no salão de festas do clube: “O único cara que pode mexer na minha bunda é o Waldir”. Depois me abraçava bem apertado, me dava altos beijos na frente de todos e sussurrava no meu ouvido: “Eu te adoro, cara. Eu amo você”. E eu adorava a sua barba por fazer espetando meu rosto. Depois ele se voltava para a galera, apontava para mim e gritava alto, para que todos ouvissem: “O cara mais macho dessa festa é esse aqui. O Waldir. Ninguém aqui é mais macho do que ele”.
Maradona é o apelido de Luís Cláudio, amigo do noivo desde criança, já que se conheceram no curso primário. Fazia tempo que eu não o via, por uma série de motivos. Ele casou, se mudou do Posto Seis, se separou, teve filho, casou de novo. A vida. Ele foi muito carinhoso comigo. Disse que sentia falta de mim e que lembrava muito da época em que a gente era mais amigo e saía junto para farras e outros agitos. “Eu nunca esqueci do dia que você me levou na estréia da peça Rock Horror Show. Você lembra disso? Depois da peça vários artistas vieram falar contigo: Daniele Winnits, Tuca Andrada, |Jorge Fernando, Claudia Ohana. Eu fiquei muito impressionado”, me disse ele.
Francamente, eu nem lembrava dessa estréia, mas depois que Maradona falou eu lembrei bem desse dia. O Jorge Fernando havia me dado dois convites para a estréia do musical Rock Horror Show, que tinha dirigido com Tuca Andrada e Claudia Ohana. Gostei tanto que assisti a peça umas dez vezes. Era sensacional. Um espetáculo muito bem produzido por Maria Ribeiro, com belas atuações dos atores, música ao vivo, cenários, figurinos e efeitos especiais de tirar o fôlego. Tudo orquestrado pela direção magnífica do Jorginho. Foi um espetáculo inesquecível. E eu fiquei feliz em saber que aquele dia foi marcante para Maradona.
Michele, Letícia e Alexandra, musas do hip hop, se esbaldaram na pista de dança. Essas garotas são incríveis. Elas adoram dançar, são super animadas, bem humoradas, lindas e liberadas. Depois de 1 da manhã foram distribuídas máscaras, língua de sogra e colares havaianos para todo mundo. Então a festa virou um baile de carnaval, com todos dançando os ritmos do carnaval da Bahia e os sambas das escolas. Adriana, uma das melhores amigas da noiva, estava linda, esvoaçando seu cabelão na pista de dança.
Juliana Rezende, a Ju, foi uma das madrinhas da noiva. Juliana faz um tipo bem esportivo e quando ela me viu perguntou o que eu estava achando dela vestida de longo. Ela estava linda com um vestido verde bem claro. Fazia tempo que eu não via a Ju e aproveitamos para colocar o papo em dia. Então ela me apresentou seu novo namorado, um rapaz másculo, com jeito de lutador. Pelo que eu percebi um pouco ciumento, mas apaixonado. As mulheres sabem das coisas.
A miséria no Brasil se tornou um negócio mais rentável do que o tráfico de drogas.
CENAS DE UM CASAMENTO – Eu sempre fico emocionado em festas de casamento. E assim foi durante o casamento da espevitada Andréa Lago com o empresário João Maia, conhecido nas areias de Copacabana como Binho. Eu já era amigo dos dois antes deles se conhecerem. Fiquei surpreso quando soube que estavam namorando. E mais surpreso ainda quando me disseram que iam casar. Foi então que eu percebi: Andréa e Binho foram feitos um para o outro.
Andréa é neta de Mario Lago, o compositor de Amélia. Torce pelo Flamengo, gosta de ir ao Maracanã, vai à praia na Vinícius, em Ipanema e adora samba, pagode e um chopinho. Ela tem jeito e espírito de carioca. Binho é a mesma coisa, só que torce pelo Fluminense. Nascido e criado em Copa, é um dos maiores jogadores de futebol de praia de sua geração.
O casamento dos pombinhos foi no Clube dos Marimbás, templo da carioquice. A cerimônia foi comovente e a festa um exemplo de animação. Os amigos do noivo, como a turma de machões do Posto Seis e a galera do futebol de praia, estavam todos presentes, tomando todas e animando a festa com alto astral e brincadeiras. As amigas da noiva não fizeram por menos e marcaram presença exibindo beleza e elegância.
A bebida farta deixou os convidados animados logo cedo. Como a maioria das pessoas se conhecia, não faltaram brincadeiras, piadas, gozações, flertes e climas. A noite chuvosa deu um tom mais intimista à festa e o clima frio deixou mais confortável o uso de vestidos longos e paletós. Além disso, a deslumbrante vista da praia de Copacabana, observada da varanda do clube, concedeu à festa um clima ainda mais carioca. Ao mesmo tempo, na pista de dança, o DJ botava todo mundo para dançar tocando um pouco de tudo.
Um dos grandes personagens da festa foi Alexandre, conhecido jogador de futebol de praia, amigo do noivo. Alexandre é uma grande figura. Um típico machão carioca, cheio de marra, craque disputado pelos times da areia, sujeito de temperamento explosivo e inquieto. Dono de um grande coração é um rapaz de boa índole, garanhão sedutor que pega todas as mulheres. Ele ficou muito bonito de terno e gravata e, bebendo uísque sem parar, logo ficou bêbado.
Alexandre estava meio chateado por ter brigado com a namorada, mas tentava disfarçar fazendo piada com todo mundo. Os outros rapazes ficavam mexendo na bunda dele que reagia falando bem alto no salão de festas do clube: “O único cara que pode mexer na minha bunda é o Waldir”. Depois me abraçava bem apertado, me dava altos beijos na frente de todos e sussurrava no meu ouvido: “Eu te adoro, cara. Eu amo você”. E eu adorava a sua barba por fazer espetando meu rosto. Depois ele se voltava para a galera, apontava para mim e gritava alto, para que todos ouvissem: “O cara mais macho dessa festa é esse aqui. O Waldir. Ninguém aqui é mais macho do que ele”.
Maradona é o apelido de Luís Cláudio, amigo do noivo desde criança, já que se conheceram no curso primário. Fazia tempo que eu não o via, por uma série de motivos. Ele casou, se mudou do Posto Seis, se separou, teve filho, casou de novo. A vida. Ele foi muito carinhoso comigo. Disse que sentia falta de mim e que lembrava muito da época em que a gente era mais amigo e saía junto para farras e outros agitos. “Eu nunca esqueci do dia que você me levou na estréia da peça Rock Horror Show. Você lembra disso? Depois da peça vários artistas vieram falar contigo: Daniele Winnits, Tuca Andrada, |Jorge Fernando, Claudia Ohana. Eu fiquei muito impressionado”, me disse ele.
Francamente, eu nem lembrava dessa estréia, mas depois que Maradona falou eu lembrei bem desse dia. O Jorge Fernando havia me dado dois convites para a estréia do musical Rock Horror Show, que tinha dirigido com Tuca Andrada e Claudia Ohana. Gostei tanto que assisti a peça umas dez vezes. Era sensacional. Um espetáculo muito bem produzido por Maria Ribeiro, com belas atuações dos atores, música ao vivo, cenários, figurinos e efeitos especiais de tirar o fôlego. Tudo orquestrado pela direção magnífica do Jorginho. Foi um espetáculo inesquecível. E eu fiquei feliz em saber que aquele dia foi marcante para Maradona.
Michele, Letícia e Alexandra, musas do hip hop, se esbaldaram na pista de dança. Essas garotas são incríveis. Elas adoram dançar, são super animadas, bem humoradas, lindas e liberadas. Depois de 1 da manhã foram distribuídas máscaras, língua de sogra e colares havaianos para todo mundo. Então a festa virou um baile de carnaval, com todos dançando os ritmos do carnaval da Bahia e os sambas das escolas. Adriana, uma das melhores amigas da noiva, estava linda, esvoaçando seu cabelão na pista de dança.
Juliana Rezende, a Ju, foi uma das madrinhas da noiva. Juliana faz um tipo bem esportivo e quando ela me viu perguntou o que eu estava achando dela vestida de longo. Ela estava linda com um vestido verde bem claro. Fazia tempo que eu não via a Ju e aproveitamos para colocar o papo em dia. Então ela me apresentou seu novo namorado, um rapaz másculo, com jeito de lutador. Pelo que eu percebi um pouco ciumento, mas apaixonado. As mulheres sabem das coisas.
7.11.05
PARIS EM CHAMAS – Tenho sentido muitas saudades de Paris. Saudades das caminhadas em Saint-German-Des-Prés. Das noitadas na Rive Gauche. Dos passeios de barco no rio Sena. Das vitrines nas lojas dos grandes estilistas na rue Saint Honoré. Sinto, acima de tudo, uma saudade muito grande do espírito da cidade. Uma coisa que está no ar, que paira sobre as pessoas.
Na véspera do último 14 de julho eu peguei um táxi do Champs Elysées até Saint-Germain-Des-Prés. O motorista era muito simpático e fomos batendo um bom papo no caminho. Quando atravessamos a ponte de l´Alma eu comecei a elogiar a cidade, sua beleza, harmonia e civilidade. E o motorista então me disse: “Muito sangue foi derramado para que nós conseguíssemos isso”. Havia tristeza na sua voz.
Eu tenho lembrado muito desse motorista de táxi quando acompanho pelos jornais e pela TV os conflitos dos últimos dias nos subúrbios de Paris. As imagens de carros e prédios pegando fogo deixam o meu coração cheio de tristeza. E eu me lembro logo do espírito da cidade que já viu tanto sangue derramado e agora é obrigado assistir a mais esse espetáculo de terror.
Os incêndios provocados pelos rebeldes me trazem à mente o que para mim é o maior fetiche de Paris: os bombeiros. Les pompiers. Os mais bonitos rapazes da cidade estão no corpo de bombeiros. Foi tão emocionante vê-los desfilando no Champs Elysées durante a parada militar do 14 de julho. O público aplaudindo com entusiasmo e os belos desfilando orgulhosos de suas fardas. Certamente, nos últimos dias, os garotos devem estar trabalhando muito. Arriscando a vida entre labaredas. Tentando evitar que a tragédia seja ainda maior. Que Deus abençoe os bombeiros de Paris.
A VOZ E O SOM – Adoro uma cantora chamada FORTUNA. Quando vi o show dela pela primeira vez fiquei apaixonado. Afinada, bonita e exótica, ela cantava apenas músicas judaicas com uma voz celestial e arranjos belíssimos. Eu fiquei impressionado com o que ouvi e vi. Ela é charmosa, sensual e tem uma voz que me deixa inebriado.
FORTUNA acabou de lançar um novo CD que é absolutamente genial. Ela fez uma pesquisa sobre a influencia da música judaica nos ritmos brasileiros. E gravou um disco inteiro com canções que misturam com muita propriedade elementos do folclore judaico com a música nordestina como o frevo e a ciranda. Segundo FORTUNA esses ritmos tipicamente pernambucanos são uma evolução de antiqüíssimos cantos judaicos. Afinal, Pernambuco possui uma das maiores e mais antigas colônias judaicas do Brasil.
O CD é impressionante. Tem desde cirandas até um clássico do carnaval pernambucano, “Ai se eu tivesse”, sucesso do compositor Capiba. “Leva eu saudade”, uma belíssima canção popular de Alagoas e “Guilhermina”, canção do folclore do Rio Grande do Norte. Além de canções de Jacob do bandolim e Pixinguinha. O resultado dessa mistura é uma música jovem e vibrante. Aplausos de pé para FORTUNA.
INVENTANDO CARNAVAIS - O carnaval do Rio, quem diria, começou na França. A grande festa que mobiliza os cariocas todos os anos é descendente direta dos carnavais de Paris no século XIX. Como os folguedos de Momo surgiram no Rio de Janeiro por influência das festas pagãs que animavam parisienses é o que mostra o livro Inventando carnavais, do professor Felipe Ferreira, mestre em História da Arte pela Escola de Belas Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o historiador o projeto da elite brasileira da época, de implantar no Brasil uma cultura civilizada, nos moldes da européia, incluía essa festividade. Os folguedos e bailes de máscaras dos franceses serviram de inspiração para os chamados entrudos, festas que foram o embrião do que acabou se transformando no Carnaval carioca.
Inventando carnavais mergulha na história do Rio de Janeiro, então capital do Império e, logo em seguida, capital da emergente República, para narrar como o jeitinho brasileiro traduziu para nossa cultura o carnaval que já era moda na Europa, não só em Paris, como também em cidades como Nice e Roma, com suas algazarras, festejos, máscaras e orgias. No livro a festa carnavalesca é abordada em sua relação com o espaço urbano por ela ocupado física e simbolicamente. Esse ponto de vista permite que se compreendam não somente as modificações ocorridas na festa através do tempo, mas, principalmente, o mecanismo de influências exercidas sobre ela a cada momento histórico. Para realçar seus argumentos o autor recheou o livro com noticias de jornais e ilustrações que datam a partir do longínquo ano de 1840. Nessa época os matutinos já davam destaques aos desfiles dos blocos carnavalescos que existiram muito antes das escolas de samba, animando foliões no centro da cidade. Blocos como Urubus Chumbados, Prazer da Providência, Triumpho do Cumcumbys e o Prazer da Mocidade arrastaram multidões nos carnavais cariocas do final do século XIX.
Inventando carnavais mostra que, a exemplo do futebol, que nasceu inglês e foi transformado no mais brasileiro dos esportes, o carnaval também foi importado da Europa e que, só depois de adaptado aos elementos da cultura brasileira, transformou-se na maior festa popular do mundo. Ao abordar a evolução do carnaval carioca sob a ótica dos acontecimentos históricos e das transformações geográficas da cidade, o professor Felipe Ferreira concebeu um livro que é informativo, curioso e original.
(Resenha publicada no Caderno B)
SHOW DE BOLA - Alexander Pickl é um diretor de publicidade alemão que sempre foi apaixonado pelo Brasil. Quando teve a oportunidade de dirigir o seu primeiro longa-metragem decidiu filmar a história no Brasil, inspirado em Cidade de Deus, filme de Fernando Meireles, que também é um exímio diretor de comerciais. Aproveitando que o seu país será sede da próxima Copa do Mundo, ele decidiu ter o futebol brasileiro como tema do seu primeiro filme. Assim surgiu o filme Show de bola, rodado no Brasil no primeiro semestre de 2005, com um elenco totalmente brasileiro.
Com ritmo de videoclipe, uma eficiente fotografia e belas cenas de jogos de futebol, o filme Show de Bola conta a história de Tiago, um garoto da favela que tem muito talento para futebol e sua luta para se tornar jogador profissional. A exemplo de Cidade de Deus, o filme tem um grande número de cenas filmadas na favela e o elenco é formado por atores do grupo Nós do Morro, de Gutti Fraga. No papel do jogador de futebol se destaca o jovem astro Tiago Martins que, além de bom ator, dá um show jogando futebol.
Lui Mendes personifica Tubarão, o bandido que comanda o tráfico de drogas na favela. O modelo Gabriel Mattar tem uma ótima atuação como o irmão mais velho do protagonista. E a atriz Sandra Pêra tem uma magnífica atuação como a mãe dos rapazes, uma mulher doente, que precisa ser cuidada pelos filhos.
O filme foi rodado em maio e junho de 2005, então a equipe pode filmar no Maracanã antes do estádio fechar para reforma. Também foram feitas cenas no Arpoador, Botafogo, São Conrado, no campo do Fluminense e numa favela no Catete. O diretor quer lançar o filme na Alemanha, um mês antes do início da Copa do Mundo. O sonho de Alexander Pickl é que o prestígio do futebol brasileiro faça com que seu filme tenha o mesmo sucesso de Cidade de Deus.
VINICIUS, UMA COMÉDIA ROMÂNTICA - O filme Vinicius , de Miguel Faria Jr, pode ser classificado como uma comédia romântica. Comédia porque o filme é muito engraçado e faz o espectador tanto sorrir como gargalhar. Romântica porque o personagem retratado foi um homem que viveu do amor. Amor pela vida, pelos amigos, pelas mulheres, pela arte. E o diretor conseguiu, com muito talento, traduzir no filme a personalidade do homem, do diplomata e do poeta Vinicius de Moraes. Intercalando com muita propriedade imagens do artista com depoimentos de pessoas que conviveram com ele, clipes de algumas de suas mais famosas canções, e poemas recitados pelos atores Ricardo Blat e Camila Morgado, o filme constrói um painel informativo e inteligente deste que foi um dos grandes artistas brasileiros e um filósofo do estilo brasileiro de viver.
"O Vinicius ajudou o povo brasileiro a ser feliz", diz Ferreira Gullar no seu depoimento. E o filme mostra isso de forma bem clara: com sua música, sua poesia e o seu jeito de viver, Vinicius fez o Brasil se divertir, sonhar e amar. O depoimento das pessoas que conviveram com ele comovem pela sinceridade. O diretor, que já foi casado com Suzana de Moraes, filha de Vinicius e conviveu com ele e com alguns de seus entrevistados, se aproveitou dessa intimidade para extrair depoimentos muito sinceros dos seus entrevistados, todos amigos ou parceiros do poeta. A diva do teatro brasileiro Tonia Carrero dá um depoimento magnífico. "O Vinicius era capaz de fazer qualquer baixaria para conquistar uma mulher" diz ela, ao descrever o sofrimento e o ardor do artista quando envolvido em suas conquistas amorosas.
Aliás, os amores de Vinicius têm a função de dividir o filme em capítulos. A cada novo amor, novas histórias, novas músicas, novas aventuras. A cantora Maria Bethânia provoca gargalhadas ao contar como Vinícius conheceu sua amiga Gesse, no bar Pizzaiolo, em Ipanema. Suzana de Moraes também diverte o público ao contar seu drama quando descobriu que seu pai tinha uma filha, Luciana, com outra mulher. Os depoimentos são todos recheados de histórias deliciosas. Caetano Veloso diverte a platéia ao contar como, quando adolescente, confundiu Vinicius de Moraes com a ator Haroldo Costa, protagonista da peça Orfeu da Conceição. Edu Lobo emociona quando descreve um dos seus últimos encontros com o poetinha.
Entretanto, quem rouba o filme, é o Chico Buarque. Totalmente à vontade, relaxado, de um jeito que o público nunca viu, Chico conta várias histórias de sua convivência com o Vinícius, desde os tempos de garoto até a época em que trabalharam juntos. Com humor e carinho, é dele o maior depoimento que, praticamente, conduz o filme, como se Chico fosse um mestre de cerimônias. Se não bastasse a qualidade do seu depoimento, que dá vontade de aplaudir, Chico ainda dá um show de charme e beleza. Ele está lindo. Deslumbrante. Parecendo ter menos que a metade dos seus sessenta anos. Vê-lo falando de Vinicius já é uma razão para assistir a esse filme. Mas existem outros motivos relevantes como, por exemplo, a beleza das imagens de época, fruto de um atento trabalho de pesquisa, assim como o material do arquivo da família que registram cenas preciosas como o Vincius cantando, cercado de amigos, numa festa na sua casa.
Mas nada se compara as cenas de Vinicius de Moraes e Tom Jobim bêbados. A platéia vai ao delírio com as bobagens divertidas que eles falam. É nesse momento que o público sente, com mais verdade, como eles foram loucos maravilhosos, que mergulharam na vida de peito aberto e por isso fizeram com que sua arte tocassem o coração das pessoas. Se existe uma crítica a ser feita a esse filme, é a de que ele acaba muito rápido. Não que seja um filme curto. Ele tem as duas horas usuais de um espetáculos cinematográfico. Mas o filme é tão envolvente, gentil e delicado com a platéia que acaba deixando no espectador um adorável gosto de quero mais.
SAMBA PARA VINICIUS (Chico e Toquinho)
Poeta
Meu poeta camarada
Poeta da pesada
Do pagode e do perdão
Perdoa essa canção improvisada
Em tua inspiração
De todo o coração
Da moça e do violão
Do fundo
Poeta
Poetinha vagabundo
Quem dera todo mundo
Fosse assim feito você
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinicius, velho, saravá
Na véspera do último 14 de julho eu peguei um táxi do Champs Elysées até Saint-Germain-Des-Prés. O motorista era muito simpático e fomos batendo um bom papo no caminho. Quando atravessamos a ponte de l´Alma eu comecei a elogiar a cidade, sua beleza, harmonia e civilidade. E o motorista então me disse: “Muito sangue foi derramado para que nós conseguíssemos isso”. Havia tristeza na sua voz.
Eu tenho lembrado muito desse motorista de táxi quando acompanho pelos jornais e pela TV os conflitos dos últimos dias nos subúrbios de Paris. As imagens de carros e prédios pegando fogo deixam o meu coração cheio de tristeza. E eu me lembro logo do espírito da cidade que já viu tanto sangue derramado e agora é obrigado assistir a mais esse espetáculo de terror.
Os incêndios provocados pelos rebeldes me trazem à mente o que para mim é o maior fetiche de Paris: os bombeiros. Les pompiers. Os mais bonitos rapazes da cidade estão no corpo de bombeiros. Foi tão emocionante vê-los desfilando no Champs Elysées durante a parada militar do 14 de julho. O público aplaudindo com entusiasmo e os belos desfilando orgulhosos de suas fardas. Certamente, nos últimos dias, os garotos devem estar trabalhando muito. Arriscando a vida entre labaredas. Tentando evitar que a tragédia seja ainda maior. Que Deus abençoe os bombeiros de Paris.
A VOZ E O SOM – Adoro uma cantora chamada FORTUNA. Quando vi o show dela pela primeira vez fiquei apaixonado. Afinada, bonita e exótica, ela cantava apenas músicas judaicas com uma voz celestial e arranjos belíssimos. Eu fiquei impressionado com o que ouvi e vi. Ela é charmosa, sensual e tem uma voz que me deixa inebriado.
FORTUNA acabou de lançar um novo CD que é absolutamente genial. Ela fez uma pesquisa sobre a influencia da música judaica nos ritmos brasileiros. E gravou um disco inteiro com canções que misturam com muita propriedade elementos do folclore judaico com a música nordestina como o frevo e a ciranda. Segundo FORTUNA esses ritmos tipicamente pernambucanos são uma evolução de antiqüíssimos cantos judaicos. Afinal, Pernambuco possui uma das maiores e mais antigas colônias judaicas do Brasil.
O CD é impressionante. Tem desde cirandas até um clássico do carnaval pernambucano, “Ai se eu tivesse”, sucesso do compositor Capiba. “Leva eu saudade”, uma belíssima canção popular de Alagoas e “Guilhermina”, canção do folclore do Rio Grande do Norte. Além de canções de Jacob do bandolim e Pixinguinha. O resultado dessa mistura é uma música jovem e vibrante. Aplausos de pé para FORTUNA.
INVENTANDO CARNAVAIS - O carnaval do Rio, quem diria, começou na França. A grande festa que mobiliza os cariocas todos os anos é descendente direta dos carnavais de Paris no século XIX. Como os folguedos de Momo surgiram no Rio de Janeiro por influência das festas pagãs que animavam parisienses é o que mostra o livro Inventando carnavais, do professor Felipe Ferreira, mestre em História da Arte pela Escola de Belas Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o historiador o projeto da elite brasileira da época, de implantar no Brasil uma cultura civilizada, nos moldes da européia, incluía essa festividade. Os folguedos e bailes de máscaras dos franceses serviram de inspiração para os chamados entrudos, festas que foram o embrião do que acabou se transformando no Carnaval carioca.
Inventando carnavais mergulha na história do Rio de Janeiro, então capital do Império e, logo em seguida, capital da emergente República, para narrar como o jeitinho brasileiro traduziu para nossa cultura o carnaval que já era moda na Europa, não só em Paris, como também em cidades como Nice e Roma, com suas algazarras, festejos, máscaras e orgias. No livro a festa carnavalesca é abordada em sua relação com o espaço urbano por ela ocupado física e simbolicamente. Esse ponto de vista permite que se compreendam não somente as modificações ocorridas na festa através do tempo, mas, principalmente, o mecanismo de influências exercidas sobre ela a cada momento histórico. Para realçar seus argumentos o autor recheou o livro com noticias de jornais e ilustrações que datam a partir do longínquo ano de 1840. Nessa época os matutinos já davam destaques aos desfiles dos blocos carnavalescos que existiram muito antes das escolas de samba, animando foliões no centro da cidade. Blocos como Urubus Chumbados, Prazer da Providência, Triumpho do Cumcumbys e o Prazer da Mocidade arrastaram multidões nos carnavais cariocas do final do século XIX.
Inventando carnavais mostra que, a exemplo do futebol, que nasceu inglês e foi transformado no mais brasileiro dos esportes, o carnaval também foi importado da Europa e que, só depois de adaptado aos elementos da cultura brasileira, transformou-se na maior festa popular do mundo. Ao abordar a evolução do carnaval carioca sob a ótica dos acontecimentos históricos e das transformações geográficas da cidade, o professor Felipe Ferreira concebeu um livro que é informativo, curioso e original.
(Resenha publicada no Caderno B)
SHOW DE BOLA - Alexander Pickl é um diretor de publicidade alemão que sempre foi apaixonado pelo Brasil. Quando teve a oportunidade de dirigir o seu primeiro longa-metragem decidiu filmar a história no Brasil, inspirado em Cidade de Deus, filme de Fernando Meireles, que também é um exímio diretor de comerciais. Aproveitando que o seu país será sede da próxima Copa do Mundo, ele decidiu ter o futebol brasileiro como tema do seu primeiro filme. Assim surgiu o filme Show de bola, rodado no Brasil no primeiro semestre de 2005, com um elenco totalmente brasileiro.
Com ritmo de videoclipe, uma eficiente fotografia e belas cenas de jogos de futebol, o filme Show de Bola conta a história de Tiago, um garoto da favela que tem muito talento para futebol e sua luta para se tornar jogador profissional. A exemplo de Cidade de Deus, o filme tem um grande número de cenas filmadas na favela e o elenco é formado por atores do grupo Nós do Morro, de Gutti Fraga. No papel do jogador de futebol se destaca o jovem astro Tiago Martins que, além de bom ator, dá um show jogando futebol.
Lui Mendes personifica Tubarão, o bandido que comanda o tráfico de drogas na favela. O modelo Gabriel Mattar tem uma ótima atuação como o irmão mais velho do protagonista. E a atriz Sandra Pêra tem uma magnífica atuação como a mãe dos rapazes, uma mulher doente, que precisa ser cuidada pelos filhos.
O filme foi rodado em maio e junho de 2005, então a equipe pode filmar no Maracanã antes do estádio fechar para reforma. Também foram feitas cenas no Arpoador, Botafogo, São Conrado, no campo do Fluminense e numa favela no Catete. O diretor quer lançar o filme na Alemanha, um mês antes do início da Copa do Mundo. O sonho de Alexander Pickl é que o prestígio do futebol brasileiro faça com que seu filme tenha o mesmo sucesso de Cidade de Deus.
VINICIUS, UMA COMÉDIA ROMÂNTICA - O filme Vinicius , de Miguel Faria Jr, pode ser classificado como uma comédia romântica. Comédia porque o filme é muito engraçado e faz o espectador tanto sorrir como gargalhar. Romântica porque o personagem retratado foi um homem que viveu do amor. Amor pela vida, pelos amigos, pelas mulheres, pela arte. E o diretor conseguiu, com muito talento, traduzir no filme a personalidade do homem, do diplomata e do poeta Vinicius de Moraes. Intercalando com muita propriedade imagens do artista com depoimentos de pessoas que conviveram com ele, clipes de algumas de suas mais famosas canções, e poemas recitados pelos atores Ricardo Blat e Camila Morgado, o filme constrói um painel informativo e inteligente deste que foi um dos grandes artistas brasileiros e um filósofo do estilo brasileiro de viver.
"O Vinicius ajudou o povo brasileiro a ser feliz", diz Ferreira Gullar no seu depoimento. E o filme mostra isso de forma bem clara: com sua música, sua poesia e o seu jeito de viver, Vinicius fez o Brasil se divertir, sonhar e amar. O depoimento das pessoas que conviveram com ele comovem pela sinceridade. O diretor, que já foi casado com Suzana de Moraes, filha de Vinicius e conviveu com ele e com alguns de seus entrevistados, se aproveitou dessa intimidade para extrair depoimentos muito sinceros dos seus entrevistados, todos amigos ou parceiros do poeta. A diva do teatro brasileiro Tonia Carrero dá um depoimento magnífico. "O Vinicius era capaz de fazer qualquer baixaria para conquistar uma mulher" diz ela, ao descrever o sofrimento e o ardor do artista quando envolvido em suas conquistas amorosas.
Aliás, os amores de Vinicius têm a função de dividir o filme em capítulos. A cada novo amor, novas histórias, novas músicas, novas aventuras. A cantora Maria Bethânia provoca gargalhadas ao contar como Vinícius conheceu sua amiga Gesse, no bar Pizzaiolo, em Ipanema. Suzana de Moraes também diverte o público ao contar seu drama quando descobriu que seu pai tinha uma filha, Luciana, com outra mulher. Os depoimentos são todos recheados de histórias deliciosas. Caetano Veloso diverte a platéia ao contar como, quando adolescente, confundiu Vinicius de Moraes com a ator Haroldo Costa, protagonista da peça Orfeu da Conceição. Edu Lobo emociona quando descreve um dos seus últimos encontros com o poetinha.
Entretanto, quem rouba o filme, é o Chico Buarque. Totalmente à vontade, relaxado, de um jeito que o público nunca viu, Chico conta várias histórias de sua convivência com o Vinícius, desde os tempos de garoto até a época em que trabalharam juntos. Com humor e carinho, é dele o maior depoimento que, praticamente, conduz o filme, como se Chico fosse um mestre de cerimônias. Se não bastasse a qualidade do seu depoimento, que dá vontade de aplaudir, Chico ainda dá um show de charme e beleza. Ele está lindo. Deslumbrante. Parecendo ter menos que a metade dos seus sessenta anos. Vê-lo falando de Vinicius já é uma razão para assistir a esse filme. Mas existem outros motivos relevantes como, por exemplo, a beleza das imagens de época, fruto de um atento trabalho de pesquisa, assim como o material do arquivo da família que registram cenas preciosas como o Vincius cantando, cercado de amigos, numa festa na sua casa.
Mas nada se compara as cenas de Vinicius de Moraes e Tom Jobim bêbados. A platéia vai ao delírio com as bobagens divertidas que eles falam. É nesse momento que o público sente, com mais verdade, como eles foram loucos maravilhosos, que mergulharam na vida de peito aberto e por isso fizeram com que sua arte tocassem o coração das pessoas. Se existe uma crítica a ser feita a esse filme, é a de que ele acaba muito rápido. Não que seja um filme curto. Ele tem as duas horas usuais de um espetáculos cinematográfico. Mas o filme é tão envolvente, gentil e delicado com a platéia que acaba deixando no espectador um adorável gosto de quero mais.
SAMBA PARA VINICIUS (Chico e Toquinho)
Poeta
Meu poeta camarada
Poeta da pesada
Do pagode e do perdão
Perdoa essa canção improvisada
Em tua inspiração
De todo o coração
Da moça e do violão
Do fundo
Poeta
Poetinha vagabundo
Quem dera todo mundo
Fosse assim feito você
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinicius, velho, saravá
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