O LIVRO É O MELHOR AMIGO DO HOMEM - O universo marginal da Baixada Fluminense chega à literatura pelas mãos de um dos maiores autores de telenovelas do país, Aguinaldo Silva. O escritor visitou o cenário recentemente em sua última criação, ‘Senhora do Destino’, e é justamente da trama que bateu todos os recordes de audiência da Globo que surge o protagonista do livro. O bicheiro Giovanni Improtta é o principal personagem de Prendam Giovanni Improtta, nova versão do romance policial O Homem que Comprou o Rio, lançado originalmente em 1986 e agora revisado e parcialmente reescrito.
Ao contrário do que possa aparecer à primeira vista, não foi o personagem que saltou da tevê para o livro mas justamente o inverso. O romance flagra a trajetória de Giovanni Improtta em uma fase anterior à da novela, quando era “mau feito um pica-pau”, segundo palavras do próprio autor. Em Senhora do Destino o bicheiro já estava em busca da redenção, sendo mais famoso por seus bordões como “felomenal” e “o tempo urge e a Sapucaí é grande” do que propriamente por suas atividades ilegais. No romance, Giovanni Improtta ainda é um poderoso bicheiro com trânsito livre entre políticos e empresários do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense e tem sua história contada a partir de um duplo homicídio.
Personagens com nomes falsos, mas perfeitamente reconhecíveis, e outros com sua identidade verdadeira – entre eles o Presidente Getúlio Vargas – povoam, ao longo dos mais de trinta anos da história brasileira presentes no livro, o universo em que Giovanni, à custa de muita corrupção e violência, acaba por se tornar um rei. Aguinaldo Silva, que se encontrava afastado da literatura desde os anos 90, quando passou a se dedicar exclusivamente às novelas da TV Globo, usa de sua larga experiência como repórter policial para mergulhar nas relações viciosas entre contraventores e políticos, traçando um painel do peculiar universo da Baixada Fluminense.
Aguinaldo estreou na literatura aos 16 anos e tem 13 livros publicados. O lançamento desta nova edição de Prendam Giovanni Improtta (Geração Editorial, 176 páginas, R$ 29,00) é a primeira de uma série de seis livros do autor que serão publicados pela mesma editora, dentre eles o inédito ‘98 Tiros de Audiência’, sobre o mundo das telenovelas e da televisão, que Aguinaldo está concluindo para lançar na Bienal do Livro de São Paulo, em março de 2006.
Na entrevista abaixo, Silva anuncia também que, tão longo termine seu contrato com a TV Globo, em 2010, não vai mais escrever telenovelas. Ele pretende dedicar-se exclusivamente à literatura.
Você andou afastado da literatura (seu último livro, Lábios que Beijei, foi publicado em meados da década de 90). Por quê?
– Por um acidente de percurso. Publiquei meu primeiro romance (Redenção para Job, 1961) aos 16 anos, e por causa dele tornei-me jornalista. Até 1978 eu me dividi entre este e a literatura, mas foi aí que a televisão surgiu em minha vida, e eu escrevi seriados primeiro, depois minisséries e finalmente novelas (‘Roque Santeiro’, ‘Tieta’, ‘Vale Tudo’, ‘Pedra sobre Pedra’, ‘A Indomada’, ‘Porto dos Milagres’ e ‘Senhora do Destino’, entre outras). Estas ocuparam nos últimos anos todo o meu tempo, pelo que a literatura foi deixada de lado. Mas dela restou a nostalgia, que me traz de volta agora. ‘Prendam Giovanni Improtta’ é apenas o primeiro de uma série de livros de minha autoria que a Geração Editorial vai lançar, inclusive um inédito, ‘98 tiros de audiência’, que se passa nos bastidores de uma novela das oito e será lançado no começo do próximo ano.
Este universo da televisão é que vai ser o seu novo território literário?
– Sim e não. Nestes meus 27 anos de televisão, e sempre no mesmo Canal (a Rede Globo), escrevendo quase sempre novelas das oito, não há dúvida de que vivi e tomei conhecimento de muitas histórias, todas devidamente arquivadas no meu inconsciente (e também em cadernos de notas que venho organizando). E elas são suficientes para que eu possa me auto-proclamar um arquivo vivo. Essa experiência toda no universo televisivo pode me render outros livros - além de ‘98 tiros de audiência’ - ou não. De qualquer modo, nesse momento estou empenhado em prosseguir com o mapeamento da violência no Rio de Janeiro e na Baixada: é sobre isso que me interessa escrever agora.
Isso significa que a literatura policial vai continuar prevalecendo em sua literatura?
– É mais ou menos por aí. Antes de me tornar novelista de tevê fui editor e repórter de polícia. Tenho uma longa experiência no assunto e também um alentado arquivo a respeito. Claro que a violência dos tempos em que eu era jornalista – até o final dos anos 70 – não tem nada a ver com o que acontece agora. Mas eu sou um grande leitor de jornais e um atento observador do cotidiano em que vivo, e posso dizer que continuo atualizado quanto ao tema. ‘98 tiros de audiência’, por exemplo, embora se passe nos bastidores da televisão, é a história de um crime – a morte da protagonista de uma novela das oito da qual são suspeitos todos os envolvidos com ela.
E quanto a Giovanni Improtta, personagem que, vivido pelo ator José Wilker, tornou-se um ícone nacional graças à novela: é sua intenção retomá-lo em outro trabalho?
– Não, pelo menos por enquanto. Quando ‘Senhora do Destino’ terminou, surgiu a idéia de fazer um seriado na televisão com episódios semanais, chamado ‘Os Improtta’, que teria Giovanni como protagonista e utilizaria o seu universo e os personagens do seu núcleo na novela. Mas a idéia, por absoluto cansaço meu, não vingou. Agora, com o lançamento do livro, estou aberto a propostas para que ele venha a se tornar uma minissérie. Neste sentido já houve até uma sondagem, mas não do canal de televisão que produziu a novela.
É sua intenção, portanto, dividir-se entre a televisão e a literatura?
- Pelo menos por enquanto. Meu contrato com a Rede Globo vai até 2010, e por conta dele tenho ainda que escrever duas novelas. Até lá eu estarei, sim, dividido entre uma coisa e outra. Depois que o contrato terminar... Minha intenção, pelo menos agora, é não escrever mais novelas. E nesse caso se fechará um círculo e eu voltarei ao ponto do qual nunca deveria ter saído: a literatura.
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