6.7.06

FADO TROPICAL Adoro ler os blogues de Portugal, pois acho charmoso os nuances da verdadeira língua portuguesa quando escrita. A visão que os portugueses têm do mundo e da vida também se pode ser apreciada lendo alguns dos inúmeros blogues portugueses. Aproveitando o sucesso de Portugal, que está entre os quatro maiores do mundo no futebol, selecionei alguns trechos dos blogues da terra de Luis Figo em que há comentários sobre o resultado da semifinal da Copa do Mundo. Ei-los:




TOMAR PARTIDO - Portugal perdeu com a França. Vai disputar o 3º e 4º lugar com a Alemanha. Foi uma campanha fantástica em quem ninguém acreditava há um mês. E alguns desejavam mesmo o fracasso que não sucedeu, para obterem efeitos meramente provincianos, internos e pacóvios. Hoje uma equipa literalmente esgotada e espremida fisicamente perdeu com um penalty. Parabéns à Selecção Nacional. Valeu bem a pena esta alegria que nos deu.




GLÓRIA FÁCIL - Obrigado, Felipão. Foi pena... estivémos a um passo da final. A sorte que tivemos contra a Inglaterra falhou-nos contra a França. Agora é acabar com a cerveja e as salsichas!




MAR SALGADO - Belo jogo. O espírito de colégio interno serviu para fazermos boa figura. Para nos livrarmos da barca dos danados é que não chegou. Este povo não aprende que a "auto-estima" ( palavra psico-modernaça que substituiu "orgulho") se ganha no que se faz e não naquilo que se poderia ter feito.




CITADOR - Cada um deve ser e proporcionar a si mesmo o melhor e o máximo. Quanto mais for assim e, por conseguinte, mais encontrar em si mesmo as fontes dos seus deleites, tanto mais será feliz. Com o maior dos acertos, diz Aristóteles: A felicidade pertence aos que se bastam a si próprios. Pois todas as fontes externas de felicidade e deleite são, segundo a sua natureza, extremamente inseguras, precárias, passageiras e submetidas ao acaso; podem, portanto, estancar com facilidade, mesmo sob as mais favoráveis circunstâncias; isso é inevitável, visto que não podem estar sempre à mão.




TATARANA - O futebol imita a vida. Adianta muito pouco, e cada vez menos, acreditar nos belos ideais, no futebol arrebatado, na inocência dos bons sentimentos, no perfume inebriante dos verdes anos, no reconhecimento do mérito. Como diria Sven-Goran Erickson, o Gana e a Espanha jogaram muito bem, mas regressaram a casa. Pé na bunda e toca a andar. A Argentina também. O Brasil do samba, da ginga e da firula rendeu-se inapelavelmente ao pragmatismo, é implacável e burocrático (logo se vê o que sucede amanhã). Um dia, talvez não muito distante, os estádios encherão apenas para que os espectadores possam pintar a cara, vestir a camisola pátria, fazer a onda e ver o árbitro lançar a moeda ao ar. Cara ou coroa? Cara. Parabéns, segue para as meias-finais.
Pode não parecer, mas este post não é (só) sobre futebol.




PORTUGAL DOS PEQUENINOS - "Longtemps, je me suis couché de bonne heure." Será que, com esta intrigante frase inicial, Proust poderá ser considerado, por exemplo, um dos "símbolos máximos da decadência ocidental"? É que, se assim for, bendita seja a decadência ocidental.




O INSURGENTE - Naquela cidade que espero nunca mais visitar, viajando pela marginal do Vieux Port em direcção a Norte, quase à vista do Chateau D'If há um cartaz gigante há pelo menos nove anos, com a cara de Zidane e a frase: "Made in Marseille".
Mesmo que os dois únicos jogos em que me sinto francês sejam contra o Irão ou a Alemanha, o herdeiro de Maradona não é Ronaldinho, é Zizou.
Agora, foi-se Portugal, foi-se Espanha e pelos miguelangelos, vamos a eles squadra!




FRENCH KISSIN - Antes que seja tarde - Que fique bem claro: apesar do título do blogue, e ao contrário do que possam dar a entender uma série de posts que estão ali em baixo, sempre considerei a França o símbolo máximo da decadência ocidental.
Liberté. Egalité. Vatefodé.




AVATARES DO DESEJO - À semelhança de um tal de Nuno Graciano, Daniel Oliveira (não este, o da RTP) , mostra ser um entrevistador que se procura relacionar com as figuras públicas pelo continuado exercício da graxa e da mais barata bajulação. Essa vontade funda de se prostar perante os famosos, ou mera estratégia de aproximação, atinge dimensões particularmente constrangedoras com as figuras da bola. Talvez pela vontade de ganhar crédito para exclusivos, talvez pela importância de ser recebido pelo grupo português durante as reportagens do mundial, Daniel Oliveira entrevista os jogadores como se os quisesse levar para a cama; o estilo sintetiza-se numa pergunta caricatural: "tu tens a noção que és maravilhoso?".
E os jogadores, comprados com elogios lá dispensam uns minutos do dia de folga para as reflexões da praxe. A última pergunta, estilo felatio, ouvi-a há minutos na televisão. Questionava o bom do Daniel Oliveira num rigoroso exclusivo a Scolari: "Acha que em Portugal já se pode falar de uma alma Scolari?".


Madonna vem aí...

 

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