Houve uma festa bem divertida na praia de Geribá. Num dia de sol quente, todo mundo bebendo, dançando, se drogando e se pegando na areia. Lembro que nessa festa encontrei vários amigos e nos divertimos muito. À noite rolou uma rave que foi inesquecível. Tinha uns caras bonitões se sacudindo na pista, movidos a ecstase e água mineral. Todos sem camisa, sacolejando os tórax malhados como se fossem seios. Exibindo os bíceps durões e os barrigas de tanque, invariavelmente vestidos apenas de jeans com a cintura baixa, deixando à mostra a marca do bronzeado e o caminho para a virilha. Uma coisa os meninos. O som era incrível. Paquerei muito, mas não comi ninguém. Havia muita oferta, muita procura, todo mundo se pegando, mas no final ninguém traçou ninguém. C´est la vie... Lembro que quando saí da festa o dia estava amanhecendo e eu estava morto de cansado...
Durante o evento, que foi chamado Finde Gay de Búzios, houve um debate promovido pelo Grupo Arco-Íris, uma ONG que se propõe a defender os interesses dos homossexuais. No debate aconteceu uma palestra do Cláudio Nascimento, presidente do grupo, que explicou o trabalho da ONG e o seu funcionamento. Na platéia, uma mistura de curiosos e gays célebres como Jackson Araújo, Nelson Feitosa, André Fischer, José Viterbo, André Piva e o costureiro Carlos Tufvesson. Num certo momento do debate, Tufvesson, com aquele seu jeito de menina mimada, ostentando um ar entediado e blasé, começou a fazer críticas ao Grupo Arco-Íris. Cobrou mais produção, mais visibilidade e mais ação. O Cláudio Nascimento não gostou das cobranças. Olhou para seu interlocutor com ar de desafio e sibilou: Nós trabalhamos com muita dificuldade financeira. Por que a senhora, que é uma bicha rica, não faz uma doação substancial ao Arco-Íris? Pano rápido. Nem tudo são flores no reino do arco-íris.
- Winston, se você fosse meu marido, eu poria veneno no seu café!
Churchill não pestanejou:
- Senhora, se eu fosse seu marido, tomaria o café!!!
(Diálogo entre o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e Nancy Astor, primeira mulher eleita a fazer parte da Câmara dos Comuns.)
Mocidade
A mocidade esplêndida, vibrante,
Ardente, extraordinária, audaciosa,
Que vê num cardo a folha duma rosa,
Na gota de água o brilho dum diamante;
Essa que fez de mim Judeu Errante
Do espírito, a torrente caudalosa,
Dos vendavais irmã tempestuosa,
- Trago-a em mim vermelha, triunfante!
No meu sangue rubis correm dispersos:
- Chamas subindo ao alto nos meus versos,
Papoilas nos meus lábios a florir!
Ama-me doida, estonteadoramente,
Ó meu Amor! que o coração da gente
É tão pequeno... e a vida, água a fugir...
O meu desejo
Vejo-te só a ti no azul dos céus,
Olhando a nuvem de oiro que flutua...
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!
Nos vultos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus...
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!
Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou a grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo...
Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, amor, devagarinho,
Até a Morte me levar consigo.. .
Aos olhos dele
Aos olhos dele
Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa;
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.
Fiquei então sem fé; e a toda a gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!
Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
E grito então ao ver esses dois céus:
Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m'encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!
(Como são lindos os poemas de Florbela Espanca)