SAMBA, SUOR E CERVEJA – O empresário carioca Marcelo Monfort merece uma menção honrosa da prefeitura do Rio. Talentoso e empreendedor, Marcelo organizou o carnaval da rua Vinicius de Moraes, em Ipanema, um dos mais animados da cidade. Ele contratou um grupo de sambistas e um DJ que se revezavam no agito do som. E montou um estande para vender cerveja. O resto foi por conta do seu carisma pessoal. Marcelo Monfort é figura querida em Ipanema, atleta do futevôlei e, desde sempre, freqüentador assíduo do bar Garota de Ipanema. Apaixonado por samba, em parceria com Fred Neci, formou o bloco Si num guenta porque veiu?, que saiu pelas ruas do Leblon uma semana antes do carnaval. Foi vestido com a camiseta do seu bloco que ele comandou como um maestro o animadíssimo carnaval da rua Vinícius de Moraes. Ipanemenses de várias gerações caíram na gandaia ao lado de atletas de praia, garotas de Ipanema e turistas embevecidos com a juventude, o astral e a beleza da festa. Tom e Vinícius, que fizeram a fama daquele trecho do Rio quando compuseram a canção Garota de Ipanema, ficariam orgulhosos de Marcelo e seu carnaval de alma carioca. Nada mais natural. Afinal, Marcelo Monfort e seus amigos são herdeiros do espírito boêmio de Ipanema que inspirou Tom e Vinícius em seus poemas sobre a cidade.
Enquanto Marcelo Monfort comandava o carnaval heterossexual da rua Vinicius de Moraes, Flavio Soares, dono do bar Bofetada, comandava o carnaval gay da rua Farme de Amoedo. O carnaval de Ipanema foi a festa da democracia sexual. A Farme ficou lotada de gays e lésbicas que se esbaldaram com a música que brotava das caixas de som instaladas pelo Bofetada para animar o carnaval da galera. Empresário esperto e empreendedor, Flávio Soares fechou a calçada em frente ao bar, transformando-o num camarote vip, e espalhou vendedores de cerveja por toda a rua. O resto ficou por conta da animação e do alto astral da comunidade GLS. O povo soltou a franga sem medo de ser feliz. Muito namoro, pessoas do mesmo sexo andando de mãos dadas e namorando sem culpa ou repressão. Embaladas pelo astral da festa uma grande quantidade de lésbicas invadiu Ipanema. As meninas foram um show à parte. Algumas namoravam docemente como casais adolescentes. Outras demonstravam mais personalidade e azaravam de forma ostensiva. Muitas queriam apenas dançar, dançar e dançar. No clima da folia a pegação rolava solta por toda parte. Mãos bobas surgiam ansiosas em busca de emoção. Nos embalos da Farme o carnaval foi como deve ser. Com alegria, alto astral e sensualidade. Na terça-feira gorda uma morena linda subiu no balcão do bar bofetada e fez a festa da multidão com seu corpo escultural vestindo um shortinho jeans e uma mini-camiseta onde estava escrito salva-gatas. Ao som dos grandes sucessos da música funk a menina deu um show de suingue e sensualidade deixando homens e mulheres inebriados. Evoé, Momo. Evoé...
O carnaval de Ipanema não ficou restrito apenas a Farme e a Vinicius. Nos finais de tarde multidões lotavam a Vieira Souto para acompanhar os desfiles da Banda de Ipanema e do Simpatia é quase amor. Foram desfiles animados e que marcaram o carnaval 2007. O problema é que o carnaval do Rio é um carnaval acústico. Diferente do carnaval da Bahia que é elétrico. No Rio a música é baixa. É pouca música para a grande quantidade de pessoas que estão nas ruas. A banda de Ipanema tem a mesma quantidade de músicos que tinha quando surgiu há 35 anos atrás. Ora bolas. Naquela época a quantidade de foliões era bem menor. De lá pra cá o carnaval cresceu e os músicos não têm fôlego para encarar tamanha quantidade de foliões. Será que não dava para colocar os músicos em cima de um trio elétrico e amplificar o som para que todos possam ouvir as marchinhas? Será que falta dinheiro para isso? Será que a banda de Ipanema, com essa marca, não consegue uma empresa para patrocinar seu desfile? Ou isso é apenas uma forma de purismo suicida?
Também merece registro o seguinte: os desfiles da banda e do Simpatia acabam muito rápido. Começam às cinco e acabam as nove da noite. Depois dos desfiles uma multidão fica vagando pela Vieira Souto em busca de um carnaval que simplesmente não acontece. O povo se vira do jeito que pode. Um liga o som do carro. Uma barraca improvisa algum tipo de música. E os foliões embalados pelo espírito de carnaval tentam fazer a festa acontecer. Outra coisa patética no carnaval do Rio: a prefeitura determina que todo tipo de som seja desligado à meia noite. Puta que pariu! À meia noite o folião está no auge da animação. As pessoas querem cantar, dançar e dar pinta, mas a prefeitura não deixa.
A prefeitura do Rio não entende nada de carnaval. Aliás, a prefeitura do Rio não entende nada de nada. A gangue de César Maia só sabe administrar favela. A avenida Rio Branco, a Cinelândia e a Lapa foram transformadas em favelões com a conivência e anuência de César Maia. Todo evento organizado pela prefeitura se transforma numa favela. Uma infinidade de vendedores ambulantes e camelôs loteavam ruas e calçadas impedindo a circulação de pessoas. Em meio às multidões barracas improvisadas com botijões de gás instalados de forma precária colocavam em risco a vida das pessoas. A avenida Rio Branco, que já viveu dias de glória carnavalesca, não recebeu nenhuma decoração. O Cacique de Ramos que já desfilou com multidões foi reduzido a um bloco de sujos, com meia dúzia de gatos pingados ao som de uma bateria fajuta. Um espetáculo deprimente. Na Cinelândia um show de músicas de carnaval tinha visíveis características de um evento chapa branca. Um horror. Quem se deu ao trabalho de ir até o centro da cidade pôde constatar, de forma bem clara, o projeto de César Maia de transformar o Rio de Janeiro numa enorme favela. Abaixo César Maia!
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