2.3.07

A CENSURA BATE À PORTA – Os escritores brasileiros, em especial os que escrevem para a televisão, estão indignados com a tentativa do governo Lula em fazer ressurgir a censura através de um certo Manual da Nova Classificação Indicativa, que orienta os autores na elaboração de seus textos. A censura ditatorial começa assim. Primeiro lançam um manual que censura a TV, depois vão querer censurar os jornais, a Internet, a edição de livros. O presidente Lula é um reacionário e sua equipe de governo reza pela mesma cartilha. Sua declaração de que às vezes a violência é uma questão de sobrevivência é uma ofensa a todos os brasileiros, em especial àqueles que foram vítimas da violência. Eu imagino os cidadãos franceses lendo essa declaração do presidente do Brasil, depois de saberem que três de seus cidadãos foram barbaramente assassinados por um filhote de Lula, um coitadinho que eles tiraram da rua e deram uma vida melhor. Não satisfeito em ser um presidente alienado, que não dá nenhuma prioridade a segurança pública, Lula ainda tenta justificar os criminosos. Meu Deus! Como alguém que adota essa postura pode se achar no direito de querer intervir na liberdade de criação de escritores e diretores de TV? Para Lula o povo brasileiro é sempre um coitadinho que precisa da compaixão dele para que o país possa progredir. Então tá. O governo Lula criou no Brasil a indústria dos coitadinhos.

Esta semana um grupo de roteiristas da ARTV – Associação Brasileira de Roteiristas Profissionais de Televisão e outros veículos de Comunicação esteve no Ministério da Cultura para um debate com Orlando Senna, diretor de áudio visual do Ministério que estava representando o Ministro Gilberto Gil. A principio Orlando Senna, que já trabalhou com Glauber Rocha, foi simpático às reivindicações dos roteiristas. Do outro lado a repórter de TV do jornal O Estado de São Paulo Leila Reis, petista de carteirinha, defende o manual e acusa os roteiristas de estarem fazendo lobby para a TV Globo. É o exótico caso de uma jornalista que é a favor da censura. Vade retro! Pessoalmente, eu acho que a TV Globo já fez muito mais pela informação, a cultura e a educação do país do que todo o governo brasileiro pós-64. O novelista Sebastião Maciel, colaborador de Carlos Lombardi na novela Pé na Jaca participou da reunião e conta como foi o encontro de escritores com o Ministro Interino.




Estivermos ontem no Ministério da Cultura e fomos muito bem ouvidos pelo Orlando Senna, representante do Ministro Gilberto Gil, que por ser do meio artístico compreendeu o nosso discurso e se integrou afetivamente a este. Entretanto, diversas vozes parecem dizer o contrário, principalmente em off. Um censor demonstrou terrível preconceito ao nos fazer acusações. Outros setores do governo estão determinados em impor suas falsas verdades e seus podres poderes. E ainda somos massacrados por uma elite jornalística alienada e factual que nos confunde com os interesses de uma só Empresa ou de um corporativismo aquém. Mas, o que está em discussão, com esse manual do Ministério da Justiça não é um começo de controle. É o aval político e civil ao controle-absoluto do estado contra a verdade artística. Já estamos perseguidos pelo Ministério Público, seguimos todas as cartilhas, discutíveis ou não, que nos podam ao que julgam apropriado ao nosso horário, já há a classificação indicativa, vai haver o chip de indicação etária da tv digital e, sobretudo, há o controle remoto e a vontade soberana do telespectador. Assim como há a soberana liberdade de expressão. Mas, ainda assim, querem que o criador (seja o roteirista, autor ou diretor) se subordine ao Estado. E isso não é cabível, não compreensível, nem aceitável.




Sobre o mesmo assunto, Carlos Lombardi, autor de novelas como Cubanacan e Perigosas Peruas deu o seguinte depoimento:

Ontem, durante o capítulo da minha novela, estava com o Mauro Wilson e o Vinícius Vianna. Entrou o comercial, depois de uma cena de comédia, de cara a Fátima Bernardes mandou a chamada do Jornal Nacional - com a história do menino. Na hora o Mauro falou "Meu Deus, minha filha tá assistindo a novela" e eu pensei nos meus, lá em São Paulo, que com certeza levaram o mesmo susto. É óbvio que não quero censurar jornal. A notícia está lá. É fato e eu tenho que aprender como explicar um crime desses pros meus filhos. Mas faz algum sentido essa discussão toda? Faz algum sentido discutir se pode se falar bunda ou nao na novela das 7 quando no intervalo a realidade vem alcançar a gente a toda velocidade. Essa notícia ali, direta, crua. Como a mudança de posição do Ministério da Justiça é cosmética...

Para Carlos Lombardi esse manual do Ministério da justiça tem três coisas que o incomodam e ele mesmo especifica a seguir:

1 - O controle. Não é sugestivo, indicativo. Ele é controle. Se determinam que meu produto não pode passar as 19 horas, a coisa é irrecorrível.
2 - Trata todos nós, produtores de cultura, como tontos irresponsáveis que não sabemos em absoluto o que fazemos. Tenho certeza que jamais vou conseguir que todos concordem comigo, mas faz parte do meu trabalho ficar atento ao que fere ou não a MORAL MÉDIA do público. Novela que não vai de encontro com a Moral Média, não funciona. É simples assim. Temos responsabilidade. Não somos irresponsáveis.
3 - Estou lutando pelo meu sustento. Pelo meu direito a trabalhar, que pode ser cortado por um funcionário público. Não aceito. Se isso for aprovado, vou ter que me virar. Tenho dois filhos pra sustentar. Mas não aceito essa condição de tutela. Não quando há controle remoto. Não aceito que se coloque sobre meus ombros a tarefa de educar ninguém. Sou pago para divertir. Diversão não é pecado, diversão não é feio. É meu trabalho, que faço com todo esforço, cuidado e orgulho. Não sou um pedagogo, sou um dramaturgo.
Desculpe, mas já vi esse filme. Mudaram o elenco, mas os personagens são exatamente os mesmos e os objetivos, se forem bons, só mostram pessoas que não tem a mínima noção do que seja dramaturgia, liberdade ou até mesmo uma sociedade. Censura é censura. Imposição é imposição. Não há adjetivo nem circunstância que alterem o substantivo.




Renata Dias Gomes, a doce e bela neta de Janete Clair e Dias Gomes, é contratada da TV Record, onde é uma das redatoras da novela Alta Estação. Para se posicionar contra a censura Lulista a jovem novelista revela uma preciosidade histórica encontrada nos arquivos do seu avô:

Por acaso eu peguei o livro do meu avô hoje para procurar um dado da história das novelas - queria tirar uma dúvida sobre a audiência do Roque Santeiro - e olhem que curioso o trecho que eu encontrei sobre a proibição de Roque Santeiro em 1975!

A inesperada proibição de Roque, aliás, A Fabulosa História de Roque Santeiro e Sua Fogosa Viúva, a Que Era Sem Nunca Ter Sido, colheu-nos de surpresa, eu já no qüinquagésimo primeiro capítulo, e Janete já com Bravo no ar. A proibição não era apenas insólita, mas cercada de mistérios (como a proibição de O Berço do Herói, peça que serviu de inspiração para a novela); a Censura, a princípio, dizia apenas que a novela era imprópria para o horário das oito. Perguntamos se seria liberada para o horário das dez. A resposta era ambígua, talvez, mas os cortes seriam tantos, que dos primeiros capítulos só restariam poucos minutos. Pedimos que nos mandassem esses capítulos com os cortes feitos. Bem, nesse caso teriam que rever os cortes e possivelmente haveria outros, era melhor que desistíssemos da novela. Enfim, entendemos que a novela estava proibida, e eles, por motivos que só viríamos a descobrir muitos anos mais tarde, não tinham a hombridade de enviar um despacho com essa decisão.


Madonna vem aí...

 

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