28.4.07

NOS TATAMES DA VIDA – Muita expectativa nos meios das artes marciais com a realização, no próximo fim de semana, no ADCC-Abu Dhabi Combat Club 2007, o famoso torneio de Submission Fighting criado e patrocinado pelo Sheik dos Emirados Árabes Tahnoon Bin Zayed. Muitos brasileiros estarão participando do torneio, que esse ano será realizado em New Jersy, EUA, de olho nas medalhas e nos generosos cachês em petrodólares pagos pelo Sheik. Alguns brazucas como Delson Pé de Chumbo e Rousimar Toquinho foram classicados através de uma seletiva realizada em março no estádio do Botafogo. Outros lutadores foram convidados pelos olheiros do Sheik Tahnoon, que vieram supervisionar a seletiva. Esse é o caso de talentos como Tarsis Humphreys, Milton Vieira, Rômulo Barral e Bráulio Estima. Eles têm em comum um currículo invejável: vitórias em campeonatos importantes e um histórico de lutas competitivas e espetaculares. É que, nesse torneio, não basta lutar. O atleta tem que saber dar um show. Tem que ser guerreiro e esforçado. É preciso ter noção do sentido de espetáculo e saber que o público está ali para se divertir. Há uma outra característica comum a Tarsis, Milton, Rômulo e Bráulio, que, certamente, foi determinante na escolha para lutarem diante do Sheik Tahnoon: os quatro são rapazes belíssimos!




A SAGA DE ROUSIMAR TOQUINHO - Uma das esperanças do Brasil no ADCC 2007 é o lutador Rousimar Aparecido Christian Palhares, ou simplesmente Rousimar Toquinho, como é conhecido nos tatames do Brasil. Rousimar impressionou o público e a equipe de jurados quando participou da seletiva para o ADCC realizado no início de março, na sede do Botafogo. O atleta é uma fera no tatame. Luta com garra e possui muita resistência aos golpes dos adversários. Tem tudo para trazer uma medalha e um punhado de dólares de New Jersey.

A viagem de Rousimar Toquinho aos States, entretanto, está ameaçada. O consulado americano não quis lhe dar o visto. As autoridades americanas se recusaram até a marcar uma entrevista com o rapaz. A sorte é que, no último número da revista Tatame, há uma grande reportagem com o atleta e os editores da bíblia das artes marciais no Brasil mandaram um exemplar para o cônsul na esperança que ele reconsidere sua decisão e conceda o visto ao rapaz.

A vida de Rousimar Toquinho não foi nada fácil, como conta a revista Tatame. Nascido na pequena cidade mineira de Dores do Indaiá ele cresceu dividindo um pequeno casebre com seus pais e mais dez irmãos. Rousimar descobriu sua vocação para a luta derrubando bois no pasto da fazenda onde seu pai era peão. Na batalha diária pela sobrevivência dizimou uma a uma cada adversidade que a vida lhe impôs. Nos momentos mais difícies da infância, quando batia a fome e não havia como conseguir comida, ele e os irmãos comiam ração de porco que a mãe cozinhava e servia na única refeição do dia.

Seu sonho de melhorar de vida e se tornar um lutador profissional acabou trazendo-o ao Rio, onde se hospedou debaixo de um dos viadutos da cidade. Com um quimono surrado numa mão e um terço na outra procurou a academia Brazilian Top Team, a BTT, celeiro dos maiores nomes das artes marciais no Brasil. Sua simplicidade e seu jeito humilde de ser impressionou os veteranos Bebeo Duarte, Zé Mario Sperry e Murilo Bustamente, sócios da BTT, que decidiram fazer um teste e avaliar suas possibilidades. Os donos da academia ficaram impressionados com a sua atuação e vislumbraram nele um novo talento para o mercado de lutas. Deram uma bolsa para Rousimar que, imediatamente, fez da academia seu novo lar. Por causa do seu tipo físico baixinho e atarrancado ganhou o carinhoso apelido de Toquinho. Com sua maneira de ser conquistou a amizade de vários lutadores, entre eles o talentoso Danilo Índio, que se transformou num dos seus melhores amigos e principal parceiro de treinos. Desde então Toquinho só tem conseguido vitórias em todos os torneios em que tem participado. Agora resta saber se o sonho de brilhar nos States não vai ser barrado pelos consulado americano.




UM ATLETA CHAMADO TARSIS – Outra esperança brasileira no ADCC 2007 é o galã do tatame Tarsis Humphreys. A exemplo de Rousimar Toquinho Tarsis é um jovem talentoso. Mas sua trajetória de vida é totalmente diferente. Tarsis nasceu em São Paulo, filho de uma família de alta classe média. Estudou em bons colégios e, desde muito garoto, se destacou nas artes marciais. Primeiro no judô e depois no jiu-jitsu, onde começou a lutar aos 13 anos. Sua estampa de galã de cinema fez com que recebesse convites para seguir a carreira de modelo. Chegou a posar para fotos e participar de alguns desfiles, mas nunca se sentiu atraído por aquele universo. Foi capa de um livro de fotos chamado Delicious – Fotos Gostosas, onde havia retratos de Gisele Bundchen e Rodrigo Santoro, entre outros. Mas ele queria mesmo era ser um astro das artes marciais e mergulhou fundo na busca do seu sonho.

Tarsis, nome de origem bíblica, era neto de Noé. Com 23 anos o Tarsis atleta é faixa-preta de jiu-jitsu e professor da academia de Fabio Gurgel, o veterano lutador que o descobriu e investiu nele. Descolado e profissional costuma ministrar seminários no exterior. Já deu aulas na Finlândia, Suécia e Dinamarca. Diz que os alunos estrangeiros têm facilidade em aprender o jiu-jitsu brasileiro por terem uma tradição de praticar judô desde a infância. Agora em março participou do Panamericano de Jiu-Jitsu na Califórnia, conseguindo a medalha de vice campeão.

Agora está totalmente concentrado para o ADCC nos Estados Unidos. Na seletiva para a competição perdeu para o lutador Delson Pé de Chumbo. Mesmo sem ter vencido a final, o belo Tarsis impressionou os assessores do Sheik pelo estilo atrevido de encarar seus adversários. Muito concentrado e rápido nos contra-ataques, malandro nas defesas, agressivo nas investidas, Tarsis tem consciência que um torneio de lutas também é um show e sabe fazer de sua atuação um espetáculo. Suas qualidades como atleta e sua postura de show-man garantiram o passaporte para a América e a oportunidade de lutar para o Sheik. Sobre a luta final da seletiva Tarsis Humphreys disse:

A minha final contra Pé de Chumbo foi horrível, eu tinha me machucado na luta contra o Rousimar Toquinho e mal conseguia mexer o meu joelho. Mas agora estou cem por cento para o ADCC e me manterei assim durante a competição, para ser campeão e dar um grande show, já que é isso que o Sheik quer ver.







Bom de briga é aquele que cai fora.






TEATRO QUASE SEMPRE – Algo de muito especial acontece no teatro brasileiro. E esse “algo de muito especial” vem de Curitiba. Um movimento teatral protagonizado por um grupo chamado Cia. Cênica Simplicissimus vem mobilizando a capital paranaense, cidade com vasta tradição cultural. Nos últimos quatro anos o grupo Simplicissimus montou cinco espetáculos teatrais que chamam a atenção pelo talento, capacidade de mobilização do público e criatividade dos artistas. Capitaneado pelo diretor Ruiz Bellenda o grupo se tornou a coqueluche da cena cultural curitibana, promovendo happenings culturais, oficinas, cursos e espetáculos de sucesso.
Tudo começou em 2003 com a estréia da versão clubber do clássico O Despertar da Primavera. O sucesso e a repercussão da montagem mobilizou o grupo a produzir o musical Canastras, que se transformou numa verdadeira febre entre o público curitibano. Em seguida veio a comédia chique Dorothy Parker Portátil, uma coletânea de textos da famosa escritora americana, que é estudada de forma obsessiva pelo grupo. Na seqüência o Simplicissimus mergulhou na densidade das relações amorosas com o espetáculo Oscar Wilde me disse. A consagração definitiva veio com Assassinatos em Série que fez o público e a crítica incensar o elenco e a direção. Com garra e força criativa, a talentosa troupe incendiou o verão de 2007 com dois belos espetáculos: Manual Prático da Mulher Desesperada e Sou Ator Mas Não Sou Gay. Agora é a hora da companhia sair de Curitiba e mostrar ao resto do Brasil a força criativa do seu teatro.







As mulheres que procuram ter os mesmos direitos dos homens têm falta de ambição.






MANUAL PRÁTICO DA MULHER DESESPERADA – A peça, com texto de Dorothy Parker, é dividida em três atos: quarto, salão de beleza e boate. A solidão e a busca por uma companhia é o mote que conduz o espetáculo. A heroína Alice, com humor, dramaticidade e sensualidade, se utiliza de todos os recursos de beleza para seduzir os homens, enquanto aguarda ansiosamente um telefonema que não acontece. O medo da solidão e a culpa por se envolver com homens errados culminam numa angústia que a leva a tomar uma atitude desesperada: sair pela noite em busca de companhia. Ela quer alguém, não importa quem. Ao terminar a noite ao lado de um sujeito sem graça, que mal conhece e que dança terrivelmente mal ela cai em si e descobre que é melhor viver só do que mal acompanhada.

O objetivo fundamental da montagem é examinar os mistérios da alma feminina utilizando todos os recursos lúdicos que a carpintaria teatral permite. Através do perturbador texto de Ms. Parker, interpretado de forma sublime pelos atores, a direção conduz o espectador ao exame das situações e contradições que a mulher emancipada vive ao pagar o preço de sua condição de ser humano livre. Para dar vida a esta concepção, o espetáculo lança mão de idéias que valorizam o aspecto cênico da montagem. Figurinos criativos registram os estados de espírito da protagonista. Cenários exóticos ilustram as situações discriminadas pelo texto. A iluminação cinematográfica recria a atmosfera peculiar dos contos de Dorothy Parker, enquanto vinhetas são projetadas narrando o passado da heroína. O conceito de Manual Prático da Mulher Desesperada é o de um cabaré de idéias panfletárias sobre a condição feminina. A partir daí a peça executa uma das funções primordiais do teatro: a do entretenimento.






SOU ATOR, MAS NÃO SOU GAY - A busca desesperada pela fama é o ponto de partida do texto de Ruiz Bellenda. Conta a história de Beto, um rapaz que decide ser ator depois que um amigo ficou famoso atuando em novelas de TV. Para se lançar na carreira artística ele pede uma oportunidade ao inescrupuloso diretor de teatro Maneco Vidal que, fascinado pela beleza do rapaz, lhe faz uma proposta indecorosa: o papel principal em sua nova peça em troca de uma noite de amor. Whaal. Isso é que é enredo.

Através do narrador-protagonista Beto o público é apresentado ao fascinante e atordoante mundo dos candidatos a estrela ou aspirantes a celebridades. Questões essenciais das relações humanas como inveja, falsidade, competição, vaidade, sexo, poder, traição, frustração e muito, mas muito ego, guiam as motivações dos personagens. É o vale-tudo em busca da fama e do sucesso. Sem ser moralista, piegas ou maniqueísta, o autor coloca essas questões sem fechá-las com uma verdade absoluta, revelando as diversas faces do sucesso na carreira artística. Além dos atores da Cia a peça mostra em cena onze modelos da agência Ford atuando no elenco de apoio.






ADRIANA BIROLLI – UMA ESTRELA BRASILEIRA – A exemplo das antigas companhias do teatro brasileiro, a Simplicissimus tem uma estrela: Adriana Birolli, que os curitibanos dizem ser a Isabelle Adjani do Paraná. O público de Curitiba acredita piamente que Adriana ainda será uma das grandes estrelas da TV Globo ou da TV Record. Afinal, Sonia Braga e Letícia Sabatella também vieram de lá. A jovem estrela começou a estudar teatro aos quinze anos num curso do diretor Ruiz Bellenda e participou de todas as montagens da Cia, sempre se destacando por seu talento e personalidade. Hoje, com apenas vinte anos, ganhou o prêmio Gralha Azul de melhor atriz por sua atuação no espetáculo Manual Prático da Mulher Desesperada. O prêmio Gralha Azul foi criado em 1974 e é outorgado todo ano aos melhores do teatro de Curitiba pelo Centro Cultural Teatro Guaira. Agora quando anda pelas ruas de Curitiba o público costuma chamá-la de Isabelle, graças a sua semelhança física com a francesa Adjani. Outros preferem chamá-la de Dorothy, por causa da sua popular atuação no espetáculo Dorothy Parker Portátil. O fato é que Adriana Birolli conseguiu marcar o público e se tornar uma estrela popular atuando apenas no teatro. Nada mal para uma jovem de vinte anos.






RUIZ BELLENDA NÃO MORA MAIS AQUI - Ruiz Bellenda é o cérebro por trás da Cia. Cênica Simplicissimus. Ator, autor e diretor, é um artista que dedicou toda a sua vida ao teatro. Começou ainda criança atuando em espetáculos profissionais em Curitiba. Inteligente, culto e estudioso tem um vasto conhecimento do teatro brasileiro. Além disso, é apaixonado por cinema e sabe tudo sobre as grandes estrelas e os diretores.

Durante mais de duas décadas Ruiz Bellenda foi casado com o ator Ariel Coelho. Os dois se conheceram quando Ruiz tinha apenas treze anos e Ariel já era maior de idade. Foi uma paixão fulminante. Além da atração que sentiam um pelo outro havia algo maior que os unia mais do que tudo e os manteve unidos até a morte de Ariel duas décadas depois: a paixão pelo teatro.

Mesmo tendo apenas treze anos Ruiz Bellenda sabia muito bem o que queria e, com sua personalidade forte, não admitia ser contrariado. Ruiz queria ser ator e diretor de teatro e não estava disposto a abrir mão do seu sonho. Aos treze anos Ruiz também sabia que era gay, gostava disso, e queria viver ao lado do parceiro que tinha escolhido. Os pais do ator, pessoas esclarecidas, nem ousaram questionar a vontade do garoto. Eles conheciam muito bem a forte personalidade do filho e acharam melhor nem discutir.

Ariel Coelho já era um ator respeitado em Curitiba quando se apaixonou pelo menino de treze anos que considerava um grande talento do teatro. Não, leitores. Ariel não era pedófilo. Ele nunca se sentiu particularmente atraído por garotos. Isso nem faz tanto tempo assim, mas, já houve uma época em que a palavra pedofilia não era usada da forma vulgar como vive sendo usada pela mídia dos dias de hoje. O que uniu Ariel e Ruiz, muito mais do que amor ou sexo, foi uma enorme paixão pelo teatro. Paixão que eles viveram intensamente nas duas décadas em que ficaram juntos. Nesse período não houve um só dia na vida em que eles não estivessem envolvidos com uma peça, seja atuando, produzindo ou dirigindo. Ou simplesmente assitindo teatro. Vibrando com o trabalho e atuações dos colegas de profissão.

Quando completou quinze anos Ruiz se mudou para o Rio com seu companheiro. Aqui fez cursos de teatro, montou espetáculos e viveu intensamente a vida mundana da cidade. Foi amigo de Cazuza e, junto com Bebel Gilberto, formou um trio que marcou época em noitadas no Baixo Leblon e tardes de sol no Posto Nove. Os três atuaram juntos na peça infantil Parabéns Pra Você. Ruiz também escreveu e atuou em peças como Nesta Nossa Vida, O que aconteceu a Laura Jane?, Totalmente Fashion e Eu e a Louca, entre outros. Quando Ariel morreu Ruiz sofreu muito com a perda do companheiro de tantos anos e decidiu voltar para Curitiba. Depois de um período de sofrimento e depressão na sua cidade natal decidiu recomeçar do zero fazendo a única coisa que sabe fazer na vida: teatro. Começou dando aulas, formando novos atores. Até que, entusiasmado com o trabalho dos artistas que estava lançando, resolveu montar a Cia. Cênica Simplicissimus. O resto é história.


Madonna vem aí...

 

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