OS VEADOS E O MEIO AMBIENTE – O dia do trabalhador, comemorado com fanfarras pelas centrais sindicais de São Paulo, nunca mais vai ser o mesmo. É que Paulinho da Força Sindical, num discurso exaltado que pretendia chamar a atenção dos trabalhadores para os perigos do aquecimento global, disse que “antigamente esse negócio de meio-ambiente era coisa de veado”. O charmoso Paulinho não se emenda. Lembra que na eleição de 2002 ele foi candidato como vice do Ciro Gomes? E foi afastado da candidatura por que fez uns comentários bem machistas sobre as mulheres? Pois é. Como todo autêntico operário brasileiro Paulinho é um despudorado machista. Ele esculhamba com as mulheres, esculhamba com os veados. Mas, certamente, como todo bom machão, não consegue viver sem nenhum dos dois.
A princípio o comentário de Paulinho da Força Sindical parece preconceituoso. Mas, na verdade, não o é. Por outro lado, mostra que ele tem uma certa consciência da postura de vanguarda da comunidade gay. Ele sabe que o que é coisa de gay hoje, amanhã certamente será coisa de machão. Na moda, por exemplo, isso acontece o tempo todo. O que os gays usam num verão, e é tachado como coisa de veado, dois anos depois, quando os gays já estão em outra, os machões usam como se fosse a coisa mais fashion do mundo. Sem querer fazer trocadilho, mas já fazendo, nós estamos sempre na frente.
Há uma outra questão muito importante na observação do Paulinho, desde já, o novo muso operário do movimento gay. Quando ele disse que “antigamente esse negócio de meio-ambiente era coisa de veado”, ele quis dizer que agora esse é um assunto dos heterossexuais. E tem toda razão. São os heteros os grandes responsáveis pela doença do planeta. O aquecimento global é provocado pelos heterossexuais. Os gays não têm nada a ver com isso. São eles, os heteros, que se reproduzem de forma irresponsável. São os casais formados por homens e mulheres que lotam o planeta de bebês. E cada novo bebê que nasce é um ser humano a mais para beber, comer, consumir, juntar lixo, derrubar árvores, poluir rios e mares, etc. Enfim, trabalhar para a destruição dos planetas.
Sempre que se fala em evitar a degradação ambiental do planeta usa-se como argumento a diminuição de gases poluentes, a preservação das florestas, o desenvolvimento sustentável e outras balelas. Nada disso vai adiantar se os casais heterossexuais continuarem se reproduzindo como se nada estivesse acontecendo. A degradação do planeta terra é provocada pelo excesso de seres humanos. Enquanto não houver um rígido programa internacional de planejamento familiar o destino do homem será sua autodestruição.
Leia mais sobre os veados e o aquecimento global no artigo Santificado seja o vosso nome, publicado no site do jornalista Sidney Rezende
NOITE DE PIGALLE – O escritor Simon Lane é um personagem. Nasceu na Inglaterra, mas adotou o Rio como sua cidade. Casou com uma carioca, a dama do high society Betsy Monteiro de Carvalho e vive numa bela casa, no alto de São Conrado, cuja vista, de tão bela, parece uma visão do paraíso. Quando eu o entrevistei Simon me contou que já havia sido assaltado no Rio. Um sujeito lhe apontou uma arma e levou todo o dinheiro que ele tinha no bolso, duzentos reais. Perguntei se ele não tinha ficado apavorado, revoltado e com vontade de ir embora do Rio. Ele respondeu que não, que em todo lugar tem violência. “Pior seria se eu tivesse em Londres e um homem bomba resolvesse explodir o metrô. Eu não teria a menor chance. O homem bomba jamais aceitaria duzentos reais para me deixar ir embora”.
No próximo 17 de Maio Simon Lane vai estar lançando Noite de Pigalle, com sessão de autógrafos na livraria Argumento do Leblon. Apesar de ter nascido na Inglaterra e viver no Brasil seu romance é ambientado na França, mas precisamente no coração de Paris, cidade onde já viveu. Conta a história de um poeta falido que, atendendo a sugestão da gerente de seu banco, resolve escrever um livro comercial para ganhar dinheiro e se livrar de suas dívidas. Lançado nos EUA e Europa com o título de Fear, que é o nome do personagem principal, o livro tem tradução de Roberto Muggiati e trata com admiração da vida boêmia de Paris.
A encantadora Paris também foi cenário do romance anterior, Boca a boca, traduzido por Bárbara Heliodora. A história é perturbadora. O personagem central é um jovem filipino, transsexual, imigrante ilegal, que é apaixonado por um brasileiro. Ele trabalha como empregada doméstica para cinco cidadãos franceses. Certo dia, quando a bicha chega para trabalhar, encontra um dos seus patrões morto. Apavorada, achando que vai ser acusada do crime, presa, deportada e, o pior de tudo, separada de seu namorado brasileiro, decide se livrar do corpo. Vestida com o mesmo sarongue colorido com que chegou para trabalhar a bee coloca a vítima numa caçamba de lixo e a sai arrastando pelas ruas de Paris, num dia em que a cidade está em festa, com o objetivo de jogar o corpo no rio Sena. É um retrato denso e perturbador da vida moderna.
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