MOMENTO ESPORTIVO – Ainda falta uma semana para acabar o Pan e eu já estou exausto. Ufa! Haja competição. Os jogos da seleção masculina de handebol foram os mais empolgantes. Os atletas demonstram ter absoluto controle sobre o esporte que praticam. As equipes se movimentam como se fossem um grupo de dança moderna executando uma arrojada coreografia. E Bruno Souza, o principal nome da equipe brasileira, é um exemplo de carisma, talento e sex-appeal. Palmas para ele que ele merece.
E o que dizer do Tiago Pereira? Lavou a alma dos brasileiros com sua coleção de medalhas de ouro e suas sucessivas quebras de recordes. Um gênio, o rapaz. Na piscina ele parece uma enguia, me disse o jornalista José Viterbo, com água na boca, ao comentar a performance do bonitão nas piscinas. Para os torcedores a natação está sendo o grande esporte do Pan, já que os nadadores não têm decepcionado o público. Mas, como competição, esse esporte já teve dias melhores. Aquela malha preta que os atletas usam acabou com metade da graça das competições nas piscinas. Nadador de maiôzinho é um horror. Bons tempos aqueles em que feras como Gustavo Borges, Fernando Scherer, Djan Madruga, Ricardo Prado e Mark Spitz competiam apenas de sunga. Todo mundo podia admirar as pernocas dos meninos. Alguém devia proibir os atletas de usarem aquelas roupas pretas ridícula. Queremos nadadores de sunga, deveria ser o grito das arquibancadas. Ainda bem que os atletas do pólo aquático masculino não adotaram essa moda cafona e continuam competindo de sunga. Viva o pólo aquático!
O momento mais triste do Pan foi o acidente com o Flavio Canto. Ele estava lutando tão bem. Venceu o cubano com muito estilo. Mas não deu sorte. Tudo bem. Em setembro vai ter o Mundial de Judô, aqui mesmo na cidade do Pan, e ele certamente vai dar a volta por cima. Em compensação Leandro Guillero e Thiago Camilo salvaram a pátria de quimono.
Em tempos de PAN e de TAM vale a pena perguntar: quem agüenta a imprensa brasileira? Os excessos pipocam nos jornais e nos canais de TV. Os jornalistas se arvoram juizes, fiscais, auditores, experts em tudo, filósofos, sociólogos, etc. A função de jornalista exige uma certa frieza e uma boa dose de isenção. Mas não é isso que temos visto nesses tempos de PAN e de TAM.
No caso do PAN, alguém precisa avisar ao pessoal que está fazendo a cobertura para maneirar na torcida. Os jornalistas torcem muito. Eles se emocionam junto com os atletas. Vibram em excesso. Tudo bem. É compreensível. O Brasil está competindo e todos são brasileiros. Mas ninguém precisa perder a classe (profissional) por causa disso. Os repórteres só faltam se atirar nos braços dos atletas. Esquecem que são repórteres e se transformam em tietes. Além disso, depois que a TV decidiu que jornalismo é show business, os repórteres se comportam como se fossem animadores de auditório. E nem todos têm talento para isso. Houve até o caso de um saltitante repórter de telenoticiário que saiu correndo atrás do Tiago Pereira, logo após mais uma medalha, e gritou emocionado para o atleta: Tiago, tua mãe disse que você é lindo! Ora, bolas. Que bicha é essa? Fica botando a mãe do atleta no meio de uma pegação. Plim plim pra esse repórter.
Ainda falando sobre o PAN, virou um jargão jornalístico para meus coleguinhas, como o esporte serve para livrar menores carentes do tráfico e da marginalidade. Não tem um dia que a imprensa não descubra um jovem que saiu de uma “comunidade carente” (toc, toc, toc) para as glórias do pódio esportivo. Ai meu saco! Existe nesse comportamento uma vontade dos jornalistas de darem dignidade e correção política ao seu trabalho sujo. Uma vontade das empresas jornalísticas de imprimirem algo de messiânico ao negócio sórdido em que manipulam fatos e noticias. O fato é que não há um dia sequer em que algum gênio da imprensa não descubra um jovem que saiu da favela e se livrou do tráfico de drogas através do esporte. É sempre uma história de superação de um coitadinho da favela que venceu graças a grandiosidade do esporte. Que saco! É a imprensa ajudando a alimentar a indústria do coitadinho, o negócio que mais prospera no Brasil.
Agora falando da TAM, também impressiona a indignação mecanizada da imprensa que cobre o acidente do avião em São Paulo. É claro que o que aconteceu foi uma coisa terrível, que existe uma enorme parcela de descaso das autoridades entre as causas do acidente. Mas o jornalista não pode perder a linha. Não pode se deixar emocionar pela tragédia a ponto de perder o senso profissional. Eu sei que é difícil. Principalmente se alguém está diante de um avião que acabou de explodir com 186 pessoas a bordo. Mesmo assim, me parece estar havendo um excesso de emoção por parte da mídia. O que temos visto na cobertura do acidente da TAM é uma imprensa emocionada e histérica. Eu diria até que quase descontrolada...
Meia hora depois do acidente a imprensa já cobrava das autoridades uma explicação. Como se isso fosse possível. Os parentes das vítimas, no desespero da dor, até poderiam cobrar uma explicação de quem quer que fosse. Mas um jornalista deveria ter o equilíbrio para saber que isso é humanamente impossível. O avião tinha acabado de cair, como alguém poderia explicar alguma coisa? Na primeira noite da cobertura, essa busca ansiosa por explicações só mostrou como são superficiais os critérios jornalísticos. Ao mesmo tempo o tom dramático da cobertura do acidente nos canais de TV buscava disfarçar o lado mundo-cão existente na enganadora busca honesta de esclarecimento dos fatos.
O governo Lula e sua enorme equipe de incompetentes merece toda a crítica do mundo. Eles são péssimos, não têm o menor controle sobre nada, o Brasil é uma nau sem rumo. Mas isso não dá direito a um cinegrafista de gravar, pela janela, cenas privadas do assessor de imprensa do presidente, colocar na TV e ficar especulando sobre o que ele teria dito. Que horror... Vemos, nesse caso, a imprensa se igualando ao pior do governo. Outra coisa: ninguém pode, em nome do jornalismo, colocar no ar as imagens de uma mãe desesperada, se contorcendo com a dor de perder dois filhos adolescentes num acidente terrível. Um desrespeito com a dor alheia. Isso é imprensa marrom.
O horror... O horror...
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