CIDADE NUA - Existe um pequeno grupo de marginais que costumam assaltar turistas na praia de Ipanema e no Posto Seis, em Copa. Eles nunca assaltam os moradores. Suas vítimas são os turistas que, encantados com a beleza da cidade, se distraem, e são roubados pelos malandros. Como os covardes só atacam turistas eles circulam cheios de marra pela praia, como se sua atividade criminosa não estivesse sujeita a críticas das pessoas honestas que circulam no pedaço e se sentem incomodadas com isso. Muitos moradores ficam indignados com a presença dos ladrões circulando livremente no seu território. Vários já ligaram para a polícia, dando todas as informações sobre as atividades do grupo, mas não adianta. Reprimir ladrões de turistas não é uma prioridade para a polícia carioca.
Nesse grupo de bandidos existe um que se destaca. É o mais atuante. O mais presente nessa atividade deplorável. A primeira vez que vi esse sujeito eu estava no Posto Seis, conversando com um grupo de jogadores de futebol de praia, quando um deles apontou para o pilantra e disse: Tá vendo aquele cara ali? Ele é ladrão da favela. Fica rondando aqui na praia, roubando os turistas. Isso faz mais de dez anos. Depois disso, sempre que via esse sujeito na praia, eu ficava de olho nele e, invariavelmente, o flagrava roubando algum turista.
Esse ladrão é aquilo que o meu saudoso avô chamava de descuidista. O ladrão que se aproveita do descuido da vítima para roubar. O sujeito fica na praia, posando de banhista, e quando vê um turista distraído surrupia seus pertences e sai de fininho. Ou sai correndo em disparada. Geralmente tem um segundo que dá cobertura. O fato é que esse ladrão faz da sua atividade criminosa uma profissão. Os moradores que vão a praia nessa região já o conhecem e o detestam. Apesar de não roubar os locais ele não respeita os moradores e furta os turistas na frente de qualquer pessoa. Quando alguém esboça alguma atitude para proteger as vítimas ele faz ameaças. Fica olhando de cara feia. Intimidando as pessoas honestas.
A cara de pau desse ladrão é tanta que, no último verão, junto com um comparsa, ele montou uma barraca para vender cervejas na praia gay de Ipanema, que estava lotada de estrangeiros. Era uma coisa bem rústica. Apenas um isopor cheio de latas de cerveja. Aquilo era apenas uma desculpa, um disfarce, para ficar ali, no meio dos banhistas. Quando algum estrangeiro se distraía, ou mergulhava na água, o canalha surrupiava objetos de valor, sumia algum tempo, depois voltava, já que havia um comparsa que lhe dava cobertura. Ou seja, o pilantra é um ladrão profissional.
Pois bem.
Para minha surpresa, semana passada, quando fui ao lançamento do livro Todos os dias, de Jorge Reis-Sá, na livraria da Travessa, no Shopping Leblon, eu dei de cara com o ladrão de turistas. De cara, levei um susto. "O que é que esse cara tá fazendo aqui no shopping?", pensei diante das fotos de Gisele Bundchen na vitrine da Colcci. Foi então que eu observei direito e percebi algo que naquele momento me deixou cabreiro: o sujeito estava trabalhando no Shopping Leblon. Isso mesmo, queridos leitores.
O maior ladrão de turistas de Ipanema está trabalhando no Shopping Leblon.
Vestido com um macacão branco onde estava escrito a palavra Quality, nome da empresa terceirizada que presta serviços de limpeza ao shopping, ele circulava pelos corredores empurrando um carrinho de limpeza, segurando uma vassoura na mão. O sujeito está trabalhando como faxineiro. Circulando com seu carrinho de limpeza por entre as vitrines de grifes elegantes como Blue Man, Sandpiper, Salvatore Ferragamo, Sara Jóias, Mont Blanc Maison, Villa Borghese, Aviator, Calvin Klein, Ermenegildo Zegna, Fruit de la Passion, Maria Bonita e Swarovski.
Waal!, diria o saudoso Paulo Francis. Diante da figura do maior ladrão de turistas de Ipanema refletido na vitrina da grife Lacoste eu pensei com os botões das elegantes camisas ali expostas: Será que esse sujeito se regenerou? Será que ele tomou vergonha na cara, arrumou um emprego e resolveu viver uma vida honesta? Será que esse canalha agora vai deixar os turistas de Ipanema em paz? Será que ele resolveu se tornar um homem bom? Um homem de bem?
Ao mesmo tempo a minha parabólica mental cogitou uma segunda possibilidade. Será que aquilo é só um disfarce? Será que os lojistas e clientes chiques do elegante shopping estão correndo sério perigo? Será que uma onda de furtos vai acontecer no sofisticado centro de compras? Acho bom a direção do centro comercial ficar de olho. Ontem à noite o escritor Doc Comparato me disse que, dias atrás, sua filha teve a bolsa furtada no Shopping Leblon.
Elementar, meu caro Warson!
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