6.1.08

O VERÃO DE 2008 – Leio sem parar o livro Dossie História. Bonito e muito bem editado, é uma reunião de oito reportagens de Geneton Moraes Neto, um dos grandes jornalistas brasileiros. O livro reflete o talento de um digno representante de sua profissão. As matérias têm um profundo senso de jornalismo. Os personagens enfocados foram muito bem escolhidos, na medida em que cada um traz em sua história pessoal fatos de profundo interesse público. E Geneton percebe isso de um modo inteligente ao traduzir para o leitor a importância daqueles personagens para a história contemporânea.


São oito capítulos e oito reportagens. No primeiro capítulo, na redação de um pequeno jornal em Londres, Geneton conversa com Abdel Bari Atwan, o homem que entrevistou Bin Laden. A partir desse encontro, o repórter brasileiro criou uma matéria jornalistíca que faz parecer que estamos diante de um texto do Ian Fleming para um dos romances de James Bond. Há tensão, suspense, e um “quê” de guerra fria. Os personagens parecem dentro de uma trama de ficção muito bem arquitetada. Mas, infelizmente, aquilo é o mundo real. É jornalismo. Leia um trecho a seguir:




Atwan bate no peito: diz que os três dias que passou em companhia de Bin Laden em Tora Bora o transformaram no jornalista que mais tempo ficou com o líder da Al-Qaeda, antes ou depois do 11 de Setembro.

Quem é, afinal, esse homem a quem Bin Laden fez tantas confidências, antes dos ataques de 11 de setembro de 2001. Abdel Bari Atwan é um palestino, nascido na Faixa de Gaza. Radicado na Inglaterra, dirige um jornal de língua árabe que é publicado em Londres, o Al-Quds al-Arabi. A chance de um encontro dface a face com Bin Laden nas montanhas de Tora Bora nasceu depois de um convite da Al-Qaeda.

Não por acaso, Atwan se tornou especialista em Bin Laden. Aceitou nosso pedido de entrevista, mas demonstrou ser um homem desconfiado. Vive olhando para os lados, como se estivesse se guardando contra a investida de algum intruso imaginário. Sobre a mesa de trabalaho, ao lado do teclado do computador, mantém um terço islâmico ao alcance da mão, para quando quiser enviar aos céus uma prece a Alá. O bigode é de Saddam Hussein.. Os cabelos devem ter passado por uma tintura rejuvenescedora.

Jornais publicaram que Osama Bin Laden chegou a andar com um cartão de visita de Atwan no bolso. Atwan já declarou, escreveu e repetiu que não endossa nem apóia a “agenda da Al-Qaeda”. Mas é certo que o encontro nas montanhas de Tora Bora serviu para estabelçecer uma relação de confiança entre o bigodudo Atwan e o candidato a califa Osama Bin Laden.





Os demais personagens do livro são figuras instigantes. Há pessoas que conviveram de perto com Mohammed Atta, o imigrante egípcio que se transformou no líder dos terroristas suicidas do 11 de setembro. Carl Bernstein, um dos repórteres do caso Watergate. O militante palestino que causou escândalo ao declarar que estava disposto a explodir como homem-bomba. Um octagenário soldado nazista que fala das atrocidades cometidas nos campos de batalha. O filho que vive em guerra contra o pai. E também o relato de uma mulher que descobriu um terível segredo de família.


Histórias reais que Geneton conta para o leitor com o talento de um grande repórter. Na apresentação do livro o autor diz que se considera “um pequeno tarefeiro da memória. Porque, em última instância, a memória é a grande matéria-prima do jornalismo”. É isso aí!


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