7.4.08

LONDON LONDON - O roteirista, diretor e produtor Marcos Figueiredo, grande figura da vida carioca, se mudou para Londres. Ele está trabalhando no escritório inglês do rede de TV Al-Jazeera, como produtor. E tem dado noticias ao Brasil escrevendo artigos para o site Roda da Moda . Abaixo esse blog reproduz seu último texto, uma deliciosa crônica sobre a exposição do design chinês, em cartaz no Victoria and Albert Museum.




CHINA DESIGN NOW - Quem disse que o objeto de design mais original produzido na China é uma cópia de uma bolsa Louis Vuitton pra ser usada durante um almocinho no Gula Gula? Quem disse que a China apenas polui o ambiente, escraviza criancinhas em suas fábricas e invade países vizinhos como o Tibete? A exposição CHINA DESIGN NOW que acaba de ser inaugurada no Victoria and Albert Museum em Londres, (de 15 de Março até 13 de Julho), nos mostra que na China ainda existem muitas questões a serem resolvidas, mas que também existe uma onda contrária, mais positiva, criativa, ecológica e antenada.

A China, como os outros membros dos BRIC Countries (Brasil, India e Rússia), é um país imenso e super-esteriotipado pelo ocidente. Pouco se sabe de sua energia criativa que nos últimos 20 anos redescobriu seu passado pré-socialista e começou a combinar suas tradições com influências globais para, dessa forma, produzir um renascimento cultural. No coração dessa revolução artística está a nova cultura do design Chinês. Essa exposição nos leva por um passeio ao longo das 3 maiores cidades costeiras chinesas: A primeira sala se concentra no extremo sul do país, onde “graphic designers”, na cidade de Shenzhen, começaram a descobrir novas direções nos anos 90. Depois caminhamos para Shanghai, onde o consumismo e a cultura urbana se fundiram para produzir uma moda e uma cultura vibrantes e cheias de originalidade. A última sala nos faz mergulhar em Pequim, sua monumental arquitetura que está sendo produzida para os jogos olímpicos, suas “eco-cities” movidas a energia solar e auto-sustentáveis e seu skyline que está trasnformando a capital num dos centros mais modernos do planeta.

China Design Now explora os sonhos e esperanças do país nas últimas duas décadas. O foco da exposição vai desde o designer e seu mundo individual até o país como um todo. O objetivo principal da exposição é trazer um pouco do melhor, mais criativo e bacana do que está sendo produzido na China no momento. A exposição foi patrocinada pelo banco HSBC que opera na China desde 1865. Em seu discurso de abertura, o presidente do HSBC Stephen K Green disse que "o entendimento entre diferentes culturas é essencial para construir relações entre as pessoas pelo mundo afora e que essa exposição faz parte do programa de intercâmbio cultural patrocinado pelo banco. Esse intercâmbio tem como meta apoiar artistas de vários países do mundo para que possam exercer sua energia criativa em um país diferente do seu. Dessa forma cria-se uma experiência cultural única e uma nova geração acostumada à troca de informação entre os povos".




SHENZHEN – THE FRONTIER CITY - A CAPITAL DO DESIGN CHINÊS - Nos anos 70, Shenzhen era uma vila de pescadores ao norte de Hong Kong. Nos anos 80, durante a reforma econômica a vila foi transformada na primeira “zona econômica especial”, isso em chinês traduz-se como a maior zona industrial do mundo. Hoje em dia essa cidade é a mais jovem e mais nova do país. População: 10 milhões de pessoas. A faixa etária media é de 27 anos!

Com toda essa gente, não podia dar em outra coisa. Shenzhen é o berço do design chinês contemporâneo e da indústria editorial. A cidade atrai uma geração de chineses talentosos de todo o país tornando-se um campo fértil de muita experimentação, criatividade, independência e ousadia. Tudo isso com a colaboração e o intercâmbio de designers de outras partes do mundo, embarcando nas novas tecnologias e na cultura jovem e urbana. Algo completamente diferente da idéia que o ocidente tem da propaganda política comunista do passado.

O design na China é um conceito novo que se iniciou na década de 90. Com uma passada rápida em Hong Kong onde já tinham seu centro de produção, muitos desses artistas se mudaram para Shenzhen onde se tornaram profissionais bem sucedidos em vários ramos. Foram destaques na sala dedicada a Shenzhen:

1 - Vários curtas de animação projetados em loop. Vale ressaltar que, ao contrário dos japoneses, os personagens chineses possuem olhos puxados bem orientais e o desenho possui uma forma mais orgânica;

2 - Terminais de computadores com fone de ouvido conectado ao mais importante site sobre mídia, publicidade e cultura urbana chinesa escrito em inglês : www.danwei.org Esse site nos dá a oportunidade de acessar vídeos, blogs e reportagens sobre o que há de mais recente e jovem nesse caldeirão em ebulição que é a China de hoje em dia;

3- A nova caligrafia chinesa baseada na escrita antiga (Han Jiaying, Beauty, poster series for Frontier Magazine, 1997);

4- Ursinhos (Ji Ji, Hi Panda, Toy Figure de 2006) pandas que fazem parte da primeira coleção de miniaturas colecionáveis de design original produzidos no país. Produzidos pelo estúdio MEWE Design Alliance e o Shanghai Team Perk.






SHANGHAI - THE DREAM CITY - A CAPITAL DA MODA CHINESA - Shanghai tem sido a cidade mais internacional e ocidentalizada da China desde o século XIX. Conhecida como a Paris do oriente, nos anos 20 era o terceiro maior centro financeiro do mundo. É conhecida também como a cidade onde a China moderna nasceu e local de retorno de chineses asilados em Hong Kong após a Revolução Cultural.

É o centro da moda chinesa e onde se concentram os formadores de opinião, de tendências e os principais estilistas. Dentre os “trend settters” destacam-se Yu-Sai Kan e Chen Yifei que são os maiores lançadores e “promoters” de produtos cosméticos, marcas de roupas e revistas de estilo, moda e comportamento. Shanghai foi a primeira cidade chinesa onde se viu o primeiro carro, o primeiro telefone, o primeiro outdoor, ou seja, o primeiro “tudo” que veio do Ocidente. Está passando por uma reformulação urbana jamais vista. Uma cidade inteira foi construída com o nome de Xintiandi (Novo mundo) uma espécime de “play-ground” ocidental onde os habitantes da cidade podem brincar de ocidentais. A maquete me pareceu uma Barra da Tijuca gigante. Shanghai é definitivamente a capital da moda e lançadora de tendências do país. Foram destaques na sala dedicada a Shangai:

1-Capas de revistas de moda e comportamento. A Vogue China só existe a um ano. A revista mais jurássica feminina da China é a ELLE China que existe desde os anos 90. A minha impressão é que tudo começou lá nos anos 90 no que diz respeito a moda, design e arquitetura conceitualizada.

2-Os tenis Nike com material transparente projetado segundo os princípios da acupuntura. Runyo, PK and HIMM, Nike year of the dog Air Force1

3-Com o crescimento econômico nasceu uma nova classe média ávida por consumir. Segundo uma pesquisa os 4 objetos de desejo dos chineses contemporâneos são:

CASA - A sala nos presenteia com vários projetos de condomínios fechados com estilos hispânico californianos tipo “una hacienda mexicana” e outros com estilo inglês Edwardiano e por aí vai. Tudo com um ar de Truman Show.

CELULAR - Vários modelos de celulares feitos na China por fábricas e design chinês. Parecem uma versão de celulares da marca alemã “Braun”, mas como se fossem feitos no leste Europeu antes da queda do muro de Berlim, se é que vocês me entendem… Muito interessante são as projeções num telão com comerciais de celulares com chineses voando e gritando em movimentos de artes marciais. Super Produções.

LAPTOP - Ítem disputado a tapa pelos jovens chineses. Vários modelos com design não existente no ocidente a preços que variam entre 15 e 50 dólares. Uma pechincha para padrões ocidentais. Os modelos pecavam pelas cores. Tudo muito desbotado em tons pastéis como um azul muito claro quase branco. Durante a exposição nâo se podia abrir o computador pra testar quais eram os programas utilizados. Mesmo em chinês se poderia ter uma idéia da interface do computador.

CARRO - Outro ítem jamais pensado num país em que até a pouco tempo tinha como sonho de consumo uma bicicleta. As Projeções de salões de automóveis em Shanghai não diferem em nada do salão de automóveis de Frankfurt ou Detroit. Outra projeção que vale ressaltar foi uma mostrando a disparidade entre ricos e pobres com imagens de familias inteiras vivendo em cubículos de 10 metros quadrados. Haviam textos explicando a vida e os desafios de cada família.






PEQUIM - THE FUTURE CITY - A CAPITAL DA ARQUITETURA CHINESA - Pequim dispensa apresentações. Possui uma posição única entre as cidades chinesas. É a capital política e cultural do país, sede do Palácio Imperial e da corte desde o ano de 1420. Recentemente foi escolhida como a sede dos jogos olímpicos de 2008 e é definitivamente o maior canteiro de obras e de transformação de todo o planeta.

A cidade está passando por um processo de transformação radical jamais visto em nenhuma cidade em toda a história da humanidade. Esse jogos serão os mais “high-tech” da história das olimpíadas. Toda uma nova infra-estrutura de arquitetura comercial, residencial, esportiva e de negócios está sendo construída numa escala gigantesca.

Pequim está se preparando e dando o melhor de si para impressionar o mundo e mostrar uma nova imagem de modernidade e prosperidade. A cidade concentra os maiores arquitetos do país e os projetos mais ambiciosos. Essa nova geração se expressa em projetos dos mais variados. Foram destaques na sala dedicada a Pequim:

1- Maquete do estádio nacional, projetados por Herzog e de Meuron. Conhecido como o “ninho de passarinho” pelos pequineses por sua forma. Sediará a abertura e o encerramento dos jogos olímpicos além de vários eventos esportivos.

2- Maquete do novo aeroporto de Pequim que será o maior do mundo. Pelo aeroporto que do alto tem uma forma de dragão, espera-se a passagem de 10 milhões de passageiros por ano. Muito interessante é a estação de trem conectada ao aeroporto prometendo dar vazão a toda essa gente.

3- Maquete da Eco-City. Bairro de Pequim que será totalmente ecológico e autosustentável. Energia solar, reciclagem e respeito ao ser humano e à natureza são preocupações constantes da nova geração de arquitetos antenados chineses. Muitos deles com fortes ligações e bases em Londres e Berlim.






A FESTA DE ABERTURA DE CHINA DESIGN NOW - A festa de inauguração foi realizada numa casa especialmente alugada para a ocasião em South Kensington. No jardim havia malabaristas do circo de Pequim executando uma performance atlética com inspiração nas origens do circo, no trapézio e na dinastia Ming. Várias miniaturas de cavalos chineses em neon anos 80 espalhavam luzes coloridas por todas as partes. Ideogramas chineses gigantes também em neon davam um clima psicodélico e pop a uma cultura milenar.

Fotos e videos eram proibidos durante a festa. Haviam também vários infláveis com reflexos e brilho em formas de dragão, tigre e vários outros animais do horóscopo chinês. Esses Infláveis de gás hélio eram amarrados, com cordões dourados, aos ideogramas que os mantinham em uma altura razoável e visível dando uma impressão insólita e lisérgica ao ambiente. Dentre os “fervidos” da noite londrina destacavam-se a “tropa de choque” teutônica liderada por Elizabeth von Thurn und Taxis, de Karl Lagerfeld, Tatjana von und zu Liechtenstein, de Viviene Westwood e Philipp von Lattorff, de Gucci.

Outra destacável era a ex-super modelo, cantora, atual primeira dama francesa e “über –fashionable” Carla Bruni – acompanhada apenas de uma amiga de infância - vestida com saia e colant prateado Fendi e bota preta de cano alto com salto. O comentário na festa era de que desde Marie Antoinette a Europa não via nada mais sexy e mais glamuroso. Concordo. Outra figura curiosa na noite era o jornalista e fotógrafo brasileiro João Carvalho que com seu terninho Alexander McQueen era ponto de interseção disputado entre vários grupos. Vale ressaltar também a presença de Doris Pip Rau com seu IKAT fucsia (ou hot pink) customizado “made in Quiquizia” atual Kirquistão.

Roman Abramovich (Avec Entourage Ruski) chegou tarde, mas sua presença definitivamente não passou em branco. Ás 5 da manhã a debandada foi geral. Na confusão da saída várias convidados jogavam moedas de uma libra como caridade para o que se pensava ser um grupo de sem-tetos. Descobriu-se mais tarde que se tratava de um grupo de monges tibetanos radicados em Londres protestando contra a repressão chinesa no Tibete. (Acontece o mesmo todos os dias em frente à embaixada da China). Gafe fashion. É difícil ser politicamente correto as cinco da manhã. O que vale é a intenção. Os mais descolados se jogaram num after party em Vauxhall perto da Victoria Station onde tocava Zhang Hongxing, DJ em voga em Shanghai. O local, decorado especialmente para a ocasião tinha um ar “Vintage-Cabaret-Burlesque” que tinha tudo a ver com a hora e local. A celebração da cultura chinesa durou até tarde. Muito tarde. China Designs Now and London clubs forever!


Madonna vem aí...

 

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