SHOW DE BOLA – A favela ataca novamente. Estréia na próxima semana nos cinemas do Rio Show de Bola, do diretor alemão Alexander Pickl. O filme já foi exibido com sucesso na Alemanha, onde um crítico o definiu como “Cidade de Deus com futebol”. A definição revela uma boa observação sobre o filme. Mais uma vez a favela é cenário do cinema nacional. Apesar de o diretor ser alemão o filme é falado em português e tem alma de filme brasileiro. Em entrevistas Pickl chegou a afirmar que tinha se inspirado no filme de Fernando Meireles para realizar Show de Bola. Na terça-feira, 5 de Agosto, o diretor e o elenco estarão promovendo uma sessão apenas para convidados no cinema Roxy em Copacabana.
Show de Bola conta a história de Tiago, uma garoto que mora na favela, cuida da mãe doente, e tem uma vida pobre ao lado do irmão. Na comunidade ele é conhecido por sua habilidade com a bola. É um craque nato. Seu irmão Marcos, uma convicente atuação do top model Gabriel Mattar, se mata de trabalhar para sustentar a casa e acalentar o sonho de Tiago em se tornar um grande jogador de futebol. Para eles essa é a única maneira de saírem da miséria. A vida de Tiago se complica quando dona Maria, sua mãe, uma brilhante atuação da atriz Sandra Pêra, tem uma forte crise de saúde. Tentando conseguir recursos para pagar o tratamento da mãe, Tiago aceita trabalhar vendendo drogas para o traficante Tubarão, personagem do ator Lui Mendes. Comovido com o talento de Tiago para o futebol o traficante, através de seus clientes no meio esportivo, consegue uma oportunidade para o rapaz jogar no Fluminense. Mas uma série de contratempos insiste em atrapalhar os sonhos do jogador.
Quem faz o papel de Tiago é o ator Thiago Martins que, com esse personagem, se consagra definitivamente como “o definitivo galã da favela”. O jovem ator do Vidigal, que despontou em Cidade de Deus, interpreta novamente o gostosão da favela. Sem tirar nem pôr, seu personagem em Show de Bola é o mesmo personagem que ele faz no filme de Breno Silveira Era uma vez, em cartaz nos cinemas.
Sobre o filme Show de Bola é importante dizer que desde Asa Branca, de Djalma Limongi Batista, que o futebol não era retratado com tanta propriedade pelo cinema brasileiro. A relação apaixonada entre o homem brasileiro e o futebol é narrada com muito charme pelo filme, que tem seqüências maravilhosas filmadas no Maracanã, num jogo entre o Fluminense e o Volta Redonda. Sobre isso o diretor declarou numa entrevista:
"Eu sabia que o futebol era importante para as pessoas no Brasil, mas que substituísse a religião, isso eu não podia imaginar. Precisamos andar uma vez à noite ao longo da Avenida Copacabana, caso queiramos ver qual o valor que tem o futebol no Brasil. Ali realmente cada centímetro quadrado está marcado para campos de futebol de praia”.
O diretor Alexander Pickl é um desses europeus que adoram o Brasil e vem com freqüência ao país. Ele é um renomado diretor de comerciais na Europa e esse é seu primeiro longa metragem. Antes ele havia dirigido apenas sofisticados anúncios de automóveis, shampoos, celulares e outros ícones da sociedade consumo. Nos intervalos de suas filmagens Pickl sempre dá um jeito de vir passear no Rio, curtir a cidade e seus bofes inacreditáveis. Aqui o diretor alemão gosta de curtir o carnaval, a praia em Copacabana, nossa comida típica e também o candomblé. Ele é louco pelo candomblé. É filho de santo e freqüenta um terreiro no subúrbio onde participa de rituais. Mais carioca impossível. Depois da estréia de Show de Bola ele tem planos de voltar a dirigir no Rio, dessa vez um filme sobre artes marciais inspirado na figura do lutador Ryan Gracie.
Em entrevistas a jornais europeus Alexander Pickl falou sobre o cotidiano das filmagens, a experiência em fazer cinema no Brasil e sua convivência com as favelas cariocas. Ele disse:
No Rio de Janeiro e nas favelas, de qualquer forma reina a anarquia e o caos. Quando se combina hoje numa favela um horário de filmagem para amanhã, pode acontecer que se acabe no meio de uma luta de bandos, nem sendo possível usar o cenário do local.
Durante as filmagens muitas vezes éramos alvo de tiros. Uma vez fomos presos pela polícia militar e ameaçados pela máfia das drogas. Para conseguirmos filmar tínhamos que fazer conexões com todo tipo de gente. Um dos nossos contatos era um sujeito que atua como guia nas favelas e vive de extorquir dinheiro dos turistas.
Como pode ser visto muito bem no filme, vistas a distância, as favelas parecem colméias de abelhas. Em Cantagalo, uma das favelas, descobre-se, de muito longe, no meio desse favo cinzento, uma construção branca e muito alta, que se parece com aquilo que imaginamos ser uma vila de um barão das drogas da Colômbia. Por sorte não existe cinema com estímulo olfativo. Em muitas favelas foi necessário juntar todas as forças para que a equipe toda não vomitasse sem parar. O mau cheiro era imenso.
Eu teria amado filmar, na zona norte, um dos rituais das lendárias magias da macumba. Mas a zona é considerada muito militante e perigosa. Não é raro que atirem dos telhados das casas sobre carros que passam nas rodovias.
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