ISABELLE ADJANI DE IPANEMA – “O que é que você achou?”, me perguntou Adriana Birolli, com seu vozeirão incrível, quando fui cumprimentá-la, depois da estréia do espetáculo Manual Prático da Mulher Desesperada, no Teatro Cândido Mendes. Pensei em dizer: “Desde Renata Sorrah que eu não vejo alguém atuar com tanta personalidade nos palcos cariocas”. Mas eu estava tão emocionado com a sua atuação, com a sua segurança, com seu brilho de estrela que, tímido, disse apenas; “adorei o teu espetáculo. Você está ótima”.
Adriana é do palco. O modo como ela entra em cena deixa isso bem claro. Ali é o seu reino, lugar onde ela faz e acontece. Segura, ela domina o texto de Dorothy Parker com sua voz potente e colocada. Há quem diga que tudo o que uma atriz precisa é de uma boa voz. "Teatro é voz", costuma dizer Bibi Ferreira. Pois bem. Adriana tem a voz que toda atriz sonha. Mas, no caso dela, isso não é tudo. Ela tem um rosto expressivo. Uma beleza enigmática, mágica, que fez com que seus conterrâneos do Paraná lhe desse o apelido de “a Isabelle Adjani de Curitiba”. Não satisfeita em ter talento, voz e beleza, Adriana Birolli tem um corpo. E que corpo! O palco só falta pegar fogo quando ela aparece de lingerie, vociferando uma das mais venenosas tiradas de Dorothy Parker: "Só exijo três coisas de um homem : que ele seja bonito, insensível e burro".
A Adjani curitibana é uma mulher decidida, que sabe o que quer. Daí a ousadia de produzir um espetáculo como Manual Prático de Uma Mulher Desesperada, a radiografia de uma mulher sem um programa para o sábado à noite. Depois de cinco peças de sucesso na sua terra natal, ela decidiu que já estava na hora de conquistar o Brasil. E o Brasil se conquista através do Rio. Sua fama já havia atravessado fronteiras, tanto que, mal chegou a Ipanema foi logo contratada pela Rede Globo. Dividindo com ela essa aventura no universo de Dorothy Parker dois feras do teatro curitibano: o ator Cadu Scheffer e o diretor Ruiz Bellenda. O trio se completa no delírio criativo, realizando um espetáculo divertido e cativante.
Enquanto encena seu espetáculo no Rio a Adjani de Curitiba se ambienta na cidade. Vai à praia no Posto Nove. Compra revistas estrangeiras na Letras & Expressões. Caminha no calçadão. E vai assistir a todos os espetáculos em cartaz. Adorou Brincando em cima daquilo, com a Débora Bloch e A mulher que escreveu a Bíblia, com Inês Viana. Amigos contam que ela não permite que ninguém entre de sapato no seu apartamento na Barão da Torre. Como nas residências japonesas, o visitante é obrigado a deixar os sapatos na porta. “É que as calçadas de Ipanema são muito sujas”, justifica a estrela, acostumada com a vida civilizada na sua Curitiba.
Frustração
Se eu tivesse uma arma neste momento
Teria um mundo de divertimento
espalhando balas nos cérebros, sem pudor,
dos caras que me causaram dor.
Ou tivesse eu algum gás venenoso
teria um passatempo gostoso
acabando com um número indigesto
de pessoas que detesto
Mas não tenho nenhuma arma mortal
Assim, a Fatalidade não me dá prazer tal.
Então eles ainda estão lépidos e fagueiros
aqueles que mereceriam o inferno por inteiro.
(Poema de Dorothy Parker)