BONS LIVROS - O livro é o melhor amigo do homem. As editoras estão lançandos bons títulos de olho nas festas de fim de ano. Não há melhor presente que um bom livro, ok? O Rei do cinema, de Toninho Vaz e Rim por rim, de Júlio Ludemir, são bons representantes da literatura brasileira.
O Rei do cinema narra a história de Luiz Severiano Ribeiro, ícone do cinema brasileiro, seus descendentes e a relação repleta de boas histórias da família e o cinema - tanto o brasileiro quanto o norte-americano. O autor Toninho Vaz descreve essa trajetória desde o primeiro Luiz Severiano Ribeiro, o médico, passando pelo obcecado criador de cinemas e seu filho, Júnior, produtor das chanchadas, até Luiz Severiano Ribeiro Neto, que administra uma cadeia de 208 cinemas em várias cidades brasileiras.
Contra os fatos não há argumento. Luiz Severiano Ribeiro tornou-se um dos maiores empresários brasileiros e o grande criador do ambiente nacional de magia proporcionado pela sala escura. Uma história emoldurada por motivos art nouveau e nascida no tempo em que o gongo tocava três vezes antes de se apagarem as luzes do grande salão. O livro resgata, aqui, a história de uma família organizada em torno do ideal de Luiz Severiano Ribeiro, o pioneiro, o Imperador dos cinemas, o Rei. Uma história com o glamour dos anos dourados, o charme das tardes dominicais na rua do Ouvidor, centro do Rio de Janeiro, ou dos cafés elegantes em Fortaleza, que reuniam a juventude literária dos anos 1930 a 1950.
Uma história de abundância, não de sucesso. Abundância no sentido amplo, que vem de todos e retorna para todos. Não do sucesso que se encastela em apenas um personagem. Severiano Ribeiro era um investidor. O dinheiro que entrava como lucro devia ser canalizado para novos investimentos, provocando um efeito multiplicador. Assim, antes de completar 40 anos, Ribeiro já comandava a maior cadeia de cinemas do Brasil, com salas de exibição em vários estados.
Do início da saga dos Severiano Ribeiro com o médico de Baturité - no tempo que cinema ainda era uma experiência rudimentar - até os dias de hoje, com a adequação do sistema multiplex às salas coletivas de shopping centers, o livro traça a trajetória do Brasil moderno. O Rei do cinema é um trailer bem montado sobre nossa história vista pela evolução de nosso mercado cinematográfico.
Em Rim por rim, livro-reportagem sobre o tráfico de órgãos humanos no Brasil, Julio Ludemir mostra vendedores de rins de bairros sem infra-estrutura de Recife e como alguns deles acabam recrutando, a sangue-frio, seus próprios parentes em troca de uma recompensa da cúpula do tráfico. O autor viajou para África do Sul, Europa e Estados Unidos em busca de pistas sobre essa prática.
Depois de No coração do comando, onde explora o sistema carcerário, e Sorria: você está na Rocinha, onde fala da indústria da miséria nos morros cariocas, o jornalista pernambucano Julio Ludemir mergulha de novo no submundo. Dessa vez para revelar o horror do tráfico de órgãos humanos no Brasil. Em Rim por rim, Ludemir prova que esse mito urbano está mais próximo da realidade do que se supõe.
Após uma pesquisa de dez anos, que começou na África do Sul e no Brasil e seguiu para o Oriente Médio (Turquia, Israel e parte da Palestina), para a Europa Oriental (Moldávia e Romênia) e para o sudeste da Ásia (nas Filipinas), bem como para a Argentina, Cuba e Estados Unidos, antes de voltar ao ponto de partida, o autor reuniu dados impressionantes sobre esse comércio absurdo.
Seguindo os diversos rastros dos compradores de órgãos, dos vendedores itinerantes de rins, dos traficantes internacionais de órgãos, dos caçadores locais de rins, dos técnicos em hematologia, dos operadores de bancos de órgãos e tecidos, dos cirurgiões especialistas em transplantes sem projeção alguma e outros profissionais da medicina envolvidos no "turismo dos transplantes", Ludemir encontrou circuitos muito ativos de comércio de tecidos e órgãos que reciclavam corpos humanos - no todo ou em partes, tanto vivos quanto mortos - por valores que variavam de irrisórios a sublimes.
Cada parte do corpo - córneas, tendões, válvulas cardíacas, ossos, artérias, pele - tinha um grau de utilidade e um valor de mercado. Os tecidos retirados amiúde de pessoas mortas sem autorização em hospitais e necrotérios da polícia na África do Sul ou de casas funerárias de Nova York eram "preparados", acondicionados e vendidos internacionalmente. Os escândalos em torno da descoberta dos roubos de cadáveres provocaram uma reação em cadeia: processos criminais e leis mais severas capazes de coibir tais crimes. O livro também se pergunta quem é bandido e quem é mocinho nesta indústria onde todos acham legítima a sua participação. Desde de médicos de renome internacional que fazem a cirurgia, até os vendedores que alegam "o rim é meu, faço com ele o que eu quiser", passando pelos compradores que, por sua vez, não querem ter as suas próprias vidas interrompidas pela falência de um dos órgãos. E os intermediários parecem sinceros quando dizem que estão fazendo uma boa ação. Não os julgue antes de ler esta obra.
Rim por rim é um livro fundamental para entender esse mecanismo e a corrupção que impera em diversos níveis do sistema de saúde. Um grito de alerta contra a banalização do ser humano e a transformação em comércio e lucro a dor e sofrimento de milhares de pessoas que esperam por anos numa fila de transplantes.
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