6.4.10

MORA NA FILOSOFIA – O ano letivo do IFCS, o Instituto de Filosofia e Ciencias Sociais (a Sorbonne brasileira), só começou na semana santa. O imponente prédio do Largo de São Francisco, no centro do Rio, voltou ao seu cotidiano de frenesi intelectual. A busca do conhecimento e do saber permeia os instintos dos que circulam avidamente pelos corredores e escadarias do prédio. Alunos e professores, com seus narizes empinados e suas poses de privilegiados do saber, agem e pensam como se estivessem mesmo na Sorbonne. As salas de aula estão caindo aos pedaços, as paredes pedem uma pintura urgente, faltam pias e torneiras nos banheiros, o sistema da internet nunca funciona, mas ninguém perde a pose. “A Sorbonne é aqui”, parecem gritar as almas penadas que circulam fagueiras pela universidade.


Há realmente algo de relevante na paixão pelo saber observada em tantos alunos. Um encanto com a possibilidade de conhecimento adquirida através do estudo das idéias dos grandes pensadores: Descartes, Platão, Aristóteles, Heródoto, Nietzsche, Levi Strauss, Ludwig Wittgenstein, Jacques Derrida, Spinoza, Kant e muitos e muitos outros. A biblioteca da universidade é uma maravilha. É rica de conteúdo, além de organizada e profissional. Quem gosta de livros fica com vontade de morar na biblioteca do IFCS. E tem também os professores...


Eu gosto mesmo é da filosofia antiga. Platão e sua turma de gregos desvairados. A filosofia moderna cansa um pouco a minha beleza. Toda a filosofia moderna, em maior ou menor grau, foi açoitada pelo Cristianismo. Deus que me perdoe, mas, como o Cristianismo introduziu a noção de pecado na vida moderna, todo o pensamento que surgiu depois de Cristo, carrega uma cruz que me parece pesada e cansativa. Os gregos não tinham a noção de pecado, então o pensamento de Platão não tem essa cruz. Há uma leveza, uma suavidade, mesmo quando ele toca nas feridas mais doloridas da alma humana.


É por isso que eu considero um privilégio assistir as aulas da professora Maria das Graças Augusto, uma especialista em Filosofia Antiga. Ela é uma senhora muito distinta e culta, que sabe tudo sobre os gregos e suas idéias. Assistindo suas aulas, prestando atenção na intimidade com que ela fala dos gregos, eu sempre tenho a sensação que ela acabou de fumar um baseado com Platão. Ela tem uma intimidade com Platão que me encanta e me seduz. Sempre fazendo citações em grego, ela tem se dedicado a esmiuçar com gana e afinco todos os segredos do livro A República, uma espécie de bíblia da filosofia antiga.


Outro professor que me causa admiração e respeito no IFCS é o Rafael Haddock Lobo, com quem me dediquei a estudar Hegel no semestre passado. Sofri muito com esse filósofo. Eu não estaria exagerando se afirmasse que, nos últimos dez anos, poucas pessoas me fizeram sofrer tanto quanto Georg Friedrich Hegel. Putz! Mas, ao mesmo tempo, com seu humor, seu alto astral, seu charme como professor o Haddock Lobo soube me aliviar da dor de encarar esse psicopata alemão. As idéias do Hegel, contidas no seu livro A Fenomenologia do Espírito, até que são interessantes. Mas, o modo como ele as coloca, o modo como ele se posiciona, são por vezes bizarros. Hegel estudou num seminário protestante, por isso eu acredito que suas teorias filosóficas ficaram amarradas nos conceitos de pecado promulgados pelo Cristianismo. Para Hegel filosofar é carregar uma cruz. Ainda bem que o professor Haddock Lobo consegue fazer com que essa cruz seja leve para seus alunos.


Ficou perplexo? Essa é a pergunta que o professor Alberto Oliva sempre faz a seus alunos depois de discorrer sobre o tema permanente de suas aulas: a teoria do conhecimento. Oliva tem uma visão abrangente da filosofia e consegue, de um modo inteligente e sagaz, misturar o pensamento clássico e o moderno, sem provocar choque de idéias. Suas palestras são divertidas e inteligentes e motivam o aluno a freqüentar a sala de aula. Com ele estudar e aprender é algo prazeroso, confortável. 



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