15.12.10


Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor.

A DROGA DO AMOR – O ano letivo da UERJ, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, terminou em grande estilo, com um animado debate tendo por tema A droga do Amor. Uma multidão de alunos lotou o auditório no quinto andar do campus no Maracanã, para ouvir o escritor Zeca Fonseca, a médica e cineasta Virginia Corsini e o cantor e compositor Arnaldo Brandão. O acalorado debate teve como mediadora a empresária Bia Willcox, diretora da Editora Faces, que publicou o livro Pandemonium, sucesso literário de Zeca Fonseca, que defende a tese que a paixão é algo como um vício, uma dependência de drogas.


A teoria de Zeca Fonseca, defendida no seu livro Pandemonium mexeu com a cabeça dos alunos da UERJ. Seria mesmo o amor, um vício? “A paixão tem algo inebriante como uma droga. Algo que altera nossos sentidos e nos deixa fora da realidade”. A afirmação provocou discussões. Se o amor é como uma droga, então devemos fugir dele? Zeca Fonseca, que definiu a droga como “uma miragem de alegria numa estrada deserta e sem norte”, insistiu na questão de que “um homem apaixonado é, sem dúvida, um homem viciado”. Nesse caso o vício seria o ser amado. “Quem ama tem a mesma dependência de um viciado em drogas. O apaixonado quer o amor como um viciado que quer se drogar cada vez mais.” O assunto rendeu uma acalorada polêmica.


Arnaldo Brandão é um artista brilhante, autor de canções de sucesso como Totalmente Demais e Radio Blá. Foi cantando Radio Blá no violão que ele deu início à sua participação no debate. “Ela adora me fazer de otário, para entre amigas ter o que falar...”. Sua participação encantou a platéia, já que ele fez comentários inteligentes e observações oportunas. “A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõem”, disse o compositor, citando William Shakeaspeare em Romeu e Julieta.


Amante da filosofia, Brandão citou O Banquete, o diálogo de Platão que trata do amor e seus atributos. “O amor é um vagabundo que tem como pai a abundância e como mãe a pobreza”, disse, citando Diotima, a personagem do Banquete que define os princípios do chamado “amor platônico”. O amor pela alma do outro, mais profundo que o amor pelo corpo. Um amor mais contemplativo e menos carnal.


A médica Virgínia Corsini, no passado, já foi dependente de drogas e falou de sua experiência nesse sentido e soube comparar o que há em comum entre a paixão e o vício. “É a anfetamina do amor que acaba com os bloqueios da paixão”, disse ela, lembrando que a paixão, o amor, provoca mudanças no corpo e na mente do apaixonado. Para Virgínia o importante para o apaixonado é saber dosar a quantidade do amor. Assim como o viciado precisa saber dosar a quantidade de droga, para não ser vítima de overdose. “Amor em excesso faz mal ao organismo, da mesma forma que droga em excesso pode matar”, disse.


A mediadora Bia Willcox se divertia em meio a conceitos tão exaltados sobre o amor, a paixão e as drogas. Sempre deixando claro para os alunos que ali ninguém estava querendo fazer apologia das drogas, mas apenas promover uma discussão sobre a dependência. Tanto a dependência química, quanto a dependência amorosa. E para equilibrar os ânimos e provocar serenidade na platéia exibiu no telão o poema Amor Idealizado, de Fernando Pessoa.



Amor Idealizado (Fernando Pessoa)



Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.


A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.


Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.

6 comentários:

Rosane disse...

Waldir Leite parabéns pelo seu blog que tem textos divertidos e fotos muito boas

Anônimo disse...

E você, Waldir? Continua apaixonado por um certo vascaíno?

Laurinha disse...

muito interessante esse debate, concordo com o que disse a Virginia, amor em excesso faz mal a saúde,a gente não deve nunca se apaixonar sem perder o controle

lilian disse...

já vivi uma paixão que foi pior do que um vício, sofri muito até conseguir superar, foi horrível, mas graças a deus estou curada e nunca mais quero saber de me apaixonar

Fernando disse...

Zeca Fonseca é um grande escritor, li O Adorador e fiquei muito impressionado

Isabel disse...

O ser humano precisa mesmo ter cuidado com o amor, pois muitas vezes ele se volta contra nós. Ficamos vítimas do amor por amar demais. Queria muito ter ido nesse debate.

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