20 DE JANEIRO - Dia de São Sebastião. Sol de verão. Calor de 40 graus. Praias lotadas. Dia de comemorar o padroeiro do Rio de Janeiro.
I LOVE RIO - Ano passado, durante a campanha eleitoral, trabalhei como Assessor de Imprensa do candidato Fernando Peregrino ao Governo do Estado do Rio. Por causa desse trabalho tive a oportunidade de conhecer de verdade o Rio de Janeiro. Bairros distantes, subúrbios, favelas e o interior do estado. Lugares que eu nunca tinha conhecido. Comícios, carreatas e reuniões com associações de moradores fazem parte de uma campanha política. E eu acompanhava o candidato, fazia fotos, preparava material jornalístico e alimentava a imprensa e o blog oficial da campanha com todos os eventos. E foi por causa desse trabalho que conheci lugares como Japeri, Queimados, Anil, Coelho Neto, Costa Barros, Encantado, Deodoro, Gericinó, Marechal Hermes, Belford Roxo, Paciência, Cidade de Deus, Complexo do Alemão... Fiz um mergulho na cidade do Rio de Janeiro e tive uma surpresa mais do que agradável.
Para quem, como eu, vive enfurnado em Ipanema, esse trabalho foi um aprendizado e, ao mesmo tempo, um prazer. A gente sempre acaba achando que, além da zona sul, é tudo favela e lugares pobres. Não é bem assim. No subúrbio tem bairros muito bacanas, com aspecto civilizado, ruas arborizadas, com casas com quintal e jardim. Houve um dia que nós estávamos indo fazer um comício em Senador Camará e, até chegar lá, passamos por vários bairros e eu olhava curioso por todos os lados, vendo as ruas arborizadas, os prédios e casas de classe média, o comércio civilizado, etc. De repente, eu me virei para o motorista e perguntei: “Ué? Cadê as favelas dessa cidade?” Rogério, o nosso motorista, deu uma gargalhada. “Tá pensando que a zona norte é só favela, Waldir? Esse é o mal de todo mundo que mora na zona sul. Acha que depois do túnel só tem favela...”
Rogério é um cara incrível. Profissional, trabalhador, boa gente. Um cara sensacional. Ele tem um profundo conhecimento da zona norte. Sabe tudo sobre os lugares, as ruas, as pessoas. Uma verdadeira enciclopédia. E quando ele percebeu que eu estava interessado em conhecer aquele mundo maravilhoso que se descortinava à minha frente, ele me deu verdadeiras aulas sobre os bairros da zona norte. Eu já conhecia a região da Vila Militar, em Realengo, que é um dos lugares mais lindos da cidade, com suas ruas largas e arborizadas, e suas construções de uma arquitetura refinada. Mas, graças a esse trabalho, e o auxílio luxuoso de Rogério, eu conheci toda a região: Padre Miguel, Magalhães Bastos, Marechal Hermes, Bento Ribeiro e Rocha Miranda. Fiquei particularmente impressionado com um bairro chamado Vila Valqueire. Não sei porque, mas o nome desse bairro me dava a idéia de um lugar pobre, carente. Mas, não é nada disso. Vila Valqueire parece o Leblon. Só não tem a praia!
Bangu também me impressionou muito bem. Lá tem muitas ruas só de casas, sem prédios. Casas com jardim, quintal, em ruas bem asfaltadas e cheias de árvores. O verde dando um clima bucólico ao lugar. Eu olhava aquela paisagem com ares de espanto, enquanto Rogério rolava de rir. “O Rio de Janeiro é muito lindo, Waldir. Você é que precisa sair mais da zona sul!”, ele dizia, com ares de anfitrião. Mas também conheci lugares como Queimados e Belford Roxo que, mesmo sendo mais pobres, tem um certo charme, uma tranqüilidade que eu não consigo explicar. Talvez a explicação para esse charme esteja nas pessoas. Graças a esse trabalho eu posso dizer que redescobri as pessoas. Mesmo nos lugares mais pobres, como Cidade Deus e o Complexo do Alemão, as pessoas demonstravam uma falta de angústia, um bom humor, uma sensação de estar felizes com o que tem. E talvez esse seja o grande segredo do bem viver: ser feliz com o que se tem.
A carreata em Belford Roxo foi muito divertida. Perecia o desfile de um trem elétrico durante o Carnaval. Uma multidão seguindo os carros. Um grupo de motoqueiros da região abrindo caminho. E eu me diverti muito com tudo aquilo. Também foi muito excitante participar do comício no Complexo do Alemão. Esse lugar sempre provocou arrepios na minha imaginação. Pois ali, na região hoje pacificada, eu me senti totalmente à vontade. Fiz muitas fotos dos moradores, conversei com as pessoas. E paquerei muito os rapazes do lugar. Eu percebi que o comício, para eles, foi como um evento, um acontecimento na comunidade. Observei que eles tinham se preparado para receber os políticos ali presentes. Além do Peregrino estavam Antony e Clarissa Garotinho. Então os moradores do Alemão vestiram suas melhores roupas, calçaram seus melhores sapatos, deram o melhor de si. Reparei também, que a última moda entre os meninos do subúrbio, é fazer as sobrancelhas. Fiquei impressionado com a quantidade de homens de sobrancelhas depiladas no subúrbio do Rio. Até os milicianos de Campo Grande depilam as sobrancelhas. É mole, ou quer mais?
Ao descrever o comício no Complexo do Alemão, no blog da campanha, eu destaquei o clima de evento social dos moradores e descrevi suas roupas, seu comportamento, suas sobrancelhas depiladas. E acabei sendo incompreendido pelo candidato Fernando Peregrino, que mandou um e-mail me criticando. “Por favor, mude esse texto imediatamente. Isso aqui é um blog político e não uma coluna social!” Peregrino é um cara super legal e sempre valorizou o meu trabalho. Eu expliquei que, para os moradores da região, aquele tinha sido sim, um evento social, por isso aquele nosso encontro merecia um tratamento como se fosse da coluna da Hilde. E ele acabou aceitando meus argumentos.
A zona oeste também me provocou surpresas por sua beleza e encanto, mas também por suas mazelas. Santa Cruz e Campo Grande me deram uma deliciosa sensação de espaço. Tudo me pareceu espaçoso, largo, distante. O verde ainda marca uma presença muito forte em toda a região e isso é muito bacana. Mas lá é uma região totalmente dominada pela milícia. E eu tive a oportunidade de conhecer uns milicianos bem de perto. Certo dia houve um comício num clube em Campo Grande. Enquanto Peregrino dircursava lá dentro, eu e Rogério ficamos do lado de fora, já que o clube estava lotado. Mesmo lá fora, havia muita gente. E esse acúmulo de pessoas nos eventos de que participávamos nos dava a sensação que íamos conseguir levar a eleição para o segundo turno. O que acabou não acontecendo. Aproveitando o movimento ali fora, notei um grupo de rapazes bonitinhos conversando na praça que ficava em frente ao clube. Todos vestiam calças e camisetas pretas. Camisetas estilo “mamãe tô forte”, que realçavam os músculos trabalhados em academias. Eu olhei para eles. Eles olharam para mim. “Galãs da zona oeste”, pensei. Fui ficando logo animado e interessado em fazer novas amizades. Rogério percebeu minha animação e me deu um toque imediatamente. “Cuidado com esses caras, Waldir. Eles são milicianos!”. Só então olhei mais atentamente e percebi que, o que eles carregavam na cintura, não eram capangas. Eram pistolas.
Um deles, que parecia o líder, me cumprimentou com um gesto com a mão. Eu respondi com um sorriso perverso e sedutor, achando excitante estar diante do perigo. Enquanto isso Rogério me dava toda a ficha do bofe. “O nome desse cara que te cumprimentou é Ângelo, conhecido aqui na área como Anjinho. Ele é o chefe da milícia aqui da região. Quem quiser ter van, tem que pagar taxa pra eles. Está vendo aquele ponto de táxi, ali do outro lado? Quem quiser parar ali, tem que pagar taxa pra eles. Esses bares e restaurantes aqui da região... Todo mundo paga taxa de segurança para o Anginho. Se não pagar eles fecham o bar. Esse Anginho é mau pra caramba!” Enquanto Rogério me contava os bastidores da vida urbana em Campo Grande um carro da polícia se aproximou e parou diante do grupo de milicianos. Os milicianos se aproximaram do carro da polícia, trocaram algumas palavras e muito sorrisos, depois o carro da polícia foi embora como se nada tivesse acontecendo. “Parece que a relação deles com a polícia é a melhor possível”, disse eu a Rogério, que deu um sorriso malicioso e retrucou. “Waldir, só existe milícia onde tem polícia. Esse Anginho também é policial. Ele tirou licença da polícia, pra se dedicar a milícia”.
Nesse dia, quando estávamos saindo do comício, já no automóvel que nos traria de volta para a zona sul, Anginho se aproximou do nosso carro. Estávamos eu, no banco do carona, Rogério na direção e, no banco de trás, Fernando Peregrino e sua esposa Edir. Anginho botou a cabeça dentro do carro e eu pude vê-lo bem de perto. Bonito, ar de garotão e as sobrancelhas depiladas lhe davam um ar de Cristiano Ronaldo do subúrbio. “Queria cumprimentar o senhor, candidato. E dizer que aqui na zona oeste está tudo certo, está tudo sob controle.” Nós ficamos estupefactos com a audácia do bofe. “Vocês viram que atrevimento?”, perguntei a todos. “É por essas e por outras que, caso eu ganhe a eleição, quero que a sede do governo seja na zona oeste, para acabar com a folga dessa gente”, respondeu o candidato, aborrecido com aquele constrangimento.
O Rio de Janeiro continua sendo!
Para quem, como eu, vive enfurnado em Ipanema, esse trabalho foi um aprendizado e, ao mesmo tempo, um prazer. A gente sempre acaba achando que, além da zona sul, é tudo favela e lugares pobres. Não é bem assim. No subúrbio tem bairros muito bacanas, com aspecto civilizado, ruas arborizadas, com casas com quintal e jardim. Houve um dia que nós estávamos indo fazer um comício em Senador Camará e, até chegar lá, passamos por vários bairros e eu olhava curioso por todos os lados, vendo as ruas arborizadas, os prédios e casas de classe média, o comércio civilizado, etc. De repente, eu me virei para o motorista e perguntei: “Ué? Cadê as favelas dessa cidade?” Rogério, o nosso motorista, deu uma gargalhada. “Tá pensando que a zona norte é só favela, Waldir? Esse é o mal de todo mundo que mora na zona sul. Acha que depois do túnel só tem favela...”
Rogério é um cara incrível. Profissional, trabalhador, boa gente. Um cara sensacional. Ele tem um profundo conhecimento da zona norte. Sabe tudo sobre os lugares, as ruas, as pessoas. Uma verdadeira enciclopédia. E quando ele percebeu que eu estava interessado em conhecer aquele mundo maravilhoso que se descortinava à minha frente, ele me deu verdadeiras aulas sobre os bairros da zona norte. Eu já conhecia a região da Vila Militar, em Realengo, que é um dos lugares mais lindos da cidade, com suas ruas largas e arborizadas, e suas construções de uma arquitetura refinada. Mas, graças a esse trabalho, e o auxílio luxuoso de Rogério, eu conheci toda a região: Padre Miguel, Magalhães Bastos, Marechal Hermes, Bento Ribeiro e Rocha Miranda. Fiquei particularmente impressionado com um bairro chamado Vila Valqueire. Não sei porque, mas o nome desse bairro me dava a idéia de um lugar pobre, carente. Mas, não é nada disso. Vila Valqueire parece o Leblon. Só não tem a praia!
Bangu também me impressionou muito bem. Lá tem muitas ruas só de casas, sem prédios. Casas com jardim, quintal, em ruas bem asfaltadas e cheias de árvores. O verde dando um clima bucólico ao lugar. Eu olhava aquela paisagem com ares de espanto, enquanto Rogério rolava de rir. “O Rio de Janeiro é muito lindo, Waldir. Você é que precisa sair mais da zona sul!”, ele dizia, com ares de anfitrião. Mas também conheci lugares como Queimados e Belford Roxo que, mesmo sendo mais pobres, tem um certo charme, uma tranqüilidade que eu não consigo explicar. Talvez a explicação para esse charme esteja nas pessoas. Graças a esse trabalho eu posso dizer que redescobri as pessoas. Mesmo nos lugares mais pobres, como Cidade Deus e o Complexo do Alemão, as pessoas demonstravam uma falta de angústia, um bom humor, uma sensação de estar felizes com o que tem. E talvez esse seja o grande segredo do bem viver: ser feliz com o que se tem.
A carreata em Belford Roxo foi muito divertida. Perecia o desfile de um trem elétrico durante o Carnaval. Uma multidão seguindo os carros. Um grupo de motoqueiros da região abrindo caminho. E eu me diverti muito com tudo aquilo. Também foi muito excitante participar do comício no Complexo do Alemão. Esse lugar sempre provocou arrepios na minha imaginação. Pois ali, na região hoje pacificada, eu me senti totalmente à vontade. Fiz muitas fotos dos moradores, conversei com as pessoas. E paquerei muito os rapazes do lugar. Eu percebi que o comício, para eles, foi como um evento, um acontecimento na comunidade. Observei que eles tinham se preparado para receber os políticos ali presentes. Além do Peregrino estavam Antony e Clarissa Garotinho. Então os moradores do Alemão vestiram suas melhores roupas, calçaram seus melhores sapatos, deram o melhor de si. Reparei também, que a última moda entre os meninos do subúrbio, é fazer as sobrancelhas. Fiquei impressionado com a quantidade de homens de sobrancelhas depiladas no subúrbio do Rio. Até os milicianos de Campo Grande depilam as sobrancelhas. É mole, ou quer mais?
Ao descrever o comício no Complexo do Alemão, no blog da campanha, eu destaquei o clima de evento social dos moradores e descrevi suas roupas, seu comportamento, suas sobrancelhas depiladas. E acabei sendo incompreendido pelo candidato Fernando Peregrino, que mandou um e-mail me criticando. “Por favor, mude esse texto imediatamente. Isso aqui é um blog político e não uma coluna social!” Peregrino é um cara super legal e sempre valorizou o meu trabalho. Eu expliquei que, para os moradores da região, aquele tinha sido sim, um evento social, por isso aquele nosso encontro merecia um tratamento como se fosse da coluna da Hilde. E ele acabou aceitando meus argumentos.
A zona oeste também me provocou surpresas por sua beleza e encanto, mas também por suas mazelas. Santa Cruz e Campo Grande me deram uma deliciosa sensação de espaço. Tudo me pareceu espaçoso, largo, distante. O verde ainda marca uma presença muito forte em toda a região e isso é muito bacana. Mas lá é uma região totalmente dominada pela milícia. E eu tive a oportunidade de conhecer uns milicianos bem de perto. Certo dia houve um comício num clube em Campo Grande. Enquanto Peregrino dircursava lá dentro, eu e Rogério ficamos do lado de fora, já que o clube estava lotado. Mesmo lá fora, havia muita gente. E esse acúmulo de pessoas nos eventos de que participávamos nos dava a sensação que íamos conseguir levar a eleição para o segundo turno. O que acabou não acontecendo. Aproveitando o movimento ali fora, notei um grupo de rapazes bonitinhos conversando na praça que ficava em frente ao clube. Todos vestiam calças e camisetas pretas. Camisetas estilo “mamãe tô forte”, que realçavam os músculos trabalhados em academias. Eu olhei para eles. Eles olharam para mim. “Galãs da zona oeste”, pensei. Fui ficando logo animado e interessado em fazer novas amizades. Rogério percebeu minha animação e me deu um toque imediatamente. “Cuidado com esses caras, Waldir. Eles são milicianos!”. Só então olhei mais atentamente e percebi que, o que eles carregavam na cintura, não eram capangas. Eram pistolas.
Um deles, que parecia o líder, me cumprimentou com um gesto com a mão. Eu respondi com um sorriso perverso e sedutor, achando excitante estar diante do perigo. Enquanto isso Rogério me dava toda a ficha do bofe. “O nome desse cara que te cumprimentou é Ângelo, conhecido aqui na área como Anjinho. Ele é o chefe da milícia aqui da região. Quem quiser ter van, tem que pagar taxa pra eles. Está vendo aquele ponto de táxi, ali do outro lado? Quem quiser parar ali, tem que pagar taxa pra eles. Esses bares e restaurantes aqui da região... Todo mundo paga taxa de segurança para o Anginho. Se não pagar eles fecham o bar. Esse Anginho é mau pra caramba!” Enquanto Rogério me contava os bastidores da vida urbana em Campo Grande um carro da polícia se aproximou e parou diante do grupo de milicianos. Os milicianos se aproximaram do carro da polícia, trocaram algumas palavras e muito sorrisos, depois o carro da polícia foi embora como se nada tivesse acontecendo. “Parece que a relação deles com a polícia é a melhor possível”, disse eu a Rogério, que deu um sorriso malicioso e retrucou. “Waldir, só existe milícia onde tem polícia. Esse Anginho também é policial. Ele tirou licença da polícia, pra se dedicar a milícia”.
Nesse dia, quando estávamos saindo do comício, já no automóvel que nos traria de volta para a zona sul, Anginho se aproximou do nosso carro. Estávamos eu, no banco do carona, Rogério na direção e, no banco de trás, Fernando Peregrino e sua esposa Edir. Anginho botou a cabeça dentro do carro e eu pude vê-lo bem de perto. Bonito, ar de garotão e as sobrancelhas depiladas lhe davam um ar de Cristiano Ronaldo do subúrbio. “Queria cumprimentar o senhor, candidato. E dizer que aqui na zona oeste está tudo certo, está tudo sob controle.” Nós ficamos estupefactos com a audácia do bofe. “Vocês viram que atrevimento?”, perguntei a todos. “É por essas e por outras que, caso eu ganhe a eleição, quero que a sede do governo seja na zona oeste, para acabar com a folga dessa gente”, respondeu o candidato, aborrecido com aquele constrangimento.
O Rio de Janeiro continua sendo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário