23.3.11

O pudor é tão necessário aos prazeres que é preciso conservá-lo mesmo nos momentos destinados a perdê-lo.


A AMANTE DA CHINA - Uma vida incrível lindamente romanceada pelo escritor Ian Buruma. Uma fascinante história real contada através do olhar de personagens fictícios. Assim é o livro A amante da China, que conta a trajetória da atriz e cantora Yoshiko Yamaguchi, uma bela artista japonesa da Manchúria que teve um papel crucial na vida cultural da China moderna. A história é narrada sob o ponto de vista de três homens diferentes, atravessando importantes momentos históricos como a Segunda Guerra, até os efervescentes anos 70. O livro está chegando às livrarias num lançamento da Editora Record.


Na Manchúria da década de 1930, Yoshiko Yamaguchi chega ao estrelato numa série de filmes feitos para celebrar a ocupação japonesa na China. Sob o pseudônimo de Ri Koran, a japonesa Yamaguchi criou sensação em melodramas retratando o romance entre uma doce camponesa chinesa e um heróico capitão de navio japonês. A carreira de Yamaguchi como instrumento de propaganda militar continuaria forte até a rendição japonesa, em 1945. Mas a atriz percebeu bem antes do fim da guerra o terrível papel que teve como agente de propaganda japonesa e passou a vida devastada pela culpa.


Sua incrível trajetória ganha vida em A amante da China, um épico que engloba cinco décadas da conturbada história moderna japonesa. E nos conta uma história real através do olhar de personagens fictícios. O autor usa os eventos da singular trajetória de vida de Yamaguchi como metáfora para a mutante identidade do país: da ditadura militar a ruína do pós-guerra e, finalmente, uma potência economicamente robusta, recuperada e rejuvenescida.


Aqui, o autor aborda de forma singular a heroína, dividindo sua biografia em três partes. Cada uma narrada por um homem diferente, traçando um paralelo com uma fase diferente da ressurreição japonesa. Yamaguchi reconstruiu sua carreira das cinzas da Segunda Guerra. Primeiro como estrela de filmes pro-americanos no Japão. Depois como atriz de Hollywood, sob a alcunha de Shirley Yamaguchi, homenagem a Shirley Temple. Mais tarde se tornaria uma repórter engajada em denunciar causas sociais e se envolveria com um terrorista japonês. E teve tempo, ainda, para virar uma deputada de esquerda, casada com um político de prestígio.


O livro trata, também, do papel do cinema na história japonesa, tanto como alicerce cultural quanto como ferramenta política usada por exércitos. Primeiro pelos japoneses na ocupação da China e depois pelos americanos no Japão. Mais do que uma viagem pela história da Ásia, A amante da China é uma jornada pelas aspirações de uma mulher múltipla tentando se encontrar. Um belo romance literário de narrativa inteligente, capaz de dar conta de importantes detalhes históricos sem perder sua delicada veia literária.

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