29.7.11

UMA LÁGRIMA PARA O MARACANÃ







Com o pretexto de fazer uma simples reforma, demoliram o Estádio do Maracanã. Aquele Maracanã, o bom e velho Maracanã, de tantas glórias do futebol brasileiro, nunca mais será o mesmo. Quem viu, viu. Quem não viu, não vai ver nunca mais. É triste. Muito triste. Ontem estive na Audiência Pública promovida pelo Ministério Público Federal para questionar as obras de demolição. Na audiência foi exibido um vídeo mostrando como será o novo Maracanã. "Parece um shopping center!", gritou um torcedor do Vasco. Todo calcado num, digamos, "padrão europeu", o "novo Maracanã" vai ter áreas totalmente climatizadas, escadas rolantes, bares sofisticados, e tudo o que um moderno shopping center possui. "Eu não quero área climatizada", disse um torcedor, quando chamado a dar o seu depoimento. "Eu quero assistir ao jogo em pé, de preferência na geral, sentindo o calor do verão". Foi aplaudido pelo público presente ao auditório do MPF, na Avenida Nilo Peçanha.





Sim, queridos leitores! Torcedores, frequentadores do Maracanã, foram convocados pelo Procurador Maurício Andreiulo Rodrigues (um cara jovem e bonitão) a discutir a reforma do Estádio Mario Filho, com o engenheiro responável pela obra, Ícaro Moreno Júnior, o presdiente da Sociedade dos Engeneheiros e Arquitetos (SEAERJ) Eduardo Koning, e o Superintendente do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) Carlos Fernando Andrade, que autorizou a reforma, mesmo sendo o Maracanã um imóvel tombado. Ricardo Teixeira, o gangster que preside o Comitê Organizador da Copa foi convocado, mas não apareceu. Assim como a Ministra da Cultura Ana Buarque.





A combativa vereadora Sonia Rabello também participou da mesa de debates, já que ela tem feito críticas severas a demolição do Maracanã. Sonia Rabello já foi diretora do IPHAN e é a maior autoridade no Brasil em Tutela Jurídica de Patrimônio Histórico e Cultural. Além disso ela é uma respeitada professora de Direito da UERJ e o Procurador Andreiulo foi seu aluno e fez questão de citar essa informação na abertura dos trabalhos. Sonia Rabello foi muito aplaudida ao criticar a falta de transparência nas decisões relativas a Copa do Mundo. E quis saber por que uma reforma desse porte no estádio, já que o mesmo havia passado por uma grande reforma cinco anos atrás, por ocasião dos jogos Panamericanos.





Em sua explanação o engenheiro Ícaro Moreno Júnior realmente convenceu a platéia que a arquibancada do Maracanã estava muito corroída e precisava ser derrubada. Segundo ele, ao longo dos anos, o concreto foi corroído pela água da chuva e também pela urina dos torcedores. (Essa afirmação me remeteu a uma das imagens mais sexies da arquibancada do Maracanã quando, em jogo lotado, os torcedores realmente mijam em qualquer lugar...) "Mas se a arquibancada precisava ser derrubada, que se construa outra igual no mesmo lugar", lembrou um charmoso vascaíno, com a voz embargada. "Não é possível fazer outra do mesmo jeito", disse o engenheiro. E sabem por que? Fazer igual leva muito tempo e não daria para cumprir o prazo determinado pela FIFA. A alternativa é fazer de um outro jeito, pois assim será mais rápido.





A interferência da FIFA na descaracterização do Maracanã provocou tumulto na Audiência. O representante do movimento negro Nayt Júnior rodou a baiana. "É um absurdo a exagerada interferência da Fifa no futebol brasileiro. Todos os anos nós organizamos um campeonato brasileiro, abrangendo todo o território nacional. Será que não temos capacidade de organizar uma Copa do Mundo?". Nayt Júnior concorda que a FIFA faça determinadas exigências. Mas defende a idéia de que os conceitos da instituição se adaptem ao país que está sediando a Copa.





Carlos Fernando, do IPHAN, foi muito criticado por ter autorizado a demolição. Em alguns momentos ele chegou a ser vaiado. Mas, os melhores momentos da Audiência foram protagonizados pelos torcedores. Sempre que chamados a se pronunciar eles falavam de seus momentos de felicidade no Maracanã. Muitos começaram a frequentar o estádio ainda crianças, levados pelos pais. E cresceram vibrando nas arquibancadas, torcendo pelos seus times. "É a nossa imagem que é usada quando querem divulgar a alegria do futebol. Mas na hora de reformar o estádio ninguém quis saber de consultar a torcida", disse um torcedor com a voz embargada, segurando o choro.





O fato é que o Governador Sergio Cabral e o Prefeito Eduardo Paes são os grandes responsáveis pela derrubada do Maracanã. Eles poderiam ter negociado com a FIFA o cumprimento das exigências da Instituição, sem precisar descaracterizar o estádio. Mas foram subservientes e estão se aproveitando das exigências da FIFA para angariar fundos para as próximas eleições. O fato é que, aquele visual do Maracanã, que os cariocas viam do alto do Pão de Açucar, não vai mais existir. Aquele cartão postal que era uma referência do Rio de Janeiro para o mundo inteiro acabou. Aquele templo do futebol brasileiro (uma espécie de Capela Sistina do futebol) já era. Em seu lugar vai ser construído uma "arena" multiuso, possível de ser adaptada para shows de rock e outros grandes eventos. Mas a torcida carioca não quer saber de nada disso. Quer é o Maracanã de volta. O bom e velho Maracanã, com sua geral, com cadeiras duras, com o teto descoberto. Mas isso agora é um sonho. Não mais vai existir.





O Maracanã foi derrubado. E os torcedores de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo vão lembrar disso na próxima eleição. Ora se vão...


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