24.11.11

Quando eu era bem pequeno me fizeram aquela pergunta clássica “o que você quer ser quando crescer?” E eu, do alto de meus cinco anos, disse: “Quero ser homem casado.” Todos riram daquela minha frase, porque imaginaram uma resposta como ‘quero ser bombeiro’, policial ou qualquer outra coisa, menos homem casado. Bom, meus pais não se preocuparam com aquilo. E sempre contavam a história em tom de piada. Eu nunca entendia a graça da piada; e só hoje, depois de dois casamentos fracassados, consigo entender o que tem de hilário naquele meu desejo infantil. Eu sempre quis ser o chefe de uma família feliz, pois era assim que eu via a minha própria família. Uma ilha cercada de felicidade por todos os lados. Tudo era perfeito, apesar dos percalços normais que por vezes desestabilizavam aquela felicidade reinante na ilha, ou seja, na família.





O tempo passou e eu casei com a mãe de meu filho, ainda na faculdade. Éramos o casal cult da PUC no início dos anos 1980. Nosso filho nasceu logo, em 1982, em plena Copa do Mundo de Futebol. Aquela Copa foi disputada na Espanha e eu, como um bom viciado em futebol, queria ver todos os jogos. Fui forçado a mentir para minha esposa, e disse que estava fazendo hora extra no jornal em que trabalhava na época. Eu era responsável por render minha sogra que ficava com o nosso filho todos os dias para que pudéssemos trabalhar. E os jogos da Copa eram justamente no horário em que eu tinha de chegar para liberá-la. Resultado: a mãe dela passou a ficar até mais tarde para me esperar. Pronto, minha Copa estava salva, só não sabia que no final o Brasil seria desclassificado pela Itália do modo como foi, jogando melhor. Futebol tem isso que nenhum outro esporte tem – nem sempre vence o time que joga melhor. E foi assim naquela Copa de 1982 vencida pela Itália. O Brasil era muito melhor, e jogava um futebol bonito de se ver.





O tempo não parou e casei novamente, desta vez nasceu uma menina. Assim como no nascimento do meu filho, em 1992 o Vasco da Gama, meu time de coração, também foi campeão carioca. Hoje meu filho continua sendo vascaíno e isso é motivo de muito orgulho para mim. Minha filha foi contaminada pela família de sua mãe e hoje em dia torce pelo Flamengo. Isso poderia ser motivo de profunda tristeza para mim. Mas sei que um dia ela vai acordar desse pesadelo preto e vermelho em que vive. Nesse ano meu time está demais. O Vasco já ganhou a Copa do Brasil, está em segundo no campeonato brasileiro e ainda tem chance de ganhar a Copa Sul Americana. Se isso acontecer será um feito inédito; nunca um clube brasileiro venceu essas competições em um mesmo ano. Ah preciso dizer que me casei pela terceira vez. O relacionamento começou devagar, sem muita pretensão e hoje em dia não sei como viver sem essa mulher. Não tenho filho com ela, mas sinto muito carinho pelos filhos dela. Eles não são vascaínos, mas respeitam a minha forma doente de torcer pelo Vasco.





Dizem que o terceiro casamento é o melhor de todos, e eu tive a felicidade de comprovar isso.Muitos não passam do primeiro casamento por preguiça de descasar, e eu até entendo. Todos querem ter prazer, mas ninguém quer ter trabalho. Vivemos a era do hedonismo e da falta de confiança. Ameaças constantes para qualquer relacionamento, oficializado ou não.Eu sou feliz na maioria das horas, e ainda bem que sou triste de vez em quando. Sem experimentar tristeza uma pessoa não pode saber se está feliz ou não.Eu que sempre quis ser homem casado, hoje sou feliz como nunca fui porque hoje tenho a mulher que amo. E olhem a coincidência: ela torce pelo Vasco!





Zeca Fonseca



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