MORA NA FILOSOFIA – Chove sem parar
e faz frio desde o feriado. Tempo bom para ficar em casa lendo meus livros. Leio
vários ao mesmo tempo. Não consigo esperar acabar um, para começar o outro. Em
“Poesia e Filosofia” Antonio Cícero disserta sobre como as (nem tão) novas
tecnologias se apropriam do nosso tempo. E esse é um dilema que vivo
atualmente. Sinto culpa por ficar mais tempo na internet do que lendo meus livros.
Deixo de ir ao cinema para ficar no Facebook com meus amigos. Sobre isso, Cícero assim escreve:
“Vivemos numa época que – com a
internet, os computadores, os celulares, os tablets, etc – experimenta o
desenvolvimento de uma tecnologia que tem, entre outras coisas, o sentido manifesto
de acelerar tanto a comunicação entre as pessoas quanto a aquisição, o
processamento e a produção de informação. Seria, portanto, de esperar que,
podendo fazer mais rapidamente o que fazíamos
outrora, tivéssemos hoje à nossa disposição mais tempo livre. Ora, ocorre
exatamente o oposto: quase todo mundo se queixa de não ter mais tempo para
nada. Na verdade, o tempo livre parece ter encolhido muito.”
Pois é. Esse é o meu dilema com
relação à vida moderna. Vivo sendo vítima de bullying (odeio essa palavra!) entre
meus amigos e no ambiente de trabalho por que não ando com telefone celular. “Como
pode um jornalista andar sem celular?”, me perguntou, incrédulo, o marido de
uma amiga. Ai que saco!, pensei, sorrindo amarelo para ele. Detesto celular! Mas
reconheço que, em determinadas situações, ele é muito útil. Mas não sou dessas
pessoas que levam o celular quando vão à praia. Para mim, isso é uma heresia.
Ir à praia é um ritual sagrado e não permito que nada me interrompa. Simples
assim. É na praia, olhando para o mar, que consigo pensar sobre o mundo e refletir sobre a vida. É na praia que consigo filosofar. Assim falou Antonio Cícero:
“Se, portanto, há pouco, eu
tivesse me perguntado se pensar sobre o mundo é sempre filosofar, então eu
agora responderia que, sempre que se
entende por “mundo” a totalidade do pensável considerada enquanto totalidade, “pensar
sobre o mundo” é filosofar. Contudo, o que me perguntei há pouco foi se pensar
o mundo é sempre filosofar. Ora, nessa pergunta, a abolição da preposição
sugere a abolição da separação e da
mediação entre o pensamento e a coisa
pensada. É como se o pensamento não ficasse
sobre, isto é, acima ou, de algum modo, fora do mundo, para pensá-lo. É como se
apreendesse o mundo enquanto pensamento ou o pensamento enquanto mundo.”
Que tal?
O livro “Poesia e Filosofia” é
sensacional. Cícero (olha o nome dele!) é um filósofo de verdade. Como David
Hume, o empirista escocês que estudei este semestre na Faculdade. Para Hume a
fonte de todo o conhecimento humano é a observação do que já existe. Assim, a
fonte dos juízos morais que fazemos é o mundo que observamos. É a experiência,a
vivência, a história. Seu principal livro é uma obra épica: Tratado da natureza
humana. Logo na introdução ele critica os demais filósofos e suas metodologias
e descarta toda e qualquer possibilidade da religião como referencia filosófica.
Cícero e Hume me aquecem nesse
inverno...
Quem me faz relaxar dos delírios filosóficos é o inglêns Glen Duncan com seu livro “O último lobisomem”, um desses
romances em que o autor quer apenas divertir o leitor e não exige dele nenhuma
reflexão intelectual. Ufa! É a história de Jake Marlowe, o último sobrevivente
de sua espécie, vivendo em pleno século 21. Agora com 200 anos, Jake está
cansado de viver. O mundo, para ele, está muito repetitivo e monótono. Para
quem viveu intensamente toda a glória e a tragédia do século 20, esse novo século
não apresenta nada de especial. Todos de sua espécie foram mortos, caçados por
uma irmandade secreta especializada em exterminar lobisomens. E ele, por ser o último,
não quer mais contaminar ninguém. Está decidido a viver intensamente seus últimos
dias. Sabe que seus inimigos estão fechando o cerco e que a bala de prata que o
matará está muito mais perto do que imagina. Acontece que, quando Jake está pronto
para se deixar morrer, o inesperado acontece em sua vida: ele se apaixona. Encontra
um grande amor. E essa é uma boa razão para lutar pela sobrevivência...