26.7.12


A POESIA DE ANTONIO CÍCERO - Ele é o grande poeta brasileiro do nosso tempo e acaba de lançar um novo livro com sua poesia límpida e refinada. São poemas existencialistas, que falam de perdas, de pessoas que já se foram, mas que trata a vida como ela é: um poema. Porventura. Esse advérbio é o título poético que Cícero escolheu para nomear sua coletânea que trata de saudades e maturidades. Nos seus dois primeiros livros de poesia, Guardar, de 1996, e A cidade e os livros, de 2002, os poemas transmitiam um frescor juvenil que, nesse terceiro volume, foi substituído por pitadas de ternura, melancolia e doses de gratidão. O poeta se mostra grato à vida por tudo o que viu e viveu. Como no poema que tem o singelo nome de "Valeu". Os versos de "Na praia" nos revela uma saudade de um passado tão próximo, quanto eterno. Em Porventura o poeta se revela um filósofo que declara o seu amor à vida.



Valeu

Vida, valeu
Não te repetirei jamais




Muro

E se um poema opaco feito muro
te fizer sonhar noites em claro?
E se justo o poema mais obscuro
te resplandecer mais que o mais claro?




Aparências

Não sou mais tolo não mais me queixo:
enganassem-me mais desenganassem-me mais
mais rápidas mais vorazes e arrebatadoras
mais volúveis mais voláteis
mais aparecessem para mim e desaparecessem
mais velassem mais desvelassem mais revelassem mais re
velassem
mais

eu viveria tantas mortes
morreria tantas vidas
jamais me queixaria
jamais




O fim da vida

Conhece da  humana lida
a sorte:
o único fim da vida
é a morte
e não há, depois da morte
mais nada
Eis o que torna essa vida 
sagrada:
ela é tudo e o resto, nada




Na praia

Na praia - parece que foi ontem -
ficávamos dentro d´água eu,
Roberto, Ibinho, Roberto  Fontes
e Vinícius, a água era um céu,
e voávamos nas ondas trans-
parentes, deslizantes, do azul 
mais profundo do fundo ciã
do oceano Atlântico do sul.
Mas era outro século: Roberto
morreu, morreu Vinícius, Roberto
Fontes quase nunca vejo, e Ibinho
casou e mudou. Já não procuro
o azul. Os mares em que mergulho
são os homéricos, cor de vinho. 



Madonna vem aí...

 

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