23.1.14



MEU QUERIDO NELSON  - Fiquei muito emocionado com a morte do meu querido Nelson Motta, que os amigos chamavam de Nelsão. Um homem notável. Uma pessoa adorável. Sinceramente, me sinto um privilegiado, por ter tido a sorte de conviver com ele e sua adorável família. Ele foi um grande advogado, um profissional bem sucedido, um pai de família exemplar, um homem bom e honrado. Eu o conheci logo que mudei para o Rio, por ter me tornado amigo de suas filhas Graça e Maria Cecília. E ele, com sua mulher, Cecília, que todos chamam de Xixa, sempre receberam muito bem os amigos dos filhos. Quando os conheci eles já moravam numa linda casa no Gávea, com dois andares e um amplo jardim, que tinha até um riacho que passava lá dentro. Quantos momentos agradáveis eu ali vivi. Tinha um pedaço do jardim onde havia uma clareira, com árvores frondosas. Eu gostava de sentar no banco que ali havia e ficar ouvindo o ruído do riacho...

Dona Cecília cuidava da casa com muito carinho, com muito apreço. Ali era, realmente, um ninho de amor. Eu conseguia perceber isso claramente. Nelson e Cecília se amavam muito e aquela casa exalava o amor que sentiam um pelo outro. Era uma casa grande, exatamente para ter muito espaço para os filhos, os netos, e os amigos dos filhos e dos netos. Foram casados durante setenta anos...

Nos primeiros tempos a gente ia lá e fazia a maior farra. Gente bacana como Maria  Carmem Barbosa, Babita Mendonça, Cazuza, Arnaldo Brandão, Helena Gastal, Alexandre Agra, Serginho Amado, Sergio Maciel, Euclydes Marinho e tantos outros músicos, atores e escritores. Eles gostavam de receber artistas.  Do lado direito do jardim havia um enorme estúdio-biblioteca com piano, teclado, imensas prateleiras de livros, revistas, quadros e livros de arte. E a galera se reunia ali e trocava informações, jogava conversa fora, compunha músicas, fazia poesias, bolava roteiros e bebia muito porque no bar sempre havia bebida farta. Mesmo antes de conhecê-los, quando eles moravam em Copacabana, eles já recebiam em casa o pessoal da bossa-nova para saraus. Dona Cecília toca piano muito bem. Ela gosta muito de música e é grande fã do João Donato.

Eles deixavam todos muito à vontade, mas, de vez em quando apareciam no estúdio e pediam para o pessoal evitar os excessos. (E às vezes, realmente, aconteciam excessos. Afinal, éramos todos jovens com alma de artista...) Mas sempre com muito carinho e sempre incentivando o talento e a criatividade de todos. Aos poucos, fui aprendendo a admirá-los e, quanto mais eu os conhecia, mais gostava deles.

Os melhores natais da minha vida eu passei na casa do Nelson e da Cecília. Todos os anos eles promoviam uma linda ceia de Natal em que reuniam toda a família. E, sempre que estava no Rio, nesta época, eu ia passar o Natal com eles. E era sempre tão agradável, e feliz e alto astral! Eu achava lindo o amor deles dois, a harmonia, o carinho que sentiam um pelo outro. O modo como eles preparavam tudo para receber os filhos e os netos. O único que não era da família era eu.

“Vavá, meus pais te adoram”, me disse algumas vezes minha amiga Graça Motta. E a recíproca sempre foi verdadeira. Eu também os adoro.

Na época em que eu trabalhava no Jornal do Brasil foi lançado um filme sobre Dom Hélder Câmara. Antes do filme estrear nos cinemas, a produtora me mandou uma cópia em CD para que eu fizesse uma reportagem para o jornal. Vi o filme e logo liguei para o Nelson, já que ele foi amigo de Dom Hélder. Contei que o filme era sensacional e tinha imagens incríveis. Ele quis ver e eu deixei a cópia com ele. Dias depois, dona Cecília me ligou pra avisar que já tinham visto o filme e me convidaram para um almoço. E naquele dia almoçamos apenas nós três. Dona Cecília mandou a cozinheira preparar algo muito especial e um excelente vinho como era comum naquela casa.  Então conversamos muito sobre o filme. Eles falaram o quanto tinham ficado emocionados. E me contaram detalhes da convivência com Dom Hélder, na época em que fundaram o Banco da Providência, cujos estatutos foram redigidos pelo advogado Nelson Motta.  Depois de muita conversa eles foram descansar e eu fui mergulhar na piscina.

As lembranças que guardo dele são sempre ligadas a bons sentimentos. A sua generosidade como patriarca. O seu amor pela Cecília. Bons papos. Bons conselhos. A sensibilidade como ser humano. Sua gentileza...  Poxa vida! Eu poderia escrever um livro sobre ele.

Descanse em paz, querido Nelson. Que Deus o tenha num lugar muito especial...  



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