A
HORA E A VEZ DE DIRA PAES – Em entrevista concedida a jornalista Roni
Filgueiras, para a revista ELLE, que está nas bancas, a atriz Dira Paes diz “achei
que a TV não era o meu meio por estar fora dos padrões estéticos”. Adoro Dira Paes.
Eu me tornei seu fã desde que a vi, ainda menina, no filme A floresta de esmeraldas,
obra-prima dirigida por John Boorman.
A
floresta de esmeraldas é o melhor filme, já produzido até hoje, que tem por
tema a destruição da natureza pelo homem. Na época em que foi lançado, 1985,
falar do meio-ambiente não era moda. Ninguém falava em preservação da natureza.
As pessoas viviam como se o planeta Terra fosse uma fonte inesgotável de
maravilhas para deleite do ser humano. Mas John Boorman foi um visionário e
realizou um filme contundente sobre os excessos do homem na sua obsessão
capitalista de transformar os recursos do planeta em dinheiro.
Como
já disse, o filme é uma obra-prima. Merecia ser visto e revisto pelas novas
gerações. E Dira Paes está lá, linda e talentosa, fazendo uma menina índia
por quem o jovem protagonista do filme, interpretado pelo ator Charley Boorman, o filho do diretor, que a menina Dira acabou namorando, na vida real. John Boorman dirigiu clássicos do cinema como Amargo Pesadelo, Zardoz e Excalibur.
O
fato de ter estreado no cinema pelas mãos de um grande diretor premiado duas vezes em Cannes não foi
exatamente um cartão de visitas irrecusável para a atriz. Depois do filme, ela
se mudou de Belém para o Rio a fim de tentar carreira artística, mas as coisas
não foram fáceis. Dira ficou anos e anos na batalha, ganhando pouco, sendo
esnobada pela grande indústria brasileira de diversões. Mas ela sempre foi
guerreira, profissional e, o melhor de tudo, uma pessoa tranquila. Sempre soube
que o que era dela estava guardado e que seu destino era ser atriz. Mas, se a
TV não lhe deu espaço, o cinema brasileiro nunca lhe deixou faltar trabalho.
Conheci
Dira Paes na época em que eu era assistente do Antonio Calmon, na TV Globo. Ela
estava trabalhando no espetáculo Capitães da Areia, que tinha no
elenco os meninos André Gonçalves, Lui Mendes e Pedro Vasconcelos, que são meus amigos.
Fui assistir a peça e quando a vi por ali não resisti. “Sou seu fã, adorei você
no filme do John Boorman. Aquele filme é uma obra-prima”. Ela ficou surpresa
por eu ainda lembrar que ela tinha feito o filme. Então perguntei porque ela
não estava na Globo se ela tinha um filme do John Boorman em seu currículo. Dira
sorriu e me disse: “Nem todo mundo é como você e reconhece a importância
daquele filme. A maioria das pessoas nem se lembra que fiz o filme do Boorman”,
disse, com serenidade.
Acabamos
ficando amigos. A gente se encontrava sempre na praia, no Posto Nove. Eu a
achava belíssima e adorava vê-la saindo do mar de Ipanema com seu corpo molhado
refletindo os raios do sol. Lembro que certa vez eu a encontrei no Baixo Gávea
com uma minissaia, toda bonita, e a beleza da moça, mais uma vez, me impactou. Como
eu trabalhava com o Antonio Calmon, sempre que havia uma oportunidade eu
sugeria o nome da atriz para o elenco das produções escritas por ele. E o
Calmon sempre me respondia: “na minha novela não tem papel de índia”. Aquilo me deixava
indignado. Sempre achei Dira Paes dona de uma beleza tipicamente brasileira. Seus
traços indígenas são apenas um charme a mais.
Um
belo dia a TV Globo divulgou que ia fazer um remake da novela Irmãos Coragem. Na
primeira vez que a encontrei no Posto Nove depois dessa notícia chamei a atriz num
canto e disse pra ela. “Dira a Globo vai fazer um remake da novela Irmãos
Coragem. E nessa novela um dos principais personagens femininos é uma índia. A índia
Potira. Se tem uma índia na novela, então é você quem tem que fazer esse papel”.
Lembro até hoje da expressão doce do seu rosto quando lhe disse isso. Ela não
tinha visto a novela original e não sabia da personagem. “Você tem que procurar
a produção da Globo. Leva uma cópia do filme do John Boorman, e diz que você
quer fazer um teste para o papel da índia Potira”. Dito e feito. Dira procurou
a produção da novela. Acabou sendo recebida pelo diretor Luiz Fernando Carvalho
que já foi dizendo que tinha uma outra atriz em mente para o papel da Potira. Mesmo
assim ele fez um teste e Dira acabou ganhando o papel. Até hoje ela me agradece
por ter lhe dado essa dica.
Logo
depois de Irmãos Coragem sugeri o nome de Dira Paes para fazer o papel de
Madalena, a protagonista da novela Salsa e Merengue, de Miguel Falabella e Maria
Carmem Barbosa. Foi uma dificuldade muito grande para chegar ao nome da atriz
que faria a heroína da novela. Todo o elenco já havia sido escolhido, mas ninguém
havia chegado a consenso sobre quem seria a atriz ideal para o papel da mocinha, uma
jovem que saía de uma cidadezinha às margens do Rio São Francisco e vinha morar
no Rio, na fictícia comunidade da Vila Vintém. Um belo dia foi feita uma reunião para decidir
quem ia fazer o papel. O diretor Wolf Maya havia testado algumas jovens atrizes e a
direção da Globo sugeriu alguns nomes do seu cast. No meio da reunião eu disse que achava que
o papel de Madalena devia ser feito por Dira Paes. Uma pessoa da produção
contestou minha sugestão. “Você enlouqueceu, Waldir? A Dira Paes não tem cacife
para ser a protagonista de uma novela. Dira Paes é um curumim”. E essa pessoa usou a palavra curumim para
ironizar os traços indígenas da beleza da atriz. Madalena acabou ganhando o
rosto e o corpo de Patrícia França, que fez muito bem o papel.
Tudo
na vida tem seu tempo e hora. Hoje Dira Paes está no auge da sua carreira. Tem o justo reconhecimento pelo seu trabalho de atriz. E também está com a sua beleza
tipicamente brasileira fazendo o deleite do público. Apenas acho que a TV Globo demorou muito para descobrir
que Dira Paes sempre teve de sobra aquilo que o Daniel Filho chama de “star
quality”. A qualidade da estrela!
Um comentário:
Mais uma historinha ótima! também gosto da Dira Paes, mas gosto cada vez menos das novelas e séries(nem vi essa do Cauã e dela) e só ligo a TV pra assistir Água Viva...não tá fácil pra ninguém, rs
Postar um comentário