2.2.14



A HORA E A VEZ DE DIRA PAES – Em entrevista concedida a jornalista Roni Filgueiras, para a revista ELLE, que está nas bancas, a atriz Dira Paes diz “achei que a TV não era o meu meio por estar fora dos padrões estéticos”. Adoro Dira Paes. Eu me tornei seu fã desde que a vi, ainda menina, no filme A floresta de esmeraldas, obra-prima dirigida por John Boorman.

A floresta de esmeraldas é o melhor filme, já produzido até hoje, que tem por tema a destruição da natureza pelo homem. Na época em que foi lançado, 1985, falar do meio-ambiente não era moda. Ninguém falava em preservação da natureza. As pessoas viviam como se o planeta Terra fosse uma fonte inesgotável de maravilhas para deleite do ser humano. Mas John Boorman foi um visionário e realizou um filme contundente sobre os excessos do homem na sua obsessão capitalista de transformar os recursos do planeta em dinheiro.

Como já disse, o filme é uma obra-prima. Merecia ser visto e revisto pelas novas gerações. E Dira Paes está lá, linda e talentosa, fazendo uma menina índia por quem o jovem protagonista do filme, interpretado pelo ator Charley Boorman, o filho do diretor, que a menina Dira acabou namorando, na vida real. John Boorman dirigiu clássicos do cinema como Amargo Pesadelo, Zardoz e Excalibur.

O fato de ter estreado no cinema pelas mãos de um grande diretor premiado duas vezes em Cannes não foi exatamente um cartão de visitas irrecusável para a atriz. Depois do filme, ela se mudou de Belém para o Rio a fim de tentar carreira artística, mas as coisas não foram fáceis. Dira ficou anos e anos na batalha, ganhando pouco, sendo esnobada pela grande indústria brasileira de diversões. Mas ela sempre foi guerreira, profissional e, o melhor de tudo, uma pessoa tranquila. Sempre soube que o que era dela estava guardado e que seu destino era ser atriz. Mas, se a TV não lhe deu espaço, o cinema brasileiro nunca lhe deixou faltar trabalho.

Conheci Dira Paes na época em que eu era assistente do Antonio Calmon, na TV Globo. Ela estava trabalhando no espetáculo Capitães da Areia, que tinha no elenco os meninos André Gonçalves, Lui Mendes e Pedro Vasconcelos, que são meus amigos. Fui assistir a peça e quando a vi por ali não resisti. “Sou seu fã, adorei você no filme do John Boorman. Aquele filme é uma obra-prima”. Ela ficou surpresa por eu ainda lembrar que ela tinha feito o filme. Então perguntei porque ela não estava na Globo se ela tinha um filme do John Boorman em seu currículo. Dira sorriu e me disse: “Nem todo mundo é como você e reconhece a importância daquele filme. A maioria das pessoas nem se lembra que fiz o filme do Boorman”, disse, com serenidade.

Acabamos ficando amigos. A gente se encontrava sempre na praia, no Posto Nove. Eu a achava belíssima e adorava vê-la saindo do mar de Ipanema com seu corpo molhado refletindo os raios do sol. Lembro que certa vez eu a encontrei no Baixo Gávea com uma minissaia, toda bonita, e a beleza da moça, mais uma vez, me impactou. Como eu trabalhava com o Antonio Calmon, sempre que havia uma oportunidade eu sugeria o nome da atriz para o elenco das produções escritas por ele. E o Calmon sempre me respondia: “na minha novela não tem papel de índia”. Aquilo me deixava indignado. Sempre achei Dira Paes dona de uma beleza tipicamente brasileira. Seus traços indígenas são apenas um charme a mais.

Um belo dia a TV Globo divulgou que ia fazer um remake da novela Irmãos Coragem. Na primeira vez que a encontrei no Posto Nove depois dessa notícia chamei a atriz num canto e disse pra ela. “Dira a Globo vai fazer um remake da novela Irmãos Coragem. E nessa novela um dos principais personagens femininos é uma índia. A índia Potira. Se tem uma índia na novela, então é você quem tem que fazer esse papel”. Lembro até hoje da expressão doce do seu rosto quando lhe disse isso. Ela não tinha visto a novela original e não sabia da personagem. “Você tem que procurar a produção da Globo. Leva uma cópia do filme do John Boorman, e diz que você quer fazer um teste para o papel da índia Potira”. Dito e feito. Dira procurou a produção da novela. Acabou sendo recebida pelo diretor Luiz Fernando Carvalho que já foi dizendo que tinha uma outra atriz em mente para o papel da Potira. Mesmo assim ele fez um teste e Dira acabou ganhando o papel. Até hoje ela me agradece por ter lhe dado essa dica.

Logo depois de Irmãos Coragem sugeri o nome de Dira Paes para fazer o papel de Madalena, a protagonista da novela Salsa e Merengue, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Foi uma dificuldade muito grande para chegar ao nome da atriz que faria a heroína da novela. Todo o elenco já havia sido escolhido, mas ninguém havia chegado a consenso sobre quem seria a atriz ideal para o papel da mocinha, uma jovem que saía de uma cidadezinha às margens do Rio São Francisco e vinha morar no Rio, na fictícia comunidade da Vila Vintém.  Um belo dia foi feita uma reunião para decidir quem ia fazer o papel. O diretor Wolf Maya havia testado algumas jovens atrizes e a direção da Globo sugeriu alguns nomes do seu cast. No meio da reunião eu disse que achava que o papel de Madalena devia ser feito por Dira Paes. Uma pessoa da produção contestou minha sugestão. “Você enlouqueceu, Waldir? A Dira Paes não tem cacife para ser a protagonista de uma novela. Dira Paes é um curumim”.  E essa pessoa usou a palavra curumim para ironizar os traços indígenas da beleza da atriz. Madalena acabou ganhando o rosto e o corpo de Patrícia França, que fez muito bem o papel.


Tudo na vida tem seu tempo e hora. Hoje Dira Paes está no auge da sua carreira. Tem o justo reconhecimento pelo seu trabalho de atriz. E também está com a sua beleza tipicamente brasileira fazendo o deleite do público. Apenas acho que a TV Globo demorou muito para descobrir que Dira Paes sempre teve de sobra aquilo que o Daniel Filho chama de “star quality”. A qualidade da estrela!



Um comentário:

Patrícia disse...

Mais uma historinha ótima! também gosto da Dira Paes, mas gosto cada vez menos das novelas e séries(nem vi essa do Cauã e dela) e só ligo a TV pra assistir Água Viva...não tá fácil pra ninguém, rs

Madonna vem aí...

 

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