CRIMES E PECADOS – Nunca assisti
a um filme do Woody Allen que eu não pudesse chamar de obra-prima. Inclusive
todos que foram estrelados por Mia Farrow, como Simplesmente Alice, A Outra, A
era do rádio, Setembro e Crimes e Pecados. Tenho grande admiração pelo cineasta
e tenho acompanhando com perplexidade e cinismo toda essa confusão envolvendo
seu nome, que veio à tona depois que sua filha adotiva escreveu uma carta ao
site do New York Times acusando o diretor de ter praticado abuso sexual quando
ela era criança.
Não acredito que seja verdade. Woody
Allen me passa muito mais credibilidade do que Mia Farrow. Sei que o assunto é
delicado e ninguém mais do que as pessoas envolvidas deveriam estar discutindo
esse assunto. Mas foi a filha adotiva Dylan Farrow quem começou. No momento em
que o cineasta foi homenageado pelo Globo de Ouro e está indicado ao Oscar, ela
trazer esse assunto novamente à tona, de forma tão crua, é por que ela está
querendo que o assunto seja discutido. Dylan não é mais uma menina de sete
anos. Ela agora é uma mulher adulta e quer se vingar do seu pai adotivo. Em sua
resposta às acusações, Allen sugere que a carta de Dylan deve ter sido escrita
pela própria Mia. (Sabiam que o verdadeiro nome da Mia é Maria de Lourdes?)
Anos atrás, quando estava em Nova
York, eu encontrei Monique, uma velha amiga que morava por lá. Ela é uma pessoa
muito divertida e sempre foi muito rebelde. Certa vez, enquanto passeávamos no
Central Park, Monique me contou uma história que nunca esqueci. Ela me disse
que quando tinha sete anos estudava num colégio de freira. Ela não gostava de
viver ali e detestava as freias. Então, um dia, quando seus pais foram visitá-la,
a pequena Monique bolou um plano para se livrar do colégio. Quando a freira foi
buscá-la, no seu quarto, Monique começou a bater sua própria boca contra a
quina da porta. Bateu várias vezes, até seus lábios começarem a sangrar. Depois
começou a fingir que estava chorando e correu em direção aos seus pais gritando
que a freira lhe tinha dado um soco na boca. Os pais, diante daquela menininha
linda, de cabelos loiros, chorando com a boca ensangüentada, não tiveram dúvida
que ela tinha mesmo levado um soco. “A freira se fudeu e meus pais nunca mais
quiseram saber de me botar em colégio interno”, me confessou Monique, às
gargalhadas.
Não sei o por quê, mas Dylan Farrow me
lembra muito minha amiga Monique!
Sempre achei muito esquisita essa
mania de Mia Farrow adotar crianças. Entre legítimos e adotados, ela tem
quatorze filhos. Como uma pessoa pode cuidar de quatorze filhos? Ter um único
filho já demanda muito cuidado, muita atenção, muita energia de uma mãe. Imagine
quatorze filhos! Vamos supor que fosse verdade, que a pequena Dylan tivesse
mesmo sido vítima de um abuso. Não seria o caso de perguntar onde estava a mãe
dela? Sete anos é uma idade em que uma mãe tem a obrigação de monitorar todos
os passos de uma filha. Com quatorze filhos, será que uma mãe tem como fazer
isso? Ela parece ter sido negligente no quediz respeito ao bem estar dos seus
filhos.
A gente sempre tem que lembrar
que essa história do suposto abuso sexual aconteceu em meio a separação do
casal. Já vi tantos casais que se amavam, se adoravam e que, depois de um
briga, uma separação, devotam um ao outro o mais venenoso dos ódios. Nem antes,
nem depois, jamais surgiu nenhuma outra alegação sobre a conduta do diretor. “O
céu conhece a fúria de uma mulher rejeitada”, costumava escrever Paulo Francis
em sua saudosa coluna Diário da Corte. Acredito que essas acusações façam parte
de uma vingança de uma amante rejeitada. Mia, Maria deLourdes, nunca deve ter
assimilado a separação. Ter sido trocada por uma mulher mais jovem, é sempre
doloroso para qualquer mulher. No caso da Mia foi muito pior. A mulher mais
jovem era sua filha adotiva deum casamento anterior com o maestro André Previn.
E tem mais. Não podemos esquecer que ela é uma atriz. E ao perder o
companheiro, Mia perdeu também seu diretor. Durante o casamento ela
protagonizou alguns dos melhroes filmes de sua carreira. Com a separação, nunca
mais ela fez um grande filme. Com Woody ela fazia um grande filme praticamente
todos os anos.
Esse é ou não um bom motivo para
que uma atriz se transforme num pote até aqui de mágoas?
Em sua defesa publicada no New
York Times Woody Allen sugere que a raivosa carta de Dylan deve ter sido
escrita pela própria Mia. “E se fosse com sua filha Cate Blanchet?” É possível.
Mia deve estar morrendo de inveja de Cate Blanchet, indicada ao Oscar pelo
papel principal no filme Blue Jasmine. Mia deve estar pensando: “Se ele ainda
fosse casado comigo, certamente eu teria feito o papel de Blue Jasmine e eu estaria
sendo indicada ao Oscar”. Ao citar Cate
Blanchet na carta, Mia certamente espera que os membros da academia não votem na
colega. Acredito que ela seja má o suficiente para fazer isso. Só uma pessoa
movida por muito ressentimento seria capaz de expor uma filha a uma situação tão
constrangedora como ela expôs. Mesmo que o abuso fosse verdade, expor a criança
da forma como ela sempre expôs, só faz tornar tudo mais doloroso para a própria
vítima. E, me parece, que prejudicar Woody Allen é, para ela, mais importante
do que manter o bem estar dos seus filhos.
Sempre fui fã de Mia Farrow e vou
continuar sendo. Já gostava dela quando, ainda criança, a via na TV, no seriado
A Caldeira do Diabo. Ela está magnífica em dois dos meus filmes favoritos: O
Bebê de Rosemary e O Grande Gatsby. E tem também Terror Cego, Cerimônia de
Casamento, Cerimônia Secreta e Jonh and Mary.
Também sou fã do Woody Allen e
vou continuar sendo. Agora mais do que nunca. Não vejo a hora de assistir seu
próximo filme. Toda essa baixaria só fez com que eu gostasse ainda mais de
ambos. Afinal, eles estão protagonizando um filme divertidíssimo. Só que na
vida real.
Um comentário:
Arrasou, Waldir!
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