O desprezo é a forma mais sutil de vingança.
TEMPO NUBLADO - O último sábado de fevereiro foi trágico para um estudante de engenharia elétrica de Bauru, em São Paulo, que morreu numa festa, por ingestão excessiva de álcool. Ele tinha apenas 23 anos. Soube através do noticiário, mas senti a morte dele como se fosse alguém de minha família. Poxa vida! A vida já é tão arriscada. Mas a juventude nos oferece muito mais perigo, talvez por conta da impetuosidade própria da idade. Essa época da Universidade é tão incrível. As descobertas, os estudos, as novas perspectivas de vida. Tudo isso mexe muito com a sensibilidade dos jovens. E fazer farra com os colegas é uma das melhores coisas desse período da vida, em que a gente acha que tá ficando adulto e, só muito depois descobre que adulto é algo que não existe. A tendência do ser humano é ser uma criança desprotegida até o fim.
Vendo a tragédia do estudante de Bauru lembrei das farras com os colegas nos meus tempos da PUC. As festas, as noitadas, os agitos. Vivi intensamente e fui muito feliz. Mas, hoje, olhando para trás, eu percebo os enormes riscos que corri junto com meus colegas de turma. Sempre fui um aluno disciplinado e estudioso. Amava profundamente a universidade e meus colegas de então. E me sentia amado por eles.
Na sala de aula a gente vai conhecendo os colegas aos poucos. Você acaba falando com todo mundo, mas uns acabam ficando mais amigos que outros. Na minha turma tinha uma garota chamada Anete que era a mais bonita da sala. Ou melhor, era a mais bonita de toda a universidade. Era a coisa mais linda do mundo. Os garotos babavam por ela. Eu falava com ela normalmente, mas me sentia um pouco intimidado com a sua beleza. E certa vez, numa aula, o professor sugeriu que os alunos fizessem comentários uns sobre os outros. E ficou todo mundo comentando o que achava dos colegas. E quando chegou na vez de Anete ela falou: "Eu acho o Waldir o cara mais legal da nossa turma". Só faltei morrer de felicidade. Até hoje fico feliz quando lembro dessa história. Considero um dos momentos gloriosos da minha existência. É claro que a partir daí ficamos amigos, mas, pouco tempo depois ela mudou para os Estados Unidos.
Escrevia sempre para Anete e ela ficava feliz com isso. Respondia minhas cartas dizendo o quanto sentia falta do Brasil, que não tinha amigos no Texas, que eu era o único que escrevia para ela. E eu nunca deixava de escrever cartas, contando o que estava acontecendo no Brasil. Ou então mandava postais com as imagens do Rio de Janeiro, para ela matar saudades. Tudo isso foi antes da internet e todas essas incríveis ferramentas de comunicação. Depois a roda viva da vida acabou nos afastando. Anete casou, nossas cartas foram ficando mais raras, o tempo passou. E nunca mais eu tive noticias de Anete.
Outro dia precisei pegar uns documentos na PUC, para aproveitar alguns créditos para o curso de Filosofia, que faço atualmente na UFRJ. Fazia tempo que eu não visitava o campus. E quando cheguei lá, fiquei olhando o movimento da garotada. Lembrando dos bons momentos que ali vivi com meus antigos colegas. Não consegui evitar as lágrimas. Chorei sem parar...
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