CINEMA É A MAIOR DIVERSÃO - "Ter apresentado o filme no festival foi uma experiência incrível. Toda aquela plateia reunida foi algo que eu não esperava. Estou atordoado até agora", disse o diretor Geneton Moraes Neto depois da exibição do seu filme"Cordilheiras no mar: a fuga do fogo bárbaro", no Festival do Rio. Geneton é cineasta desde garoto. Foi um dos mais importantes nomes do Movimento do Cinema Super-8, em Recife, na década de 70, junto com Amin Stepple, Paulo Cunha, e muitos outros. São os "herdeiros" desse movimento que estão fazendo o premiado cinema pernambucano dos dias de hoje.
"Cordilheiras no mar" é um filme sobre Glauber Rocha. Mas não é sobre o cineasta e seus filmes. É filme sobre política. Que tal? Visionário e à frente do seu tempo, quando voltou do exílio Glauber passou a defender publicamente a ideia que os próprios militares iriam promover a chamada abertura política no Brasil. Buscou uma aproximação com o Ernesto Geisel e falava com simpatia de uma ala mais liberal das Forças Armadas que governava o país. Por causa de suas ideias ele foi muito criticado e perseguido por artistas e intelectuais brasileiros. O jornal O Pasquim publicou que ele tinha se vendido aos militares. Que tinha ganhado milhões para fazer um filme e por isso estava defendendo os militares. Isso não era verdade. Ela falava apenas sobre algo em que acreditava. E que depois acabou acontecendo. Foram os próprios militares quem promoveram a abertura no Brasil.
A partir desse conflito ideológico, o filme mergulha no modo confuso e excessivamente radical com que as diferenças políticas são vividas dentro da sociedade brasileira. Inteligente e sagaz, Geneton usa um momento histórico muito específico da vida brasileira, para fazer uma crítica severa e doce ao momento político atual. Uma crítica severa por que ele vai fundo na sua teoria de que tanto direita, quanto esquerda, centro e as demais alternativas chafurdam na mesma lama. Uma crítica doce porque, para fazer isso, ele criou uma significativa e singela obra de arte. Touche!
Na sessão de estreia no Festival do Rio uma plateia que viveu de perto a efervescência daquele momento político que é retratado no filme. Estavam lá o editor do Pasquim, Jaguar, que o filme mostra como o principal algoz do cineasta. Caetano Veloso, que o conhecia desde os tempos de juventude na Bahia e dá um depoimento curioso e divertido sobre a agonia de Glauber depois que começou a ser menosprezado pelos intelectuais brasileiros. Atores icônicos do cinema glauberiano como Antonio Pitanga, Ana Maria Magalhães, Paulo César Pereio e Othon Bastos, além de parentes do cineasta como a filha Paloma e a irmã Lúcia. Na tela as presenças de Miguel Arraes, Francisco Julião, Reis Veloso, Cacá Diegues, Fagner e o ator Cláudio Jaborandy, que dá voz ao diretor de Terra em Transe representando trechos de suas cartas e entrevistas.
Yes, ainda é possível fazer um filme político como nos velhos tempos!
Outro filme empolgante, exibido na sequência foi o documentário "André Midani, do vinil ao download", sobre o produtor de discos franco-argelino radicado no Brasil, responsável pela produção de alguns dos discos mais significativos da MPB. Foi filmado de uma maneira bastante original pelo cineasta Andrucha Waddington e tem um elenco de peso formado pela nata da MPB: Caetano, Gil, Marcos Valle, Benjor, Marisa Monte, Ney Matogrosso, Frejat, Milton e etc... Além disso tem imagens raras, como Betânia e Gal, jovens, magras e gostosas, cantando Oração de Mãe Menininha, num espetáculo de 73. Midani se emociona e emociona a plateia quando relembra momentos significativos da história da nossa música. E faz todo mundo rir quando conta como Raul Seixas o intimou a cheirar uma fileira de cocaína. Mas o filme não tem apenas depoimentos. Tem vários números musicais improvisados, criados especialmente para o filme.
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