CALADA NOITE PRETA - Ao final da sessão de estreia do musical VAMP, o musical, um espectador cumprimentou o diretor Jorge Fernando pelo espetáculo e ele respondeu: "Daqui a um ano a peça vai estar perfeita". Exigente, o diretor que teve um AVC durante a montagem, certamente conseguiu perceber as falhas do espetáculo. Por exemplo: quem não assistiu a novela vai ter dificuldade em entender a história da peça. Falta clareza ao roteiro, no sentido de contar uma história com início, meio e fim. Não fica claro também a presença de alguns personagens dentro da história, como Mary Matoso, Miss Penn Taylor, Matosão e Matosinho. Outra coisa: algumas soluções cênicas, como troca de cenários, são mal resolvidas. Faltou criatividade e bom senso a produção do espetáculo. É claro que todas essas falhas podem (e devem) ser corrigidas ao longo da temporada. Por isso Jorge Fernando disse que daqui a um ano a peça vai estar perfeita. O roteiro e os diálogos podem contar a história com mais clareza. E os problemas cênicos podem ser resolvidos com criatividade e talento.
VAMP é um espetáculo cheio de qualidades. Dá a impressão que foi feito originalmente para o teatro, devido exatamente as possibilidades cênicas que o texto apresenta. É um excelente espetáculo para toda a família, com muito humor, irreverência e boa música. Desde as músicas originais da novela, como "Noite Preta", de Vange Leonel, "Sympathy for the devil" dos Rolling Stones e "Thriller", de Michael Jackson, até as músicas feitas originalmente para o espetáculo, todas funcionam muito bem. São excelentes os números musicais com banda ao vivo. E os bailarinos também dão um show à parte, executando com competência as criativas coreografias.
No que diz respeito à parte musical, vale registrar o modo inteligente e bem sucedido como o espetáculo utiliza a música "Noite Preta", que foi o marcante tema de abertura da novela. A música é apresentada várias vezes, com arranjos diferentes e originais. Além disso há uma linda interpretação de Claudia Ohana. A forma como a música é utilizada serve como uma grande homenagem a saudosa cantora, compositora e líder feminista Vange Leonel, autora e intérprete da canção. Homenagem mais do que merecida, já que a canção coube perfeitamente na novela, assim como agora cabe com perfeição ao musical.
O elenco é uniforme e todos atuam para que Ney Latorraca e Claudia Ohana possam brilhar. Ney é puro carisma e presença de palco. Sua entrada na primeira cena já conquista e provoca o público. Durante um número de plateia ele arranca gargalhadas com sua irreverência e seus improvisos. Quando está descendo do palco, para morder o pescoço de alguém na plateia, ele para no meio da escada, encara o público e diz: "Isso aqui não é um fim de carreira. É um início!". Então é ovacionado pela audiência.
Durante a pré-produção do espetáculo outras atrizes chegaram a ser cogitadas para o papel de Natasha. Os produtores acreditavam que Natasha deveria ser interpretada por uma atriz jovem. Mas os fãs da novela bombardearam a produção com mensagens de protesto, alegando que nenhuma outra atriz poderia fazer o papel de Natasha. E os fãs estavam cobertos de razão. Vinte e cinco anos depois da novela, Claudia Ohana volta deslumbrante ao mais importante papel de sua carreira. Ela dá sangue novo a cantora que vende sua alma ao vampiro Vlad em troca do sucesso na música pop. La Ohana está estupenda como a personagem criada por Antônio Calmon, inspirado em Madonna. Foi ouvindo o álbum "The imaculate colletion" que Calmon deu vida a Natasha, personagem que fez história na TV e que agora, como toda boa vampira, se mostra eterna, renascendo com vigor, vinte e cinco anos depois, no palco de um musical.
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