POESIA EM TUDO - Uma
comovente narrativa sobre a fragilidade humana diante da peste que se abateu
sobre o planeta. São dias terríveis. Dor, sofrimento e nenhuma luz no fim do
túnel. Sem perder a elegância, o senso ou o equilíbrio, Christovam de Chevalier faz um poderoso registro da vida frente à tragédia
da pandemia. Em seu novo livro, “Inventário de esperanças e outros poemas”, que
está chegando às livrarias, o autor conta o que viu e o que tem vivido nesses
dias estranhos. A cada novo trabalho se mostrando um poeta cada vez mais
refinado, Chevalier surpreende e comove ao transformar a dor e a agonia desses
tempos assombrosos em pepitas raras em forma de versos e estrofes. Com o olhar
de um historiador atento ao mundo à sua volta ele não deixa escapar nada. O
susto, a dor, a amargura, a solidão, o pavor, a perplexidade. Sem medo de ser lírico,
em tudo e em todos ele descobre um motivo para fazer poesia. Cada momento de perplexidade lhe serve
de inspiração para traduzir a vida real em versos de palavras buriladas.
Um
dia, quando essa época terrível for apenas uma lembrança perdida no tempo, o
livro de Chevalier poderá ser lido como o inventário de uma época em que a
humanidade viveu como se estivesse na terceira guerra mundial.
“Inventário”
é um livro cheio de vida, mas a morte é um personagem que está sempre à
espreita. Como tem sido na vida desses perturbadores anos 20. E assim, num capítulo com clima de Sociedade dos Poetas Mortos, ele
celebra alguns que já partiram deixando um rastro de poesias como herança: Caio
Trindade, Marcos Vinícius Quiroga, Aldir Blanc e Jorge Salomão.
Na
quarentena imposta pela pandemia, que o levou a passar uma temporada numa
fazenda no interior de Minas Gerais, ele criou versos que transmitem ao leitor o
clima gostoso da vida no campo e o aproxima de Drummond, mito definitivo dos poetas brasileiros.
Em
seu esperançoso inventário, Chevalier encontra uma razão poética para todos os
sentidos da vida. Há poesia na tragédia política em que vivemos, no circo que
nos lembra que a vida é um sopro e nos singelos sopros de vida que a existência
nos concede. Há poesia na saudade dos amigos que partiram, nos amores que nos
alimentam a alma e no lirismo escondido das pequenas coisas do cotidiano.
Saborear
a obra poética de Christovam de Chevalier é uma experiência literária fascinante.
canto de misericórdia
Há em mim uma prece
que precisa ser escutada.
Algo que, mudo, fenece
como a alma fustigada.
Há em mim uma prece
aguda, clara, bianca
céu anil que escurece
vala aberta na garganta.
Há em mim uma prece
não uma nem duas; mil
algo que me fortalece
imenso como o Brasil.
Canto que anoitece
que de mim resvala.
Há em mim uma prece
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