COMPAY SEGUNDO, o músico cubano de 95 anos, que morreu essa semana, é uma lembrança muito grata que eu tenho de Havana. Em janeiro do ano passado, quando estive em Cuba participando da Feira do Livro, tive a oportunidade de assistir uma apresentação de Compay Segundo. Na abertura da feira, depois de um daqueles longos discursos, Fidel Castro chamou Compay Segundo e seus músicos para o palanque. Foi então que o charmoso velhinho levou a multidão ao delírio ao tocar a mais autêntica música cubana. Foi lindo e inesquecível.
O show de Compay Segundo, na Feira do Livro, foi uma das mais singelas lembranças que guardei de Cuba. Ter a oportunidade de ver Fidel Castro de perto também foi muito legal. Afinal, ir a Cuba e não ver Fidel Castro é algo como ir a Disney e não ver o Mickey. Mais do que o ditador, ele é o Mickey de Cuba. Talvez seja esse o segredo da longevidade de sua ditadura. Ele acabou se tornando uma atração turística do país. Como a torre Eiffel é para Paris.
Guardo ótimas lembranças da ilha. O pôr-do-sol no Malecon, com o mar batendo nas pedras e indo molhar a calçada. Os porres no La Bodeguita. Os passeios pelo centro de Havana. A velha Havana, com seus prédios históricos. A rumba, o mambo e o cha cha cha que brotavam de todos os lugares. Os passeios nos automóveis dos anos 40. A viagem num antigo avião russo. Sem esquecer do incrível charme dos muchachos cubanos. Ah! Os bofes cubanos...
A semana passada eu assisti, no canal TNT, uma reprise do filme Os Reis do Mambo e fiquei cheio de nostalgia, com relação à Cuba. O filme tem belos números musicais e uma saborosa participação de Célia Cruz. Ela é uma cantora incrível, cheia de energia, um símbolo da música cubana. Já assisti esse filme várias vezes e cada vez gosto mais.
A ditadura cubana nega aos cidadãos do país o direito de ir e vir. Os cubanos vivem confinados no seu próprio país. Isso os deixa com uma visão muito particular do estrangeiro. O mundo, além dos limites da ilha, torna-se muito mais distante e inacessível. Então eles se apegam muito a quem vem de fora. Eles buscam criar raízes e laços, como uma maneira de, dessa forma, ter um pouco do mundo lá fora. Percebe-los assim foi uma coisa que me deixou muito triste.
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