18.7.03




A palavra é metade de quem a pronuncia, metade de quem a ouve.


GAIVOTA FOREVER – A histórica boate gay Gaivota reabriu neste sábado no lugar onde era a antiga Freedom. A Gayvota, como os antenados gostam de falar, surgiu no auge da ditadura militar e marcou a vida de toda uma geração de homossexuais cariocas. Suas domingueiras marcaram época, num tempo em que os costumes e a liberdade eram muito mais reprimidos.


Um amigo muito querido, lembra com nostalgia a primeira vez que foi a boate Gayvota, com 17 anos, em 1982. “Ainda estávamos nos estertores da ditadura militar, eu tinha 17 anos e entrava de carteira de identidade falsificada para 18 anos. De vez em quando, rolava uns fiscais do juizado de menores e eu e meu amigo montávamos um esquema para não sermos apanhados. Toda vez que entrava um fiscal (e eles eram inconfundíveis, com aqueles ternos mal cortados e mal ajambrados, óculos rayban de quinta), nós nos agarrávamos e ficávamos aos beijos. Eles eram muito caretas e jamais tinham coragem de abordar um casal de bibas aos beijos para pedir a carteira. O chato é que a gente acabava perdendo aquela pegação que tava rolando porque os carinhas imaginavam que eu e meu amigo éramos namorados."


O Rio de Janeiro sempre teve boates marcantes como Sótão e Katakombe mas a antiga Gayvota tinha seu charme especial. O lugar era um tanto quanto cafona, mas isso fazia parte do seu atrativo. A indefectível mesa de ping pong, onde as bolachas passavam a noite inteira jogando. Aliás, as brigas de mulheres eram quase uma marca do lugar. Assim como os decadentes e pobres shows de travestis. Quando a Gayvota fechou toda uma geração de gays, lésbicas e simpatizantes se sentiram órfãos da folia ingênua e pura que o lugar proporcionava. Por isso a reabertura da boate está sendo recebida com muito entusiasmo pelo público GLS da cidade.


Madonna vem aí...

 

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